Antes disso, sua vida foi marcada por ter se tornado órfão ainda muito jovem, aos 9 anos de idade*. Seu tio José da Cunha Barbosa, passou a ser o responsável em educar o sobrinho, de maneira que não contrariasse a vocação natural de Januário ao sacerdócio. Vale ressaltar que Januário teve aulas com Frei Rodovalho, que instruiu outros destacados oradores, como Mont’Alverne e Carlos Sampaio.[1]
Foi nomeado, pelo decreto de 5 de Setembro de 1844, diretor da Biblioteca Nacional. Exerceu tais funções até a sua morte.[1]
Atuação na Literatura
Em sua vida, escreveu durante mais de 50 anos. Suas produções literárias se desenrolaram nos fins do século XVIII e início do XIX.[4] O contexto histórico do Brasil nessa época dividia-se entre um futuro promissor, com a Independência e suas promessas de modernidade, e um passado colonial autossuficiente. Nessa realidade contraposta, elementos do pretérito e do presente conviviam de maneira não harmoniosa, identificáveis, portanto, em suas peças isso também torna-se perceptível.[5]
Distinguiu-se como biógrafo dos principais homens de letras das gerações anteriores e mesmo dos que viveram no seu tempo. Foi um dos precursores da crítica e da história literária no Brasil. Sabe-se que muitos letrados de sua época o convidavam para presidir as recorrentes sessões literárias.[6]
O "Parnaso Brasileiro", a primeira antologia de poetas nacionais escrita por um autor brasileiro, publicada no Brasil em dois volumes, foi escrita entre 1829-1832. Possuindo motivações neoclássicas, sua notável obra pertencente ao movimento pré-romântico, já que ao reunir um corpus literário brasileiro, pode fazer os primeiros levantamentos do romantismo no Brasil.[4]
Muitas de suas obras, como A Rusga da Praia Grande e Os Garimpeiros, satirizavam figuras políticas do império e por esse motivo catálogos perderam-se de arquivos nacionais e bibliotecas. Um exemplo foi o caso da Rusga, que fazia chacota com o padre Marcelino Duarte (1788-1860) que, para atacar o regente Feijó, se unira ao grupo dos exaltados. Este, como muitos de seus escritos, só podem ser encontrados fragmentados nos jornais fluminenses do século XIX.[7]
Em grande parte dos trabalhos sobre a história da historiografia do Brasil, a figura de Januário da Cunha Barbosa é repetidamente mencionada por sua importância em promover investigações e relatórios científicos sobre as diversas regiões da nação, proporcionando os princípios da identidade cultural, social e política, apesar de exclusivamente pensado para prestigiar o Estado.[8]
Cunha Barbosa não só foi relevante, como foi o autor da proposta da fundação de uma nova associação o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, o IHGB.[9] Dentro do instituto, o cônego ocupou o cargo de primeiro secretário perpétuo, sendo assim uma figura fundamental para o crescimento da instituição, atividade que levou até o final de sua vida.[10]
Maçonaria e Política
Ficou marcado na história em episódios importantes dessa época, como o Dia do Fico e a legislatura na Assembleia Nacional Constituinte, decisiva para a quebra entre colônia e metrópole. Com o processo de separação entre Brasil e Portugal, Cunha Barbosa foi preso e deportado para Le Havre, na França, por ordem do ministro da época, José Bonifácio.[1]
Ficou com certa fama de desertor[1] por conta das mudanças no cenário político do Primeiro Reinado, que ora propiciaram o apoio do religioso Januário, ora seu afastamento de D. Pedro I.
Ao ser nomeado redator do Diário Fluminense, jornal do governo, Januário da Cunha Barbosa defendeu e apoiou fielmente o herdeiro da dinastia. Esse cenário se modificou em 7 de abril de 1831, com a abdicação do imperador ao trono. A partir deste momento, Januário mudou de lado, e passou a atacá-lo, intitulando-o entre outras palavras, de “déspota” e “tirano”, devido aos seus atos “antiliberais[1]”.
O motivo pelo qual Cunha Barbosa foi exilado, é basicamente porque o cônego era membro da loja maçônicaGrande Oriente do Brasil, grupo de Gonçalves Ledo, que defendia como ideologia política um governo regido pela soberania popular, que tivesse como representante D. Pedro I. Já o grupo de Bonifácio, valorizava uma constituição baseada em ideais da dinastia, de forma que restringisse a Assembleia Legislativa, garantindo autoridade suprema ao governante.[2]
Absolvido a 7 de outubro de 1823, após a saída dos Andradas do governo e por não haver provas no processo contra ele, voltou á pátria, sendo então nomeado por D. Pedro 1º, oficial da Ordem do Cruzeiro e também Cônego da Capela Imperial. Mais tarde o jovem Imperador lhe ofereceu sua fotografia, com dedicatória do próprio punho. Chegou a ser deputado na primeira Assembleia Legislativa, de 1826 a 1829. Entretanto, ao chegar ao fim de sua legislatura, assumiu a direção do órgão do governo, "Diário Fluminense".[1]
Conselhos a um novel ministro do Evangelho sobre a arte de pregar
Tradução
XIX
Discurso de ação de graças pelas melhoras de sua majestade imperial, o senhor D. Pedro II, celebradas na igreja de São Francisco de Paula pela primeira legião de guardas nacionais da tarde de 27 de novembro deste ano de 1833
Discurso ou sermão
1833
Discurso na fusão anual do povo maçônico brasileiro
Discurso ou sermão
1835
Discurso no fim da Missa Solene do Espírito Santo, celebrada na real capela desta cidade no dia 21 de maio, etc., antes de se proceder a eleição dos deputados para as cortes pela província do Rio de Janeiro.
Discurso ou sermão
1835
Discurso que no fim da missa solene do Espírito Santo, celebrada na igreja dos Terceiros Mínimos, etc., e que precedeu o ato da junta eleitoral de comarca no dia 15 de maio de 1821 compôs e recitou na dita igreja
Discurso ou sermão
1835
Discurso recitado na Igreja Paroquial de Santa Rita, celebrando-se o oitavo aniversário da independência do Brasil
Discurso ou sermão
1821
Discurso recitado no ato de estatuir-se o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (25 de novembro)
Discurso ou sermão
1821
Discurso recitado no G.˙. O.˙. do Br.˙.
Discurso ou sermão
1830
Discurso recitado pelo orador do Instituto Histórico e Geográfico no enterro do conselheiro José Joaquim da Rocha
Discurso ou sermão
1838
Discurso sagrado à Exaltação da Santa Cruz, na igreja dos militares em 21 de dezembro de 1837
Discurso ou sermão
1832
Discurso sobre algumas produções do Brasil que podem ser de grande utilidade, se forem promovidas e aperfeiçoadas
Discurso ou sermão
1838
Discurso sobre o abuso das derrubadas de árvores em lugares superiores a vales e sobre o das queimadas
Discurso ou sermão
1857
Diário do Governo [RJ]
Outros
1835
Epitalâmio ao augustíssimo Imperador e defensor perpétuo do Brasil, o senhor D. Pedro II, na ocasião de seu consórcio com a sereníssima Princesa das Duas Sicílias, D. Teresa Cristina Maria, por Castor Roberto, Barão de Planitz
Discurso ou sermão
1823
Investigações sobre as povoações primitivas na América
Periódico
-
Memória sobre a vantagem, necessidade e meio mais pronto de propagar a cultura e manipulação do chá
Tradução
1843
Memória sobre o cruzamento do gado vacum
Tradução
1834
Memória sobre a vantagem, necessidade e meio mais pronto de propagar a cultura e manipulação do chá
Outros
1834
Memória sobre o cruzamento do gado vacum
Outros
1837
Discurso de grande reconhecimento
Esse discurso foi feito no funeral de D. João VI, no púlpito da Capela Imperial.[1]
"Não pode o silencio da morte sufocar as vozes da justiça e da gratidão, quando a memória, dos que ela arranca dentre os vivos, desperta a lembrança de ações grandes que devem chegar á mais remota posteridade. O túmulo, abrindo-se para confundir no seu pó aqueles que o mundo distinguia, respeita todavia o poder da virtude, que salva os seus nomes dos seus terríveis estragos. Aqui finalizam, sim ! os prazeres e as afeições da terra, volvendo á terra o que dela saiu; mas aqui também começa o juízo imparcial dos homens, e quando ele assenta sobre virtude, que o mundo aprecia e que a religião santifica, então pode-se dizer que o homem desce á sepultura, porque o seu nome, muito mais valioso que mio tesouros preciosos, sobrevive ás grandezas da terra e passa abençoada sempre de geração em geração."
Pós-morte e homenagens
Devido ao grande reconhecimento em vida de Januário da Cunha,[12] após sua morte, a vida do cônego foi homenageada com o discurso de Manuel José Porto-Alegre,[1] cujas palavras ficaram registradas com grande reconhecimento pelas ações de Januário da Cunha:
"Quase um quarto de século depois da consumação desse fato estrondoso nos anais da humanidade, da criação de um novo império, veio a morte arrebatar um dos principais atores dessa cena grandiosa, em que fora protagonista o filho dos reis, o príncipe querido da liberdade no velho e novo mundo. Já não existe aquele que nessa época de entusiasmo propôs ao novo soberano do Brasil o título de Imperador, e que, no meio do terror das baionetas, erguia a sua voz impávida para anatematizar uma política opressora, que sonhava reconquistar na América um passado irreparável, e pendurar os grilhões coloniais no solo onde se haviam sentado reis, e de onde emanaram fatos, que impossibilitavam um regresso à escravidão." (RIHGB, 1867, p. 1845[13])
No dia 9 de setembro de 1847, um ano após a sua morte, atividades em prol da memória de Januário aconteceram junto a comemoração anual organizada pelos sócios do Instituto, conhecidas na época como "sessões públicas aniversárias", onde foi dito o discurso citado acima.
No ano seguinte, em 6 de abril de 1848, o Instituto realizou outra sessão pública no Paço Imperial, em homenagem os fundadores, que receberam monumentos talhados em mármore como reconhecimento de seus feitos para a história nacional.[14] Esse evento contou com a presença de mais de 400 espectadores, entre eles Ministros, Conselheiros do Estado, Câmara dos Deputados, Senado, militares, religiosos e ainda o próprio imperador D. Pedro II.
Muitos memoriais biográficos foram ainda publicados na revista do IHGB sobre o seu fundador,[15] inclusive tendo seu trabalho continuado, expondo escritores brasileiros para falar sobre o próprio país.
Referências
↑ abcdefghijPEREIRA NETO, Juscelino (2014). «A MEMÓRIA BIOGRÁFICA DE JANUÁRIO DA CUNHA BARBOSA: uma trajetória política na corte Imperial pelas páginas da Revista do IHGB (1821-1846)»
↑ abBarata, Alexandre Mansur (2006). Maçonaria, sociabilidade ilustrada e independência do Brasil. São Paulo: Editora UFJF, Annablume, FAPESP. pp. Pgs. 201, 202, 210, 2012
↑Sodré, Nelson Werneck (1999). História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad. pp. Pg. 53, 54, 57, 60, 62, 69
↑Cairo, Luiz Roberto Velloso. DO FLORILEGIO A ANTOLOGIA DA POESIA BRASILEIRA DA INVENÇÃO: UMA REFLEXÃO SOBRE O PARADIGMA DA HISTORIA DA LITERATURA BRASILEIRA. [S.l.]: UNESP. pp. Revista de Estudos da Literatura
GUIMARÃES, Lúcia Maria Paschoal. Debaixo da Imediata Proteção de Sua Majestade Imperial o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889). Rio de Janeiro, R.IHGB, 156(388) 459-613, jul.set., 1995.
GUIMARÃES, Manoel Luís Salgado. Nação e civilização nos trópicos: O IHGB e o projeto de uma História Nacional. Rio de Janeiro, Estudos Históricos 1(1) 1988 , 5-27.
CARVALHO, José Murilo. História intelectual no Brasil: a retórica como chave de leitura. ARTIGO.
BARBOSA, Januário da Cunha. Parnazo Brasileiro, ou colleção das melhores poezias dos poetas do Brasil, tanto ineditas, como já impressas (1829-1830). Rio de Janeiro. Tipografia Imperial e Nacional.
MASSIMI, Marina. Artigo: Um importante corpo documentário para a reconstrução da história da cultura no Brasil colonial: os acervos da oratória sagrada. Universidade de São Paulo.
SOUZA SILVA, Joaquim Norberto de. Modulaçoens poeticas. Precedidas de um bosquejo da historia da poesia Brasileira (1841). Rio de Janeiro.
MOREIRA, Maria Eunice. História da literatura e identidade nacional brasileira (2003). UNESP Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, Revista de Letras.