Júpiter e Leda, ou Leda e o Cisne, é uma pintura a óleo sobre tela realizada em 1798 pelo pintor português do neoclassicismo Francisco Vieira (1765-1805) e que se encontra atualmente no Museu Nacional de Arte Antiga.[1]
A pintura ilustra o mito de Leda, mulher rei de espartano Tíndaro, que se encontra com Júpiter que se junta a ela disfarçado de cisne.[2] Júpiter era tentado frequentemente pela beleza doutras mulheres e assumia vários disfarces a fim de esconder os seus encontros amorosos da sua esposa, a deusa Juno, uma vez tomando a forma de uma águia, noutra escondendo-se numa nuvem escura mesmo estando um dia claro e neste caso transformando-se num cisne.
A nota informativa do MNAA ao lado da obra exposta refere o seguinte: “Esta foi uma das três pinturas que Vieira expôs em Londres, em 1798, no Salão Anual da Royal Academy of Arts, e é por certo uma das suas obras maiores e uma das melhores paisagens da pintura portuguesa. Vieira baseou-se, para o grupo de Leda, numa gravura de um quadro de um discípulo de Nicolas Poussin (1594-1665) e, por certo, a representação da natureza é aqui devedora da pintura de paisagem do classicismo seiscentista. Une-se, nesta composição, o teatro da mitologia à paisagem teatralizada, e a pequena figura, à esquerda, que espreita a cena acentua o desvendar voyeurista com que a pintura apela ao espectador.”[3]
Descrição e história
Leda está nua e recostada sobre um manto branco, à beira de um ribeiro, aguardando a chegada de Júpiter transformado em cisne. Um cupido alado atira a seta enquanto outros amores ladeiam a deusa.[1]
Segundo Regina Anacleto, esta pintura mostra uma evolução da maneira de pintar de Francisco Vieira que aplica tonalidades mais claras e porque o desenho se torna mais suave. No arvoredo surgem com bastante densidade os castanhos, destacando-se o nu voluptuoso a recortar-se no manto carmim. O tema mitológico e que havia sido tratado por muitos pintores no passado revela uma certa frivolidade de que Vieira se afastará mais tarde.[4]
E ainda segundo a mesma académica, as pinturas mais marcantes de Francisco Vieira encontram-se nas suas paisagens com figuras, designadamente A Fuga de Margarida de Anjou e Leda e o Cisne, que apresentam as personagens submergidas pela grandiosidade da paisagem. Nesta obra diversos autores pretendem encontrar influências de Correggio, de Francesco Albani e nos pintores da Escola de Norwich (pintores estes que se inspiraram por sua vez em pintores de paisagens holandeses do Século de Ouro como Hobbema e Ruisdael).[5]
Francisco Vieira executou Leda e o Cisne em Londres, cidade onde viveu entre 1797 e 1801 e onde expôs a obra na Academia Real Inglesa.[1] Antes, cerca de 1797, Francisco Vieira havia realizado em Viena uma outra pintura de tema mitológico, Narciso na Fonte, que é considerada o par de Leda e o Cisne. Após a aquisição pelo Estado, em 2014, de Narciso na Fonte, pelo montante de 25.000 euros, as duas obras encontram-se actualmente juntas no MNAA.[6]
Galeria
Referências
- ↑ a b c Nota sobre a obra na Matriznet [1]
- ↑ Leda dá depois à luz dois ovos gigantes, dos quais nascem gémeos - Castor e Pólux de um, Clitemnestra e Helena do outro.
- ↑ Citado na página web a.muse.arte, em 26/07/2016, [2]
- ↑ Regina Anacleto, História da Arte em Portugal, Volume 10, Publicações Alfa, Lisboa, 1986, pags. 73
- ↑ Regina Anacleto, obra citada, pag. 76.
- ↑ Lucinda Canelas, Direcção-Geral do Património compra pintura de Vieira Portuense para Arte Antiga, Público, 19/12/2014, [3]
Bibliografia
- França, José-Augusto, A Arte Portuguesa de Oitocentos, Biblioteca Breve, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, Lisboa, 1992, ISBN 972-566-084-6, com acesso ao PDF da obra na página do Instituto Camões em [cvc.instituto-camoes.pt/conhecer/biblioteca-digital-camoes/arte/9-9/file.html]
Ligação externa