Maria Thereza foi a mais nova esposa de um presidente e a primeira-dama mais emblemática da história do país, com vinte e cinco anos de idade à época da posse,[5] tendo sido considerada pela revista People como uma das dez primeiras-damas mais belas do mundo,[6] e pela revista Time como uma das nove Belezas Reinantes mundial.[7] Aos dezenove anos, foi a mais jovem segunda-dama do Brasil.[8]
Foi um ícone da moda brasileira no início dos anos 60, com a ascensão da alta costura no país, atraindo atenção nacional e internacional, estampando diversas capas de revistas brasileiras como a Manchete, Fatos & Fotos e O Cruzeiro; e mundialmente famosas como a francesa Paris Match e a alemã Stern.[9][10][11]
Biografia
Família e juventude
Nascida no interior do Estado do Rio Grande do Sul, filha dos imigrantes italianos Dinarte Fontella e de Maria Júlia Pasqualotto, que deu à luz sozinha, numa estrada isolada, quando tinha 15 anos.[12] Com a sua mãe ela aprendeu Italiano e com seu tio de lado materno, aprendeu a cavalgar e atirar - já dominando o tiro ao alvo com 8 anos de idade.[13]
Aos 5 anos ela passou a morar com a tia Horaides Zambone, em São Borja, para se recuperar de uma anemia.[14] Ainda aos 5 anos foi matriculada no Grupo Escolar Getúlio Vargas, mas foi expulsa.[14] Depois foi matriculada num colégio de freiras, extremamente rígido, onde ficou por dois anos,[14] até ser expulsa.[15]
Estudou no Colégio Metodista Americano, um internato de Porto Alegre, onde ficou sob os cuidados de uma prima, onde na escola, sua vida voltou a ser regrada.[15] Era vizinha, na cidade de São Borja, da casa de Jango, o qual conheceu pessoalmente aos catorze anos.[12] De acordo com Maria Thereza, ela foi encarregada de levar uma correspondência para ele a pedido de Dinarte Dornelles (tio materno de Getúlio Vargas).[16]
Em Porto Alegre, na casa da tia América Fontella, casada com Spartacus Dornelles Vargas (irmão de Getúlio), onde aos 12 anos veio a conhecer Leonel Brizola.[17] Maria Thereza realizou seu baile de debutante, e Goulart estava entre os convidados. Conforme ela afirma, não se apaixonou por seu futuro marido à "primeira vista", pois não imaginava que "pudesse namorar uma pessoa de sua projeção".[18] Entre as primas de Maria Thereza estava a política Yara Vargas,[17] que mais tarde ajudou na fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT).[19]
Relacionamento com Jango
Em 11 de dezembro de 1950, conheceu o empresário João Goulart em São Borja, poucas semanas antes da posse do presidente eleito Getúlio Vargas, de quem Jango era amigo.[20] Ela tinha 13 anos, enquanto ele, 31.[21]
Quando Maria Thereza terminou seus estudos, que realmente iniciou seu relacionamento afetivo com Jango, então ministro do Trabalho.
Casamento
Casaram-se em 26 de abril de 1955 no civil, e o casamento religioso foi realizado na capela da Cúria Metropolitana, pelo arcebispo Dom Alfredo Vicente Scherer, quando João Goulart estava concorrendo à vice-presidência do país, cargo que ele ocuparia de Janeiro de 1956 até 1961.[22] Com o casamento, Maria Thereza tornou-se concunhada de Leonel Brizola, marido de Neuza Brizola.
Maria Thereza tornou-se a segunda-dama do Brasil com dezenove anos de idade, mediante a posse de Jango em 1956, como vice de Juscelino Kubitschek e, posteriormente, de Jânio Quadros. Enquanto seu marido era vice-presidente, vivia tranquilamente com os filhos longe dos holofotes.
Viagens oficiais
Estados Unidos
Maria Thereza e Jango fizeram viagem oficial aos Estados Unidos em 30 de abril de 1956 à convite do vice-presidente norte-americano Richard Nixon, na qual fora recebidos por ele, pela segunda-dama Pat Nixon e pelo Secretário de EstadoJohn Foster Dulles. Se hospedaram na Blair House, residência oficial destinada para convidados estrangeiros, onde o casal vice-presidencial americano ofereceu um almoço privado em homenagem ao casal vice-presidencial brasileiro com autoridades. No dia 2 de maio, foram recebidos na Casa Branca pelo presidente Dwight D. Eisenhower e a primeira-dama Mamie Eisenhower.[24]
Vaticano
Em 1959 em visita ao Papa João XXIII, seu filho João Vicente interrompeu a audiência pedindo para ir ao banheiro, fato que causou constrangimento.[25][26]
Primeira-dama do Brasil
Em agosto de 1961, Maria Thereza estava hospedada no hotel Lloret de Mar, na Espanha, juntamente com os dois filhos. O dono do hotel era amigo de seu marido, que estava viajando a trabalho na China. Foi então que recebeu, surpresa, à hora do café da manhã, a notícia de que Jânio Quadros havia renunciado e João Goulart se tornara o novo Presidente da República.[27] Logo em seguida, o Itamaraty e jornalistas procuraram contato com Maria Thereza. Seu irmão, João José, então diretor da Riotur, serviu como porta-voz.
Aconselhada por Jânio a permanecer no hotel enquanto a situação com os ministros militares, que negavam a posse, estivesse delicada, a nova e jovem primeira-dama só regressou ao Brasil quando Jango tomou posse.[28]
Eu me dei conta que era a primeira-dama quando o avião da Varig pousou em Brasília. Fiquei apavorada.
Como primeira-dama, assumiu a presidência de honra da Legião Brasileira de Assistência, na qual foi responsável pela fundação da sede do órgão em Brasília, reformando o prédio e montando uma equipe. A LBA recebeu grandes doações, tais como carros e caminhões, que serviam para organizar leilões em benefício da entidade.
Entre os dias 4 e 11 de abril de 1962, João Goulart fez viagem oficial aos Estados Unidos, onde foi recebido pelo presidente John F. Kennedy na Casa Branca.[32] Maria Thereza não viajou para a capital americana onde teria um encontro com a primeira-dama Jacqueline Kennedy, mas fez-se solicita ao enviar-lhe um livro contendo belas ilustrações de pássaros brasileiros. Maria Thereza era tida pela imprensa como a Jackie Kennedy dos trópicos, tendo ambas ditado moda e sofisticação na década de 60.[33]
No dia 18 de setembro de 1963, recebeu em Brasília junto ao marido, o presidente da IugusláviaJosip Broz Tito e a primeira-dama Jovanka Broz. No dia seguinte, o casal iugoslavo ofereceu um banquete em homenagem ao casal brasileiro. Tito se encantou pela beleza da jovem Maria Thereza e não escondia o fascínio durante sua estadia oficial no Brasil.[34]
Recebeu do cantor americano Frank Sinatra uma carta e uma coleção de seus discos de vinil, de quem dizia ser admiradora de seu trabalho e talento.[25]
Esteve ao lado do marido no famoso Comício da Central em 13 de março de 1964 na cidade do Rio de Janeiro, na Praça da República, situada em frente à estação da Central do Brasil. O ato foi orquestrado pelo presidente tendo como base tentar pressionar o Congresso Nacional a aprovar várias reformas, como a agrária e a eleitoral. Duas semanas depois do evento na Central, Jango foi deposto pelos militares no chamado Golpe de Estado no Brasil em 1964.[35] Em entrevista a ex-primeira-dama disse que "teve muito medo":
Eu tive muito medo porque estava uma pressão muito grande, ele não estava bem de saúde. Também havia boato de que haveria um atentado.
Moda e elegância
Na sua condição de primeira-dama, optou pela então nascente alta costura brasileira, tornando-se cliente do estilista Dener Pamplona de Abreu, que acabou por ser responsável pelo guarda-roupas de Maria Thereza, incluindo recepções, casamentos, funerais e solenidades oficiais, ditando moda no país e tornando-se um ícone da moda brasileira no início dos anos 60. Glamorosa, atraiu o interesse dos jornais e o imaginário dos brasileiros que se inspiravam nas suas mais belas peças de roupas.[36] Ela atraía a alta sociedade paulista e brasiliense para eventos de caráter beneficente, tornando suas atitudes de aderir à moda brasileira — ao invés de escolher roupas de grife estrangeira —, um impulso não só à alta costura, como à economia.[37]
A revista Time chegou a classificar Maria Thereza como uma das nove Reigning Beauties (Belezas Reinantes),[7] ao lado da ex-primeira-dama dos Estados Unidos Jacqueline Kennedy, da princesa Grace Kelly de Mônaco e da imperatriz Farah Diba do Irã.[38] Foi tida pela revista People como uma das dez primeiras-damas mais belas do mundo.[6]
Depois que emergiu como a primeira-dama mais jovem do país e, imediatamente comparada a Jackie Kennedy como símbolos de elegância, charme e beleza passou a ser vista como um exemplo de mulher no papel de esposa e mãe dedicada, o que gerou empatia na imprensa e logo conquistou as mídias sociais.[36]
Deposição de Jango e viuvez
Depois que Goulart foi deposto em 1964, a família se exilou no Uruguai e, posteriormente, na Argentina, onde João Goulart faleceu em 6 de dezembro de 1976 em decorrência de um suposto ataque cardíaco (o corpo não recebeu uma necrópsia antes de ser liberado para o funeral).[40]
Em 25 de março de 2014, o Instituto Presidente João Goulart publicou um artigo de Maria Thereza relacionado aos 50 anos do golpe.[41]
É muito difícil ter as respostas certas para essa pergunta. Até hoje, 50 anos depois eu me questiono para conseguir entender o porquê daqueles momentos tão assustadores que de repente mudaram o rumo de nossas vidas, de nossa pátria e de nosso povo. As mudanças foram infinitas. Perdi pessoas que eu amava sem poder dizer adeus. Perdi amigos, perdi meu lar e perdi minha pátria. Fiquei sem meus sonhos vivendo uma realidade de incertezas e desafetos. Tive medo sim e pensei que aqueles momentos eram de uma perseguição coletiva que acabaria envolvendo nosso futuro.
Processo de anistia
No dia 15 de novembro de 2008, depois de um processo judicial de quatro anos contra o governo federal, Maria Thereza e João Goulart receberam anistia política. Foi a primeira vez que um ex-presidente brasileiro foi anistiado por perseguição política.[42][43]
A ex-primeira-dama passou receber uma pensão mensal de 5 425 reais (valor correspondente em 2008 ao salário de um advogado sênior, pois João Goulart era bacharel em Direito), visto que a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça considerou que o exílio de João Goulart o impediu de exercer atividade remunerada no país. A pensão é retroativa a 1999, somando cerca de 644 mil reais, a serem pagos em parcelas durante dez anos. Além disso, Maria Thereza recebeu 100 mil reais por ter sido impedida de voltar ao Brasil por quinze anos.[4]
Sobre a anistia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que o governo "reconhece os erros do passado e pede desculpas a um homem que defendeu a nação e seu povo do qual jamais poderíamos ter prescindido".[44]
Foi interpretada pela atriz Angela Dippe na peça teatral Maria Thereza e Dener.[48][49]
A diretora Susanna Lira fará o filme "Vestida de Silêncio", cuja gravação estava prevista para 2021, que revistará a história de João Goulart pelo olhar de Maria Thereza. A ex-primeira-dama será interpretada pela atriz Andreia Horta.[50][51] A gravação foi adiada devido a pandemia de COVID-19.[52]
↑Correia, Salatiel Soares (25 de novembro de 2012). «O presidente esquecido e resgatado pela história». Jornal Opção. Consultado em 3 de outubro de 2014. Arquivado do original em 4 de março de 2016. (...) Maria Tereza Goulart, oriunda da classe média de sua cidade natal, São Borja. (...)