Museu de Arte Sacra de Santos

Museu de Arte Sacra de Santos
Museu de Arte Sacra de Santos
Tipo igreja, museu
Inauguração 1981 (43 anos)
Página oficial (Website)
Geografia
Coordenadas 23° 56' 4.776" S 46° 20' 11.508" O
Mapa
Localização Santos - Brasil
Patrimônio bem tombado pelo IPHAN, bem tombado pelo CONDEPHAAT, Património de Influência Portuguesa (base de dados)

O Museu de Arte Sacra de Santos funciona no prédio do Antigo Mosteiro de São Bento. Fundado no ano de 1981, ocupa o complexo arquitetônico cujas obras iniciaram em 1º de janeiro de 1650, anexado à Igreja de Nossa Senhora do Desterro, construída no ano de 1631. O museu é considerado o segundo mais importante do Estado de São Paulo, dentro da sua especialidade. Divide-se em dez espaços temáticos, organizados em coerência com as atividades das antigas salas do Mosteiro. O acervo atual conta com mais de 600(400 em exposição) peças sacras e religiosas a partir do século XVI, incluindo imagens, como de Santa Catarina de Alexandria, de 1540; a de Nossa Senhora da Conceição, de João Gonçalo, mestre comparável ao Aleijadinho, de grande valor artístico; e de Santo Amaro, originário da Fortaleza da Barra Grande. Além disso, possui quadros valiosos, como os do artista Benedito Calixto; alfaias; oratórios, sendo que a maioria das obras é de origem brasileira, dos períodos colonial e imperial.

O Museu de Arte Sacra de Santos também possui coleção de máscaras ritualísticas e telas de artistas consagrados com temática não religiosa, além da Biblioteca “Frei Gaspar”, contando com mais de quatro mil títulos, incluindo a obra rara “Memórias para a História da Capitania de São Vicente” de 1793, do autor que dá nome à biblioteca. Pelo acervo estão espalhados artefatos de arte popular, outros utilizados pelos Bispos da diocese de Santos, e crucifixos da coleção particular (em prata, madeira, marfim e osso de baleia).

História

Para fundar o mosteiro foi preciso conseguir licença que foi concedida pela Câmara de Santos em 1649, confirmada em 1650. A doação feita por Bartholomeu Fernandes Mourão e sua mulher Isabel Barbosa estabeleceu a base econômica para o mosteiro, pois a Regra de Bento exige que haja recursos suficientes para que um mosteiro seja fundado. A fachada da ermida é voltada para o leste, tal como a do Monte Serrat. Não se sabe quem fez o projeto do mosteiro, mas ele tem grande semelhança com as plantas dos mosteiro da Bahia, em especial com o Mosteiro da Graça. De acordo com D. Clemente M. da Silva-Nigra, Fr. Gregório de Magalhães (1603-1667) projetou o mosteiro de Santos. Este apresenta os três arcos característicos da arquitetura beneditina tal como o mosteiro do Rio de Janeiro. Para D. José Lohr Endres, Fr. Gregório de Magalhães não foi o arquiteto, por nada constar na biografia deste Provincial, escrita por Fr. Tomás de Aquino, no livro fonte de 1767, Elogios dos gerais da Congregação Beneditina de Portugal.

A doação dos Mourão

Em um escrito que remonta o século XVII está registrada a instituição da Capela de N. Senhora do Desterro, que foi lavrada nos seguintes termos:

Declaramos que ambos marido e mulher por serviço de D.s e devoção particular que tínhamos a Virgem do Desterro, de comum consentimento começamos a fabricar-lhe a Ermida; conforme nossa posse e haveres fomos dando o aumento que foi possível e avimos por bem empregado o que de nossos bens gastamos em seu aumento, serviço e honra da dita Virgem. E para que sempre vá em crescimento e não em diminuição, ordenamos que nossas terças, de ambos, por falecimento nosso fiquem vinculadas a dita S. do Desterro e sua capela; e por falecimento de ambos a dita terça de ambos pertencente a dita capela ficará vinculada em nosso filho Antônio Fernandes Mourão, para que ele administre a dita terça; em proveito e bem da dita capela, ordenando-a, e augmentando-a sempre. E o que sobrar depois de ter bem ornada de todo o necessário, de ornamento e os ornatos para o culto divino, ele poderá gozar como coisa própria o que lhe deixamos para que assim com mais vontade augmente a terça da dita capela porque vá em crescimento. O que deixamos como obrigação de que por morte ou falecimento, a metade das terças dos seus bens a deixará vinculada à dita terça que deixamos por nosso falecimento a dita capela; e da outra metade fará e disporá como e porque quiser. “E acrescentam que assim ira ficando aos descendentes do filho na linha masculina” com a mesma obrigação de por seus falecimentos todos deixarão a metade de suas terças vinculadas a dita capela na maneira que declarada, e sendo que faltem herdeiros na linha masculina entrarão em tal caso herdeiras fêmeas com as mesmas obrigações lá declaradas “faltando sucessão” em tal caso deixarão nossos herdeiros a quem lhes parecer deixando-lhe os bens para augmento da dita capela com obrigações, que assim nosso filho como os mais que lhe cederem e emq.tº deixar a dita capela, serão uns e outros obrigados a nos mandar dizer três missas a cada mês a Nossa Senhora por nossas almas e pelas almas do purgatório com seus responsos sobre nossas sepulturas as quais missas serão ditas as terças, sábados e domingos. E assim mais se dirá uma missa cantada todos os anos à Assumpção de Nossa Senhora dos céus. Assinou por ambos que não sabiam fazer Ignácio Duarte em 11 do mês de abril de 1644.

Aspectos arquitetônicos

A fachada da igreja é simples, austera, com três arcos e três janelas de linhas retas, arrematada por um frontão retilíneo. A igreja de nave única, tendo à frente a galilé com três arcos e no fundo a sacristia, ocupa todo o lado direito da construção. A torre apoiada sobre o terceiro arco está na direção do corredor direito do claustro. Ao lado da igreja está anexo o mosteiro que consta de edificações retangulares, tendo ao centro o claustro, que serve admiravelmente como um centro distribuidor entre as diferentes áreas do mosteiro, sendo também área de circulação e lazer. Uma grande sala na frente, e, angulo esquerdo, uma grande cela: a do presidente com janelas para as duas fachadas: a frontal e a lateral. Neste lado, mais quatro celas e ao fundo, após uma área livre, outro quarto quase igual ao do presidente. Uma descrição de 1656 menciona que o claustro não era quadrado, mas interrompido por um grande penedo. Nos fundos da capela ficavam a cozinha e o alojamento dos escravos. Na frente do edifício já havia um terrapleno grande que servia de adro e que se ligava a várzea, em baixo, através de uma calçada. Refere-se o documento, ainda, a um ribeiro de água, do lado do poente e rodeando o edifício pelo sul, poente e nascente ficam montes bem altos. Segundo Azevedo Marques, o mosteiro foi reconstruído em 1725. Um documento do Arquivo do Mosteiro de S. Sebastião, na Bahia, intitulado Mapa de Santos, informa que a primeira pedra do convento foi a de 12 de outubro de 1725. Na verdade, o mosteiro sempre sofreu alterações, pela longa utilização do edifício, por causa das chuvas constantes da região, e da localização na subida do morro. Os materiais usados foram pedra e cal, utilizando-se técnica construtiva típica da região litorânea em muros e arcos feitos de alvenaria ciclópica. O botânico inglês William Jonh Burchell esteve em Santos em 1826 e fez dois belos desenhos no mosteiro, um de frente e outro lateral. Entre as outras informações, o trabalho de Burchell mostra o terrapleno diante do mosteiro, sem os muros atuais. A torre sineira, com as duas janelas românticas, tinha o coroamento em forma de pirâmide que lhe dava um elemento de leveza quebrando o aspecto maciço do conjunto, tornado harmonioso. Semelhantes a esse coroamento eram os das torres da antiga igreja do Pátio do Colégio em São Paulo e a igreja do mosteiro de São Bento da mesma cidade. Na igreja de Santos, de nave única, há um coro no fundo da mesma, cuja balaustrada é uma grade de delicado desenho oriental que pela flexibilidade lembra papel recortado chinês. A igreja possui dois púlpitos de granito trabalho harmonioso e de grande estética. Há quatro tribunas, duas lado a lado, cujas varandas repetem o motivo oriental da grade do coro. Duas tribunas são falsa pois antigamente, havia um corredor, retirado quando da restauração de 1979. A grade curva da "mesa de comunhão" repete o mesmo motivo delicado. Junto ao arco cruzeiro há dois altares laterais de fatura, estilo e valor desiguais. O arco cruzeiro é de estilo clássico apoiados em duas colunas finas, retas, de capitel singelo. O forro é côncavo, cinza-azulado. Mas, no livro das visitações há um documento de 1797, em que se pedem que sejam consertadas as goteiras do telhado "para que não se venha perder o belíssimo forro, que com tanta despesa e trabalho se fez , com a melhor perfeição". É a única menção que há sobre o "belíssimo forro" que, infelizmente, se perdeu sem que nada saibamos sobre seu autor ou mesmo o assunto. A informação era do Fr. Visitador, Fr. Luiz da Assunção, que seria mais tarde Provincial do Brasil. O retábulo do alta-mór é a peça mais importante da igreja. A igreja sofreu reformas grandes entre 1896 e 1898, provavelmente para levantar seu teto, para que fosse colocado o alta-mór barroco que teria vindo de São Paulo ou de Itú. Os técnicos tiveram o cuidado de deixar visível, do lado de fora, a marca da altura primitiva construção. À direita do retábulo uma placa atribui o mesmo pe. Jesuíno de Monte Carmello, notável pintor colonial e músico (* Santos, 1764; † Itu, 1819). Mário de Andrade pesquisou sobre este retábulo e não acredita que tenha sido obra de Fr. Jesuíno. É de estilo barroco cuidadosamente elaborado, elegante, com adornos florais, durado. A porta do sacrário mostra um pelicano bicando o próprio peito para alimentar os filhotes, figura simbólica do sacrifício de Cristo, pelos homens. O conjunto do retábulo é harmonioso, compondo um visual bonito e delicado que lhe dá um toque feminino.

Ligações externas

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