3,6 m (construção original de 1861) 4,9 m (reconstrução de 1872)
Mary Celeste (também designado, erradamente, por Marie Celeste)[1] foi um bergantimmercantenorte-americano que foi encontrado à deriva e sem tripulação no Oceano Atlântico, ao largo dos Açores, em 4 de Dezembro de 1872, pelo bergantim canadianoDei Gratia. O navio, embora com sinais de abandono, estava com boas condições de navegabilidade, com parte das velas içadas, sem ninguém a bordo, e sem o seu barco salva-vidas. O último registo no diário de bordo tinha data de dez dias antes. O Mary Celeste saiu de Nova Iorque rumo a Génova em 7 de Novembro, e quando foi descoberto ainda tinha bastantes provisões e mantimento. A sua carga de álcool desnaturado estava intacta e os bens pessoais do capitão e da restante tripulação não tinham sido mexidas. Nunca mais se viu ou se ouviu falar dos que iam a bordo do navio.
O Mary Celeste foi lançado sobre o registo britânico de Amazon, em 1861. Passou, depois, para mãos norte-americanas em 1868, mudando a sua nova designação até à última viagem realizada em 1872. Nas primeiras audiências em Gibraltar, após a sua descoberta à deriva, os representantes da investigação consideraram várias possibilidades de crime, incluindo motim por parte da tripulação do navio, actos de pirataria por parte dos membros do Dei Gratia, ou outros, e conspiração para poder ativar o seguro da embarcação de forma fraudulenta. No entanto, não se encontraram quaisquer indícios para apoiar estas teorias.
A natureza inconclusiva das audiências deu origem a décadas de especulação em relação às causas do mistério, e toda a história envolvente foi ainda mais distorcida por falsas informações e fantasia. As hipóteses avançadas incluem os efeitos da evaporação do álcool na tripulação, um sismo submarino (seguido de maremoto), trombas de água, ataques de lulas-gigantes e atividade paranormal.
Depois das audiências de Gibraltar, o Mary Celeste continuou ao serviço com novos donos. Em 1885, o seu capitão encalhou, propositadamente, o navio ao largo da costa do Haiti, para tentar ativar o seguro de forma fraudulenta. A história da descoberta o navio abandonado em 1872 deu origem a várias dramatizações em documentários, séries e filmes, e o nome do navio tornou-se sinónimo de abandonos inexplicáveis.
Em 1894, o escritor britânico Arthur Conan Doyle escreveu uma história baseada no mistério, mas o nome do navio foi escrito como Marie Celeste. Esta forma passou a ser mais utilizada no dia-a-dia do que o nome original.
Origens
A embarcação foi construída em 1861, na Nova Escócia, Canadá, sob o nome de "Amazon". Zarpou de Halifax e ancorou Baía de Glace, onde aguardava por um carregamento e fora seriamente danificado quando uma tempestade lançou-o em direção à costa. Seu capitão, William Thompson, vendeu-o para dois homens da Baía. Eles restauraram o barco e no ano seguinte venderam-no para Richard Haines, em Nova Iorque. Nesse entremeio seus novos donos rebatizaram-no como "Mary Celeste".[2]
História
Em 7 de novembro de 1872, sob o comando do capitão Benjamin Briggs, o barco foi carregado com barris de álcool despachados pela Meissner Ackermann & Coin. e zarpou de Staten Island, Nova Iorque, com destino à Gênova, Itália. Além do capitão e sete marinheiros, ele também transportava Sarah E. Briggs (esposa de Benjamin), e sua filha de dois anos, Sophia Matilda.
O brigue de nacionalidade britânica Dei Gratia (1871-1907) estava a 400 milhas a leste dos Açores quando avistou um navio à deriva, em 5 de dezembro do mesmo ano. Seu capitão, David Reed Morehouse, descobriu que se tratava do Mary Celeste, o qual partira oito dias depois dele e já deveria estar em Gênova.[3]
Morehouse abordou o Mary Celeste para oferecer ajuda. A embarcação encontrava-se em boas condições. O único bote salva-vidas desaparecera e uma de suas duas bombas d’água fora desmontada. Os pertences dos tripulantes ainda se encontravam nos alojamentos e a carga de 1 701 barris estava aparentemente intacta, até se descobrir que nove barris estavam vazios.[3]
Tripulantes do Dei Gratia conduziram o Mary Celeste até Gibraltar, onde a corte do vice-almirantado britânico julgaria a concessão do pagamento do seguro aos salvadores do navio. Entretanto, o procurador-geral responsável pelo inquérito, Frederick Solly Flood, suspeitava de crime de dano. Depois de mais de três meses a corte não encontrou evidências de delito, mas a tripulação do Dei Gratia recebeu somente um sexto dos 46 000 dólares do seguro do navio e de sua carga, sugerindo que as autoridades não estavam completamente convencidas da inocência da tripulação do Dei Gratia.[3]
O barco foi recuperado e utilizado ao longo de doze anos por uma variedade de proprietários. Em 3 de janeiro de 1885 o Mary Celeste foi deliberadamente afundado na costa haitiana pelo seu último capitão, numa tentativa frustrada de receber o valor do seguro.[4]
Os restos do bergantim foram encontrados em 2001 numa expedição liderada por Clive Cussler e pelo produtor de filmes John Davis.[5]
Tripulantes
Nome
Ocupação
Nacionalidade
Idade
Benjamin Briggs
Capitão
Americano
37
Albert C. Richardson
1º oficial
Americano
28
Andrew Gilling
2º oficial
Dinamarquês
25
Edward W. Head
Cozinheiro
Americano
23
Volkert Lorenson
Marinheiro
Alemão
29
Arian Martens
Marinheiro
Holandês
35
Boy Lorenson
Marinheiro
Alemão
23
Gotlieb Gondeschall
Marinheiro
Alemão
23
Passageiros
Nome
Notas
Idade
Sarah Elizabeth Briggs
Esposa do capitão
31
Sophia Matilda Briggs
Filha do capitão
2
Benjamin Briggs, capitão do Mary Celeste
Albert C. Richardson, 1º oficial
Sarah Elizabeth Briggs, esposa do capitão
Sophia Matilda Briggs, filha de Benjamin e Sarah
Na literatura
O Mary Celeste é citado na primeira página do livro Sally e a Maldição do Rubi (The Ruby in the Smoke) de Philip Pullman, e novamente na primeira página do segundo livro da série, The Shadow in the North, onde o desaparecimento do navio fictício Ingrid Linde é citado como uma notícia comparável à do resgate do Mary Celeste.
Em 1884, o então jovem Arthur Conan Doyle, futuro autor dos contos e romances de Sherlock Holmes, publicou anonimamente o conto J. Habakuk Jephson's Statement, baseado nos fatos que envolveram o abandono desse bergantim.[6]
Na televisão
Na série Doctor Who (2ª Temporada, Arco 16, Episódio 32 "Flight Through Eternity"), o Primeiro Doutor e seus companheiros Bárbara, Ian e Vicki viajam no tempo e aterrissam no Mary Celeste ainda tripulado. O abandono do navio pelos seus tripulantes é explicado na série pela aparição dos Daleks, que perseguiam os heróis. Essa aparição aterrorizou os tripulantes de tal modo que pensaram se tratar do Barbário Branco, uma superstição, e levou a um pânico que fez com que todos pulassem do navio.
Referências
↑«Mary Celeste». Oxford Dictionaries. Oxford University Press. Consultado em 10 de Novembro de 2015