Na corte de Mântua, Margarida com o irmão mais velho, Vicente (mais tarde duque de Mântua e Monferrato) e com a sua irmã mais nova, Ana Catarina (que por casamento viria a ser Arquiduques da Áustria e condessa do Tirol). Margarida tinha grande afeto pelo irmão, sendo ambos de forte carácter e ambição. Teve uma educação marcadamente religiosa tendo estudado literatura e Latim. Mais tarde, Margarida chegou a escrever ela própria livros nesta língua. Sob a influência de do pai, um amante de música, a princesa aprendeu a tocar instrumentos musicais, a cantar e a dançar.[2]
Casamento
Em 1578 o Duque Guilherme Gonzaga iniciou as negociações para o casamento entre a sua filha Margaridam n altura com 14 nos de idade, com Afonso II d'Este, Duque de Ferrara, Módena e Reggio, de 31 anos. Cm esta união, o Duque de Mãntu esperava restaurar a aliança política entre os Gonzagas e os Este criando uma coligação que incluísse também os Saboia e os Farnésio contra a Casa de Médici, cujo líder recebera do Imperador o título de Grão-Duque.[2]
Afonso II d'Este já ficara viúvo por duas vezes; as suas anteriores consortes, Lucrécia de Médici e Bárbara de Habsburgo (tia materna de Margarida), morreram sem darem um herdeiro. Em 1567 a Bula papalProhibitio alienandi et infeudandi civitates et loca Sanctae Romanae Ecclesiae de Pio V proibia os filhos ilegítimos (ou seus descendentes) de serem investidos como soberanos de feudos da Igreja; sem outro agnático próximo a não ser o seu primo César d'Este (cujo pai era um filho ilegítimo de Afonso I d'Este) e temendo que a família viesse a perder o Ducado de Ferrara[3], Afonso II decidiu contrair um terceiro casamento.[2][4]
Assim, a 24 de fevereiro de 1579, foi celebrado o casamento por procuração em Mântua e, a 27 de maio desse mesmo ano, acompanhada por um cortejo dirigido por seu irmão, Margarida entrou solenemente em Ferrara, sendo saudada pelos cortesãos do duque com tochas e emblemas representado chamas com o motto em Latim “Ardet aeternum” (que arda para sempre), que implicava a promessa do Duque à sua jovem esposa de a amar para sempre.[2]
Duquesa de Ferrara
Na corte de Ferrara, Margarida protegeu poetas, pintores e músicos. A duquesa teve lições de música do Maestro di cappella Ippolito Fiorini.[2] Para agradar à sua jovem esposa, Afonso II reorganizou o concerto delle donne[5], que atuavam perante a duquesa e que era composto maioritariamente pelas suas damas de companhia, que frequentemente, cantavam no seu apartamento;[6] Já em 1582, foi constituído um grupo profissional de cantores e instrumentistas, que incluía conhecidas sopranos (Laura Peverara, Livia d'Arco, Anna Guarini e Vittoria Bentivoglio) e instrumentistas de harpa, viola e alaúde, com participação de cantores masculinos baixo.[7]
Em janeiro de 1582, Margarida organizou um baile em que dançou com onze outras damas, metade das quais vestidas com trajes masculinos. O baile ocorreu por duas vezes (com e sem máscara) com as danças acompanhadas por canticos e interpretações musicais, que passaram a ser conhecidos por balletto delle donne, atuando também em muitos outros eventos,[8] como por exemplo no casamento do compositor Carlo Gesualdo, Príncipe de Venosa, com Leonor d'Este (prima do marido de Margarida) em 1594.[9]
O balletto tornou-se um entretenimento bem organizado e elaborado que, frequentemente, incluía as senhoras travestidas. Afonso II ajudava nos espetáculos mantendo o chão desempedido e outros pequenos favores, embora não se envolvesse. Os programas eram manuscritos e nenhum sobreviveu. Afonso II manteve estes entretenimentos privados de tal forma que era impossível obter um programa, nem mesmo o Cardeal Luís d'Este, irmão mais novo do duque, os recebia. Luzzasco Luzzaschi e Ippolito Fiorini compunham a música e Giovanni Battista Guarini escrevia os textos. Os espetáculos devem ter continuado até 1597 quando o domínio dos Este em Ferrara acabou e a cidade foi integrada nos Estados pontifícios.[10] Entre os poetas apoiados encontrava-se Traquínia Molza e Torquato Tasso, que lhe dedicou os seus trabalhos. A duquesa era também mecenas do teatro local apoiando os atores na corte.
A grande paixão de Margarida eram os cães que criava em grande número. À medida que amadurecia, participava em ações e caridade, tendo fundado o Orfanato de Santa Margarida, em Ferrara, suportado financeiramente por um novo imposto lançado sobre o comércio do óleo.[2][11]
Viuvês
Tal como os seus dois casamentos anteriores, a união de Afonso II com Margarida não teve geração. Aparentemente terá sido uma queda de um cavalo na sua infância que terá provocado a esterilidade do duque. Afonso II tentou com toda a sua força impedir a integração do Ducado de Ferrara, nos Estados Pontifícios, tendo participado propositadamente numa cruzada contra os Otomanos. Mas logo após a sua morte, em 27 de outubro de 1597, o Papa Clemente VIII não reconheceu César d'Este como herdeiro de Afonso. A 28 de janeiro de 1598 o Ducado de Ferrara foi oficialmente incorporado nos estados da Igreja e a corte ducal deslocou-se para Módena.[2] Contudo, a maior parte dos bens móveis do Palácio de Ferrara e dos jardins adjacentes eram mantinham-se propriedade da Casa de Este, passando para Margarida na qualidade de Duquesa viúva.[11]
No seu testamento, o falecido marido de Margarida, deu ordem que lhe fossem pagos de imediato o montante de 200.000 ducados e 4.000 ducados anualmente. A 20 de dezembro de 1597, duquesa-viúva de deixou Ferrara com destino a Mântua, sendo acompanhada por uma comitiva enviada pelo irmão, que já governava os Ducados de Mântua e de Monferrato.
Na corte do irmão, onde usava o título de "Sereníssima Senhora de Ferrara" (Serenissima Signora di Ferrara), mostrou as suas aptidões políticas sendo nomeada regente de Monferrato, em Junho de 1601, quando o irmão parte para a guerra contra o Império Otomano na Hungria. Durante este período, atuando em nome do irmão, ela iniciou as negociações para o casamento do seu sobrinho, o príncipe herdeiro de Mântua Francisco Gonzaga, com a Princesa Margarida de Saboia, a filha mais velha de Carlos Emanuel I, Duque de Saboia, casamento que se consumou em 1608. Em 1601, Margarida deixou o Monferrato e regressou à cidade de Mântua. De junho a outubro de 1602, foi de novo Regente do Monferrato.[2]
A duquesa-viúva continuou com as obras de caridade em Mântua. Em 1599, fundou um convento para senhoras Franciscanas. Em 1602 ajudou os Teatinos a instalarem-se. Em 1603, Margarida fundou novo convento para cuja manutenção consignou 25.000 ducados, dando instruções para a construção de um maior e mais imponente edifício. O monumento final foi a Igreja de Santa Úrsula de Mântua,[12] cuja construção terminou em 1608, e onde a Duquesa-viúva se instalou, mas sem fazer votos religiosos, funcionando aí a sua corte, paralela à do duque seu irmão. No seu tempo a Igreja de Santa Úrsula tornou-se o local onde as princesas da Casa de Gonzaga e meninas das famílias aristocráticas eram educadas. Protegeu também mulheres artistas, [13] incluindo Lucrina Fetti[14].[15] Margarida também colecionou uma grande quantidade de pinturas incluindo trabalhos de Antonio Maria Viani, Ludovico Carracci, Parmigianino, Francesco Francia, Domenico Fetti e muitos outros pintores.[2][16]
Nos últimos anos de vida, Margarida dedicou mais tempo a orações, continuando a seguir a situação do Ducado de Mântua. A 9 de fevereiro de 1612 o seu irmão, o Duque Vicente I morreu, sendo sucedido pelo seu filho mais velho Francisco IV Gonzaga, que apenas reinou 10 meses, morrendo com varíola a 22 de dezembro de 1612, poucas semanas após a morte do seu filho único, o pequenino Luís (Ludovico) que tinha apenas 17 meses, também morto com varíola. Margarida tornou-se regente dos ducados de Mântua e Monferrato até à chegada do seu outro sobrinho, o Cardeal Fernando Gonzaga, que abandonou a sua carreira eclesiástica para assumir o cargo de Soberano de Mântua e Monferrato. Após a expulsão da viúva de Vicente I, a polémica Margarida de Saboia[17], o novo duque confiou à sua tia Margarida o cuidado da única filha do falecido Francisco IV, Maria Gonzaga, com apenas 3 anos, legítima herdeira do Ducado de Monferrato[18].
Margarida Bárbara Gonzaga morreu em Mântua a 8 de janeiro de 1618 com 53 anos de idade tendo sido sepultada na Igreja de Santa Úrsula, fundada por si.[2] Em sua memória, foi publicado um epitáfio com versos de poetas que a conheceram em vida.[19]
Newcomb, Anthony (1980). The Madrigal at Ferrara, 1579-1597. Princeton, New Jersey: Princeton University Press. ISBN 0-691-09125-0.
Nutter, David. «Il sesto libro de' madrigali a sei voci (1595)». Notes: Quarterly Journal of the Music Library Association. 42 (1): 149–151. ISSN1534-150X. JSTOR898263. doi:10.2307/898263