O massacre de Hlaingthaya foi um assassinato em massa de civis em 14 de março de 2021, no município de Hlaingthaya (também escrito Hlaing Tharyar e Hlinethaya), Yangon, Mianmar. Durante o massacre, tropas do Exército de Mianmar e oficiais da Força Policial de Mianmar mataram pelo menos sessenta e cinco indivíduos.[1] O massacre se tornou um dos incidentes domésticos mais mortíferos ocorridos após o golpe de Estado de 2021 e marcou uma grave escalada na violência militar contra civis que resistiam ao golpe.[2][3][1] A repressão violenta também precipitou um êxodo em massa de operários, residentes e empresas de Hlaingthaya, um importante centro fabril do país.[4][5]
Antecedentes
Em 1 de fevereiro de 2021, as Forças Armadas de Mianmar realizaram um golpe de Estado e depuseram o governo democraticamente eleito liderado pela Liga Nacional para a Democracia. Pouco tempo depois, os militares estabeleceram uma junta, o Conselho Administrativo de Estado, e declararam estado de emergência nacional. Em resposta, civis em todo o país realizaram protestos em larga escala para resistir ao golpe militar.
Os protestos de grande envergadura começaram em Hlaingthaya no início de março.[6] Os protestos no município de Hlaingthaya, um subúrbio da classe trabalhadora localizado nos arredores de Yangon, foram particularmente grandes e bem organizados por causa dos sindicalistas e operários que viviam e trabalhavam na área, que abriga mais de 850 fábricas de roupas.[7][6][8][9] O município também abriga muitos migrantes deslocados internamente da região de Ayeyarwady que ficaram desalojados após o ciclone Nargis de 2008.[10]
Incidente
No amanhecer de 14 de março de 2021, os manifestantes de Hlaingthaya montaram barreiras de blocos de cimento, bambu e sacos de areia nos principais pontos de ônibus da Estrada do Rio Hlaing (conhecida localmente como 'Estrada Nyaungdon'), uma importante via leste-oeste, em preparação para greves sentadas.[6][11] Por volta das 7h, 50 mulheres chegaram ao local do protesto, entoando parittas budistas para assegurar a segurança dos manifestantes.[12] Por volta das 9h30, milhares de manifestantes se reuniram no local.[13][12]
Por volta das 10h, caminhões militares começaram a cruzar a ponte Bayinnaung para entrar no município, com aproximadamente 200 soldados rompendo as barreiras e forçando os manifestantes a se dispersarem.[12][6] Por volta das 11h, soldados e policiais iniciaram um kettling, avançando de ambas as direções, atirando deliberadamente contra os manifestantes com munição real.[6] As forças de segurança e os franco-atiradores também se reuniram no topo da ponte Aung Zeya, que tem vista para a via pública e conecta o município ao resto de Yangon, para atirar nos manifestantes e outros civis, incluindo médicos voluntários e funcionários de ambulâncias.[6]
Imediatamente após o massacre, a Associação de Assistência aos Presos Políticos relatou pelo menos 22 mortos e 20 feridos.[14] Na tarde seguinte, o número de mortos havia subido para 58.[11] Um relatório da Human Rights Watch de dezembro de 2021 registrou pelo menos 65 baixas, com vítimas variando de 17 a 78 anos.[15][3] Muitas vítimas foram enterradas nas proximidades do Cemitério de Hteinbin.[16] Não foram relatadas baixas da força de segurança.[6]
Perpetradores
O massacre foi executado conjuntamente pelas forças de segurança do Exército de Myanmar, sob o comando de Nyunt Win Swe, e da Força Policial do Myanmar, sob o comando de Myo Min Htike, chefe de polícia da região de Yangon.[6] A polícia antimotim (chamada lon htein) colaborou com soldados da 77.ª Divisão de Infantaria Leve durante a repressão dos protestos.[2][6]
Consequências
À medida que os eventos se desenrolavam, pelo menos 32 fábricas de propriedade chinesa no município foram deliberadamente incendiadas por assaltantes desconhecidos, com perdas totalizando US$ 37 milhões.[17][18] Após o massacre, as forças de segurança estabeleceram uma forte presença nas principais áreas do município.[19] Na terça-feira seguinte, 17 de março, as forças de segurança mataram pelo menos 6 trabalhadores e prenderam outros 70 trabalhadores após uma disputa salarial em uma fábrica chinesa de calçados em Hlaingthaya.[20] Imediatamente após o massacre, milhares de trabalhadores migrantes fugiram do município, voltando para suas cidades natais.[16][19] Em setembro de 2021, pelo menos 73 fábricas nas três zonas industriais de Hlaingthaya - Hlaingthaya, Shwe Linban e Shwe Thanlwin - fecharam, deixando pelo menos 20.000 trabalhadores desempregados.[21]
Nota
- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Hlaingthaya massacre».
Referências