Lourenço de Almeida (capitão-mor)

Lourenço de Almeida
Nascimento 1480
Martim (Reino de Portugal)
Morte março de 1508
Chaul (Império Português)
Cidadania Reino de Portugal
Progenitores
Ocupação explorador, militar

D. Lourenço de Almeida (Martim, c. 1480 - Chaul, Março de 1508) foi um capitão-mor de Portugal.[1][2]

Biografia

Único filho varão do vice-rei D. Francisco de Almeida e de Brites Pereira, seguiu atentamente as pisadas do pai. O "diabo louro" como era chamado, era um moço esbelto e com cerca de dois metros de altura[3], o que fazia de Lourenço uma das mais altas personagens do reino. Estreou-se nas lides militares em Tânger, onde combateu em 1501.[4]

Ulteriormente, tornou-se capitão da marinha, ao serviço do pai e, em 1505, foi incumbido por ele da missão de interceptar uma frota moura, carregada de especiarias, que singrava pelo Índico.[5] Por causa de uma tempestade, a sua embarcação desgarrou-se da rota pretendida, acabando por aportar no Ceilão, na cidade de Galle.[6]

Foi o primeiro português a alcançar esta ilha[7], tendo mantido relações comerciais amistosas e cordiais com Dharmaparakrama Bahu (1484–1514), o rei de Cota, a quem inclusive chegou a oferecer protecção militar, em troca de um tributo anual, pago em canela (uma especiaria de alto valor de revenda na Europa à época)[8][6].

Este foi o primeiro passo dado rumo à consolidação do predomínio comercial e político lusitano naquela região, tendo culminado em 1518, quando o rei de Cote outorgou aos portugueses a autorização para erigir um forte na cidade de Colombo[9], bem como um rol de concessões especiais, que lhes conferiam o direito a exercer actividades comerciais na ilha.[8] Destarte, o Ceilão passou a integrar a esfera de influência colonial de Lisboa, tendo aí permanecido até meados do séc. XVII.[10]

Por essa altura, acompanhou as forças de seu pai e em 24 de julho de 1505, conquistaram Quíloa[11].

Foi, em seguida, enviado pelo pai, em 1506, para submeter o samorim de Calecute, que ameaçara insurgir-se contra a presença portuguesa na Costa do Malabar, tendo conseguido derrotá-lo na batalha de Cananor, apesar de significativa inferioridade numérica das forças portuguesas.[12][13]

Dois anos mais tarde, em Janeiro de 1508, encontrando-se ao comando de duas frotas, incumbidas de defender as feitorias de Cochim e Cananor, foi surpreendido, junto de Chaul, por uma fragata mancomunada pelos mamelucos egípcios e por forças indianas, chefiada pelo chamado Mirocém.[13] Travou-se então a batalha de Chaul, em sede da qual Lourenço viria a ser derrotado, tendo comandado os seus homens até morrer[14][15]. A fim de dar às suas tropas a ansa para poder bater em retirada, Lourenço de Almeida ordenou que a sua embarcação ficasse para trás, na retranca, a conter o ataque dos inimigos.[16] A embarcação acabou por soçobrar, tendo Lourenço perecido dos ferimentos sofridos em combate.[1] Lourenço, visível numa armadura brilhante, era um alvo fácil. A bala de um canhão cortou sua perna na coxa. Começou uma hemorragia incontrolável. Ainda consciente, mas com a vida se esvaindo, ele pediu para que o sentassem numa cadeira ao pé do mastro. Logo depois, outro tiro esmagou-lhe o peito e o matou. Seu criado, Lourenço Freire, inclinando-se sobre seu capitão caído e chorando, foi morto ao seu lado [17]. De acordo com Camões, terá sido alvejado por dois pelouros, o primeiro despedaçou-lhe uma perna e o segundo tê-lo-á morto imediatamente.[18]

A vontade de vingar a sua morte levou o seu pai, D. Francisco de Almeida, a desobedecer à vontade do rei, recusando-se a pôr termo ao fim seu mandato como vice-rei em 1509, e a passar o testemunho a Afonso de Albuquerque, enquanto não se vingasse de Mirocém. [2]Assim, apresou a frota de Afonso de Albuquerque, e a 3 de Fevereiro de 1509 investiu ferozmente sobre Mirocém, que contava ainda com uma frota engrossada pelas hostes do Sultanato Burji do Egipto, do Império Otomano e do sultão de Guzarate, naquela que veio a ser denominada como a Batalha de Diu.[19] Sagrando-se vitorioso, Francisco de Almeida conseguiu, dum só hausto, cimentar o domínio português no Índico.[15]

A morte de Lourenço de Almeida foi ulteriormente citada por Luís de Camões, como um dos exemplos maiores do heroísmo português, no seu épico, Os Lusíadas, no canto X (estrofes 29 a 32).[20][21].

Ver também

Referências

  1. a b Este artigo incorpora texto (em inglês) da Encyclopædia Britannica (11.ª edição), publicação em domínio público.
  2. a b «Lourenço de Almeida | Portuguese explorer». Encyclopedia Britannica (em inglês). Consultado em 6 de abril de 2021 
  3. Rodrigues, J.N. (2009). Portugal: o pioneiro da globalização : a Herança das descobertas. [S.l.]: Centro Atlantico. p. 265. ISBN 978-989-615-077-8. Consultado em 21 de Junho de 2020 
  4. «History». Consultado em 21 de junho de 2020 
  5. Pieris, P. E. (1999). Ceylon and the Portuguese, 1505-1658. [S.l.]: Asian Educational Services. p. 23. ISBN 81-206-1372-4. Consultado em 21 de Junho de 2020 
  6. a b Ravindan, P.N. (2017). The Encyclopedia of Herbs and Spices. [S.l.]: CABI. p. 280. ISBN 978-1-78064-315-1. Consultado em 21 de Junho de 2020 
  7. Twentieth Century Impressions of Ceylon: Its History, People, Commerce, Industry and Resources. [S.l.]: Asian Educational Services. 1999. p. 45. ISBN 9788120613355. Consultado em 21 de Junho de 2020 
  8. a b Jayapalan, N. (2000). India and Her Neighbours. [S.l.]: Atlantic Publishers and Distributors. p. 170. ISBN 81-7156-912-9. Consultado em 21 de Junho de 2020 
  9. «The Portuguese in Sri Lanka (1505–1658)». Consultado em 21 de junho de 2020 
  10. Hugh James Rose (1857). A New General Biographical Dictionary (em inglês). University of Michigan. [S.l.]: T. Fellowes 
  11. Conquista de Quíloa, Veritatis, 23 de julho de 2021, in Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.
  12. Kozlowski, D. J. (2010). Colonialism. [S.l.]: Chelsea House Publishers. p. 44. ISBN 978-1-4381-2890-0. Consultado em 21 de Junho 2020 
  13. a b Cunha, J. Gerson (1993). Notes on the History and Antiquities of Chaul and Bassein. [S.l.]: Asian Educational Services. p. 23. ISBN 81-206-0845-3. Consultado em 21 Junho 2020 
  14. Koch, P. O. (2003). To the Ends of the Earth: The Age of the European Explorers. [S.l.]: Mc Farland & Company Inc. p. 207. ISBN 978-0-7864-1565-6. Consultado em 21 de Junho 2020 
  15. a b Livermore, H. V. (1947). A History of Portugal. [S.l.]: Cambridge University Press. p. 233. Consultado em 21 Junho 2020 
  16. Kearney, M. (2004). The Indian Ocean in World History. [S.l.]: Routledge. p. 108. ISBN 0-415-31277-9. Consultado em 21 de Junho de 2020 
  17. Crowley, Roger. Conquistadores. Editora Planeta do Brasil, 2016.
  18. Camões, Luís de (1846). Os Lusiadas. [S.l.]: Typographia rollandiana  «Com toda ũa coxa fora, que em pedaços | Lhe leva um cego tiro que passara, | Se serve inda dos animosos braços | E do grão coração que lhe ficara. | Até que outro pelouro quebra os laços | Com que co alma o corpo se liara (...)|»
  19. Rogers, Clifford J. Readings on the Military Transformation of Early Modern Europe, San Francisco:Westview Press, 1995, pp. 299–333 at Angelfire.com
  20. Camões, Luís (1818). Os Lusiadas: poema epico. [S.l.]: Officina Tipographica de Firmin Didot. pp. CXI. Consultado em 21 de Junho de 2020 
  21. Whiteway, R. S. (1989). Rise of Portuguese Power in India 1497-1550. [S.l.]: Asian Educational Services. p. 104. ISBN 8120605004. Consultado em 21 de Junho de 2020 

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