As negociações demoraram dois anos, principalmente porque o monarca cruzado insistira em Manuel devolver a suserania do Principado de Antioquia a Jerusalém. Mas assim que abandonou esta exigência, o imperador decidiu pela sua sobrinha-neta Maria, a quem forneceu um dote avultado. O casamento foi celebrado em Tiro, a 29 de agosto de 1167[1]. Desta união nasceram:
O casamento apresentou uma ocasião para o início de novas negociações, e em Setembro de 1168 foi concluída uma aliança cruzada-bizantina de conquista e partilha do Egito. No entanto, esta falharia na prática, uma vez que os latinos atacaram os fatímidas sem esperar pelos reforços gregos e foram forçados a retirar[2].
Rainha viúva
Em 1174, moribundo, Amalrico legou Nablus a Isabel e a Maria, que se casou em segundas núpcias em 1177 com Balião de Ibelin. Deste casamento nasceram:
Amalrico foi sucedido pelos seus filhos com Inês de Courtenay: primeiro Balduíno IV; Sibila, casada com Guido de Lusignan, subiu ao trono depois da morte do seu filho Balduíno V. Em Novembro de 1183 Maria não conseguira evitar o casamento da sua filha Isabel com Onofre IV de Toron, filho de Estefânia de Milly, do partido rival ao dos Ibelin na corte de Jerusalém.
Maria Comnena frequentava a corte, pelo que se encontrava na Cidade Santa em Julho de 1187, quando o exército cristão foi derrotado por Saladino na batalha de Hatim. Balião conseguiu escapar do campo de batalha e obter do sultão um salvo-conduto para ir a Jerusalém buscar a esposa e os seus filhos e levá-los para Tiro, com a condição de não pegar em armas contra ele nem permanecer na cidade por mais de um dia.
No entanto, os aterrorizados habitantes da capital do reino suplicaram que Balião comandasse a sua defesa no cerco que se avizinhava, pelo que este aceitou, enviando mensageiros a Saladino para explicar o motivo de não cumprir o acordado. O aiúbida aceitou as desculpas, chegando mesmo a organizar uma escolta para conduzir a rainha Sibila, Maria Comnena, os seus filhos e outros familiares a Trípoli[3]. Maria obteve igualmente de Saladino o direito de levar consigo todas as suas posses, servos, objectos preciosos e cruzes com ouro e joias[4].
Após a perda de Jerusalém, o reino parecia perdido até Conrado de Monferrato (tio paterno de Balduíno V) assumir a defesa de Tiro e resistir com sucesso a Saladino, pelo que Balião e Maria instalaram-se nesta cidade[5]. Quando Guido de Lusignan foi libertado do cativeiro, Conrado recusou-lhe a entrada em Tiro, com o apoio da maioria dos barões do reino que culpavam o rei pela derrota em Hatim. Deste modo, Guido dirigiu-se a São João de Acre e iniciou o cerco a esta cidade.
Para legitimar a reivindicação de Conrado ao trono, o partido deste pretendia anular o casamento de Isabel com Onofre IV de Toron. Enquanto Maria tentava convencer a sua filha a concordar com a anulação, o mordomo da FrançaGuido de Senlis pôs em causa que Isabel tivesse dado o seu consentimento aquando do seu casamento, desafiando o senhor de Toron em ordália de duelo judicial. A recusa de Onofre em combater implicou a renúncia à sua esposa, que assim se casou com Conrado a 24 de novembro de 1190[6]. Mas deste modo Maria e Balião atraíram a inimizade de Ricardo I da Inglaterra.
Atulhada em imundície grega desde o berço, tinha um marido cuja moral correspondia à sua própria: ele era cruel, ela era ímpia; ele era inconstante, ela era maleável; ele não tinha fé, ela era fraudulenta.
— CrónicaItinerarium Peregrinorum et Gesta Regis Ricardi (em latim, A Peregrinação e os Feitos do Rei Ricardo em português), autor anónimo
Em Junho de 1192 Balião ajudou a negociar o tratado de Ramla que encerrou oficialmente a Terceira Cruzada. Segundo os termos deste tratado de paz, Saladino manteve as terras do senhorio de Ibelin mas cedeu algumas cidades conquistadas pela cruzada. Depois de Ricardo Coração de Leão partir da Terra Santa, o sultão recompensou Balião com o castelo de Caymont e algumas localidades costeiras[7]. Depois da morte do seu segundo marido em 1193, Maria Comnena terminaria os seus dias retirada para a vida religiosa[4].
↑
René Grousset. Histoire des croisades et du royaume franc de Jérusalem (em francês). II. - 1131-1187 L'équilibre. 1935 (reimpr. 1999). Paris: Perrin. pp. 481–2. ISBN978-0521625661
↑ ab
Abdel Rahman Nehmé (2007). Chrétiens et Musulmans au temps des croisades, entre l’affrontement et la rencontre. Figures féminines de la noblesse des croisades (em francês) Louis Pouzet et Louis Boisset ed. Beirute: Presse de l’Université Saint-Joseph. ISBN9953-455-73-2
↑
René Grousset. Histoire des croisades et du royaume franc de Jérusalem (em francês). III. 1188-1291 – L’anarchie franque. 1936 (reimpr. 1999). Paris: Perrin. p. 759. ISBN2-262-02569-X) Verifique |isbn= (ajuda)
Guilherme de Tiro (1982). La Continuation de Guillaume de Tyr (1184-1192) (em francês). [S.l.]: Académie des Inscriptions et Belles-Lettres
Ambroise (2003). The History of the Holy War (em inglês) trad. Marianne Ailes ed. [S.l.]: Boydell Press. ISBN9781843830016
Chronicle of the Third Crusade. A Translation of Itinerarium Peregrinorum et Gesta Regis Ricardi (em inglês) trad. Helen J. Nicholson ed. [S.l.]: Ashgate. 1997
Peter W. Edbury (1996). The Conquest of Jerusalem and the Third Crusade: Sources in Translation (em inglês). [S.l.]: Ashgate
Peter W. Edbury (1997). John of Ibelin and the Kingdom of Jerusalem (em inglês). [S.l.: s.n.]
Robert Payne (1984). The Dream and the Tomb (em inglês). [S.l.: s.n.]
Steven Runciman (1952–1955). A History of the Crusades (em inglês). II, III. [S.l.]: Cambridge University Press