Michel Houellebecq, nascido Michel Thomas (Ilha da Reunião, 26 de fevereiro de 1956), é um escritorfrancês. Ficiconista, poeta, ensaísta, realizador, argumentista, Houellebecq é um dos mais traduzidos autores franceses contemporâneos, e também um dos mais controversos.[1] Michel Houellebecq é o enfant terrible da literatura francesa atual. Odiado e amado, os seus livros abordam sempre temas na moda e são altamente polémicos, porque ele tem sempre um ponto de vista iconoclasta sobre os problemas.[2]
Seus romances Partículas Elementares e Plataforma lhe valeram uma reputação internacional de provocador, embora sejam também frequentemente considerados como um sinal de renovação da literatura francesa. Com o livro La Carte et le Territoire, Michel Houellebecq recebeu o prêmio Goncourt de 2010, o mais prestigioso da literatura francesa.[3][4]
Michel Houellebecq (2008)
Biografia
É filho de Lucie Ceccaldi, médica anestesista francesa nascida na Argélia, e de René Thomas, instrutor de esqui e guia de alta montanha. Ele declara que os pais se desinteressaram rapidamente dele, sobretudo após o nascimento de uma meia-irmã. Assim, foram os avós maternos que o criaram, na Argélia. Com seis anos, mudou-se para França com a avó paterna, Henriette, cujo sobrenome adotou.
Após estudos num liceu em Meaux, entrou na classe preparatória para as grandes écoles, no Liceu Chaptal de Paris. Em 1975, começou a estudar no Institut national agronomique Paris-Grignon (INA P-G). Nesta escola, fundou a efêmera revista literária Karamazov, para a qual escreveu alguns poemas, e começou a realizar o filme intitulado Cristal de souffrance.
Saiu diplomado da escola em 1978, com a imprevista especialização em "Valorização do meio natural e ambiental".
Seu primeiro romance, Extensão do Domínio da Luta (Extension du domaine de la lutte), foi publicado em 1994. O livro contém o tema principal de seus romances: a miséria afectiva das pessoas em nossa época.
Partículas Elementares (Les Particules élémentaires) provocou uma tempestade nos meios literários, dentro e fora da França, em 1998. O romance foi chamado "pornográfico". De fato o livro dá toda margem a tais interpretações, na medida em que explicitamente descreve as aventuras sexuais do irmão do protagonista, com riqueza de detalhes, em situações típicas de filmes pornô. Evidentemente não é por essa razão que Houellebecq tem sido valorizado. Neste mesmo livro, sua discussão central não é o sexo, mas uma história do ser humano, da humanidade, ternamente elaborada e narrada de modo singular e, segundo alguns, absolutamente genial. Segundo outros, porém, Houellebecq "é o mais sobrevalorizado dos escritores a despontar na virada de século", utilizando-se de "todas as soluções de facilidade que os formulários das ficções mais vendidas têm presentemente a oferecer".[4]
Seu livro, A possibilidade de uma ilha, é também uma discussão sobre o que é o ser humano, tomando como premissa uma nova raça, os "neohumanos", como comentaristas da vida de seus antecessores clonados - sendo esta uma marca constante do autor. O livro não teve o efeito tsunami de Partículas Elementares, sendo menos incisivo - embora muito mais refinado do que aquele.
Com o seu livro "La carte et le territoire" (no Brasil, O Mapa e o Território; Record, 2012), lançado em setembro de 2010, venceu o prestigiado prêmio Goncourt.
Seu mais novo romance foi "Submissão". França, 2022. Depois de um segundo turno acirrado, as eleições presidenciais são vencidas por Mohammed Ben Abbes, o candidato da chamada Fraternidade Muçulmana. Carismático e conciliador, Ben Abbes agrupa uma frente democrática ampla. Mas as mudanças sociais, no início imperceptíveis, aos poucos se tornam dramáticas. François é um acadêmico solitário e desencantado, que espera da vida apenas um pouco de uniformidade. Tomado de surpresa pelo regime islâmico, ele se vê obrigado a lidar com essa nova realidade, cujas consequências - ao contrário do que ele poderia esperar - não serão necessariamente desastrosas.[5]
Polêmicas
No mesmo ano do seu lançamento, La carte et le territoire tornou-se objeto de uma grande polêmica, depois que o site Slate.fr afirmou que o continha trechos transcritos da Wikipédiafrancesa, sem atribuição de crédito. O artigo, intitulado "A possibilidade do plágio", aponta pelo menos três passagens de "La carte et le territoire" que aparentemente teriam sido "emprestadas" da edição francesa da enciclopédia. A licença CCbySA 3.0, utilizada pela Wikipédia, permite o uso livre mas exige a menção da fonte. Os verbetes em questão falam sobre a mosca-doméstica, a cidade de Beauvais e um ativista francês. Além disso, o mesmo site indica a possibilidade de que o escritor tenha copiado a descrição do trabalho de agentes da polícia francesa (do site do Ministério do Interior da França) e a descrição de um hotel no sul da França (da página do próprio hotel).[6]
Além das polémicas devidas a seus livros, suas declarações à midia têm sido tomadas contra ele. Houellebecq tem dito que a clonagem possui mais valores humanistas do que o aborto, ou que a religião mais estúpida é o islão.
Sobre o liberalismo económico declarou:
“
O capitalismo liberal alargou o seu controlo sobre as consciências; das suas mãos nasceram o mercantilismo, a publicidade, o culto absurdo e desdenhoso da eficiência económica, o apetite exclusivo e imoderado pela riqueza material. [7]
↑ abEquívocos da 'pós-contemporaneidade', por Leda Tenório da Motta. Premiado com o Gouncourt, O Mapa e o Território junta todos os elementos de um autor sobrevalorizado: Michel Houellebecq. O Estado de S.Paulo, 12 de maio de 2012.