Martinho Ferreira Matos ou Martinho Ferreira de Mattos (Itapicuru, 11 de novembro, [vago]) foi um latifundiário baiano.
Biografia
Aristocrata rural, com ascendência na Casa da Torre e no senhoril que durante séculos administrou algumas das sesmarias pertencentes aos atuais estados da Bahia e Sergipe. Sua família paterna, foi uma das encarregadas pelo desbravamento dos sertões baiano, para criação de gado e mercado canavieiro, fixando-se nos atuais municípios de Monte Santo, Curaçá, Patamuté, Cícero Dantas, Itapicuru e Rio Real. No recôncavo, possuía numeroso parentesco, dentre eles, o Barão de Villa Viçosa e Santo Amaro da Purificação. Seu pai, Coronel Galdino Ferreira de Mattos[1], possuía influência politica, além de estreito vinculo de amizade com o poderoso Barão de Geremoabo.[2][3][4][5]
Pelo lado materno, descende da família luso-brasileira, Pereira e Mello. Sua mãe, Anna Evangelista Pereira e Mello, era filha do Coronel João Evangelista Pereira e Mello, que foi Juiz de Direito da comarca de Bom Conselho até 1894, quando a cidade foi invadida por "conselheiristas" que, contrários ao casamento civil, além de expulsarem as autoridades locais, torturaram o escrivão de casamentos, acusando-o de usurpar as funções do vigário, sendo citado em "Os Sertões", de Euclides da Cunha[6]. Depois desse episódio, foi transferido para a cidade de Juazeiro, onde fixou-se.
Martinho, juntamente com os seus irmãos, João Ferreira de Mattos e Torquato Ferreira de Mattos, fixaram-se em Bom Conselho, no final do século XIX, por intermédio do então amigo da família, o Barão de Geremoabo. A família possuía latifúndios destinados a criação de gado.
Martinho era tio da Dra. Dalva Ferreira de Mattos, fundadora da Organização Auxílio Fraterno- OAF, instituída em 1958, em Salvador. [7]
Na política, Martinho passou o seu legado para a neta Agenilda Ferreira Ribeiro de Jesus Pereira, que foi vereadora na cidade de Cícero Dantas por quatro mandatos e primeira-dama laureada pelo seu destacado trabalho à frente da Secretaria de Assistência Social. [8]
Nos anos 10, adquiriu o Engenho Olhos D’Água, localizado no município de Simão Dias, antiga propriedade do Coronel Nono Zacarias. Nesse período possuiu latifúndios de cana-de-açúcar, comercializando-a em larga escala, inclusive para exportação.
O antigo Engenho Olhos D'Água, hoje denomina-se Fazenda Tamanduá.[9]
O Engenho Olhos D'Água
No Engenho havia a casa-grande, a capela, os casebres onde residiam os serviçais, a casa de purgar (destinada ao branqueamento do açúcar), os balcões, as fornalhas e as demais moendas. A casa-grande era cercada por um enorme alpendre, em estilo colonial, marcada por sete janelas e uma grande porta de entrada ao centro, que dava acesso ao casarão.
Ataque de Lampião e seu cangaço ao Engenho Olhos D'Água
Em passagem por Simão Dias, os cangaceiros contornaram a ponta da Serra do Cabral e dirigiram-se ao Engenho Olhos D'Água. Ao chegar, o cangaceiro Corisco, pressionou o Coronel Martinho Ferreira Matos, exigindo dois contos de réis. Martinho, jurava não dispor da determinada quantia no momento, oferecendo-lhe algumas das joias da sua esposa como pagamento. Lampião, notando que as filhas de Martinho Ferreira usavam cabelos curtos, mandou Zé Baiano castigar as moças com a famosa palmatória. A mãe, dona Marcolina, correu em socorro das filhas e acabou sendo violentada também.[10]
Lampião, explicou a razão do castigo: -Tou fazeno isso pra dá educação a voceis, já qui seu pai num dá! Muié de cabelo curto é muié ruim![11]
Dona Marcolina Ferreira, encontrava-se convalescente do seu último parto quando fora castigada, o que a deixou sequelada, levando-a a óbito alguns dias depois. O Cel. Martinho Ferreira Matos, homem acostumado ao respeito, foi levado preso junto a mais dois rapazes (o filho do Sr. Fausto Dodô e outro rapaz chamado Marcos Felipe). Ao penetrar na Bahia, uma légua adiante, Lampião mandou soltar os reféns, na Fazenda Cavaco, ao norte de Paripiranga.[11]
Cicinato Ferreira Neto, em sua obra "
A Misteriosa Vida de Lampião", citou: "Em Anápolis, os habitantes fugiram todos apavorados ante a iminência de um ataque. Porém, a cidade sergipana escapou, pois a maior preocupação dos cangaceiros era mesmo fugir em direção à Bahia. Porém, antes de atingir o território baiano, o bando cometeu atrocidades no caminho. Segundo escritor sergipano, os cangaceiros fizeram reféns no povoado Tabocas, perto de Simão Dias. O coronel Martinho Ferreira também foi feito refém quando Lampião invadiu o seu engenho Olhos D'Água. Moradores foram surrados e residências saqueadas."
[12]
Nesse período, surgiram mais boatos de que Lampião tinha sido morto ou capturado pelas forças revolucionárias de Sergipe. No final de outubro, a revolução capitaneada pela Aliança Liberal, pelos tenentes e pelos partidários de Getúlio Vargas foi vitoriosa e derrubou o governo de Washington Luís, pondo fim ao ciclo da chamada República Velha. No Nordeste, a movimentação de tropas era imensa e, nas capitais, realizavam-se as deposições de dirigentes aliados ao antigo governo. Foi nesse ambiente de efervescência que se espalharam surpreendentes notícias.[13]
Martinho Ferreira Matos, nunca se recuperou da humilhação sofrida.[11] Durante muitos anos, caminhou como um autômato, de um lado para o outro, na calçada da casa-grande do engenho, um sobrado colonial com uma porta central e sete janelas.[14]Com a decadência do comércio canavieiro e sequelado pelos acontecimentos, o coronel migrou para o estado da Bahia com os seus herdeiros, para um dos seus latifúndios, este denominado, Fazenda Garajau.
Referências