Jorge de Almeida SeguradoComC • OSE (Lisboa, 15 de Outubro de 1898 – 9 de Novembro de 1990) foi um arquitetoportuguês.
Foi um dos pioneiros da implementação da linguagem modernista na arquitetura portuguesa. A partir do final da década de 1930 acompanhou a mudança de rumo associada ao "gosto oficial, neo-tradicional, do Estado Novo, que praticou depois por vários anos",[1] para mais tarde regressar aos princípios do idioma modernista inicial, informado pelos desenvolvimentos mais recentes da arquitetura internacional.
A sua obra inicial da década de 1920 é marcada pela herança clássica, pela Art Déco e pela Secessão Vienense, evoluindo para uma progressiva simplificação modernizante. É o que acontece no projeto "geométrico e purista" do Liceu Masculino de Coimbra (1929-1931), de que foi coautor (com Carlos Ramos e Adelino Nunes). Data desta época a sua participação no I Salão dos Independentes (SNBA, 1930), incluído num grupo de autores e de obras inovadoras, bem como uma longa viagem que lhe permitiu contactar em direto com a arquitetura modernista europeia. Conhece obras de Walter Gropius na Alemanha e de Dudok na Holanda; em Paris visita a Exposição Colonial Internacional (1931).[3]
Datam dos anos de 1930 os projetos de diversas lojas em Lisboa (Galeria UP, Rua Serpa Pinto; Farmácia Azevedo & Filhos, Rossio; etc.) e os exemplos mais emblemáticos da sua década modernista: Casa da Moeda, considerada "uma das mais interessantes edificações dos anos 30 portugueses";[4]Liceu D. Filipa de Lencastre, Lisboa (ambos com importante colaboração de António Varela).[5][6]
Com um programa de utilização vasto e complexo que incluía zonas destinadas à indústria e oficinas, a escritórios e equipamentos de apoio, a Casa da Moeda ocupa a totalidade de um quarteirão ao Arco do Cego, Lisboa. Segurado optou por distribuir as zonas edificadas na periferia, deixando um vasto pátio preencher o espaço interior do quarteirão. O desenho global foi pensado em articulação com uma malha geométrica organizadora; e grande parte do exterior, pontuado por pilares sequenciais a meia esquadria, é revestido com tijolos cerâmicos de cor verde. Vários documentos e publicações da época atestam o impacte que este conjunto teve no meio arquitetónico português.[7]
A partir de final da década de 1930 a obra de Jorge Segurado inflete, acompanhando a generalização do estilo oficial do Estado Novo, frequentemente apelidado Português Suave, que determinou o "regresso aos múltiplos formulários neo-conservadores e tradicionalistas". Projeta os pavilhões de Portugal nas Feiras Internacionais de Nova Iorque e S. Francisco (1939) e o núcleo das Aldeias Portuguesas da Exposição do Mundo Português (1940).[8][9] Entre muitos outros projetos com estas características assinale-se o Colégio de Santa Doroteia (1935-1957), Lisboa, um prédio na Rua Visconde Coriscada, Covilhã (1943), ou a sua própria habitação na Rua de S. Francisco Xavier nº 8, Ajuda, Lisboa – Prémio Valmor 1947.[9]
Ao longo das décadas de 1940 e 1950 o seu trabalho alterna as opções claramente modernistas com as de pendor mais tradicional; a oscilação é manifesta na cerca de meia centena de postos de abastecimento que projeta para a Sacor (gosto neo-tradicional em Aljubarrota e de tipo moderno em Vilar Formoso, ambos de 1951). Procura também compatibilizar esses valores formais contrastantes em projetos como o da Estação Agronómica Nacional (1963) e da Fábrica de Fogões Portugal, Oeiras, ou da Pousada de Sagres (1960).[10]
Uma obra do período final, poderosamente moderna, "que brilha desde a sua construção como exemplo dos mais qualificados espaços de habitação plurifamiliar no Bairro de Alvalade", em Lisboa, é a do conjunto dos chamados Blocos Amarelos, na Avenida do Brasil (em associação com o seu filho, João Carlos Segurado), onde é claro o desejo de aproximação às propostas da Carta de Atenas e do urbanismo internacional mais recente.[11]
Em paralelo com a prática da arquitetura dedicou-se à investigação e aos temas de história da arte e da arquitetura portuguesa (séculos XV e XVI; século XX);[12] foi também autor de obras literárias e artísticas, tendo realizado uma exposição de desenho e pintura na Galeria Diário de Notícias, Lisboa (1983).