Era proveniente duma família de Valência[1] de origem berbere e o seu pai foi preceptor de Aláqueme II, que fez dele seu protegido e o nomeou secretário pessoal[2] muito antes de ter ascendido ao trono.[1] Almuxafi toda a vida teve a confiança de Aláqueme, que tinha apreciava especialmente a sua integridade,[2] e o tornou na figura mais importante da administração do califado, o que provocou muitas invejas.[3] É referido como alguém muito culto e um excelente poeta,[2]
Durante o reinado de Abderramão III(r. 929–961), antecessor e pai de Aláqueme II, foi governador de Maiorca. Durante o reinado de Aláqueme teve o controlo e a supervisão de diversas provincias.[4]
Hájibe
Graças ao favor de Aláqueme II, quando este tinha sido recentemente nomeado califa, Almuxafi ascendeu a vizir e depois a chefe da polícia da capital,[1][4][2] não obstante a que várias famílias árabes de verem com maus olhos o seu poder.[5][6] Essas famílias estavam acostumadas a ocupar os cargos mais altos da administração e consideravam Almuxafi um arrivista nepotista, especialmente quando foi confirmado como hájibe pelo sucessor de Aláqueme, Hixame II.[7]
Quando Aláqueme adoeceu, Almuxafi assumiu a direção do governo[1][8] e o califa deu-lhe o comando da guarda berbere do herdeiro.[8] Durante os seus últimos meses de vida, Aláqueme empenhou-se em dissipar qualquer ameaça ao seu filho,[9] o que o levou a transladar alguns destacados berberes para o Magrebe, nomeando-os para gerir os assuntos na região, e a expulsar para o Oriente dos cativos idríssidas em Córdova.[10] Na sequência da morte de Aláqueme, em outubro de 976, Almuxafi foi o principal apoiante de Hixame II contra os pretendentes aos trono da família omíada maiores de idade. Enfrentou com êxito a poderosa camarilha de saqalibas graças ao apoio militar da guarda berbere criada pelo califa defunto para o seu filho.[11] Após a crise sucessória, foram expulsos do palácio 800 saqalibas, devido a dois dos seus representantes tinham apoiado Almuguira, um tio paterno de Hixame, como pretendente do trono.[12][13] Almuxafi fingiu aceitar os desígnios dos conspiradores para depois reunir os partidários de Hixame.[14] Conscientes que o afastamento deste a favor do tio significava o fim do poder que detinham, os partidários do sobrinho decidiram matar Almuguira, mas nenhum se atrevia fazê-lo, até que Almançor se voluntariou. Acomanhado de alguns soldados da sua confiança, Almançor foi a casa de Almuguira e informou-o da morte do irmão.[15] Com Almuguira já amedrontado, Almançor perguntou a Almuxafi se haveria possibilidade de poupar a vida ao pretendente, tendo obtido uma resposta negativa,[15] pelo que Almançor ordenou que Almuguira fosse morto.[16] Almuxafi cumpriu assim a missão que lhe tinha sido confiada pelo califa defunto de assegurar o trono para o seu filho.[15]
Almuxafi foi confirmado como hájibe (acompanhado de Almançor como vizir) quando Hixame se tornou califa,[17][18] e colocou três dos seus filhos e outros parentes próximo em postos importantes da administração,[7] o que desgradou às principais famílias árabes, que tinham ocupado esses postos até então.[6] Almuxafi ficou com a posição de maior poder na administração do califado, ao mesmo tempo que Almançor, além de vizir, passou a ser o intermediário entre Almuxafi e a administração e o califa e a poderosa e influente mãe deste (Subh), que já há algum tempo tinha uma grande confiança no recém-nomeado vizir.[18]
Pouco tempo depois, Almuxafi cometeu um grave erro político, ao não ter conseguido responder energicamente contra os ataques dos estados cristãos e aos propor medidas defensivas que não agradaram a Subh.[19] Pelo contrário, Almançor advogou que se devia responder militarmente[20] e obteve o comando das tropas da capital para levar a cabo uma campanha punitiva, a qual se iniciou em fevereiro de 977.[21][22][23] O êxito desta campanha marcou o início do declínio do poder de Almuxafi.[22][23] Apesar das anteriores inimizades, este empenhou-se em ganhar a simpatia do poderoso general e alcaide fronteiriço Galibe, cumulando-o de honras e nomeando-o vizir,[6] além de o manter no comando dos exércitos fronteiriços.[22]
Entretanto, não tardou que Galibe se aliasse com Almançor contra o hájibe, durante a segunda campanha militar de 977 e Almançor passou a ser governador da capital, em substituição de um dos filhos de Almuxafi.[5][24] Para reforçar a sua posição, Almuxafi pediu a mão duma filha de Galibe, Asma, para um dos seus filhos, tentando com isso forjar uma aliança com o general contra Almançor.[5][24] O pedido começou por ser aceite, mas pressões da corte instigadas por Almançor levaram a que o compromisso matrimonial fosse rompido e foi Almançor quem casou com Asma.[24][25]
Este revés e o novos êxitos militares de Galibe e de Almançor levaram a que, a pedido de Subh,[25] aquele fosse nomeado como segundo hájibe,[26] uma situação inaudita, pois nunca tinha havido dois hájibes simultaneamente. Esta nomeação implicou que, na prática, o afastamento do poder de Almuxafi, pos apesar de oficialmente ainda ter o título de hájibe, na realidade as funções desse cargo passaram a ser desempenhadas pelos seus dois adversários.[25] No final de 977 ou em março de 978,[b] Almuxafi caiu definitivamente em desgraça, tendo sido destituído e substituído por Almançor no cargo de segundo hájibe.[16][24]
Últimos anos
Na sequência da destituição, os familiares de Almuxafi perderam também os cargos que detinham. O antigo hájibe esteve preso várias vezes e sofreu constantes humilhações por parte de Galibe e de Almançor, que o obrigaram a viver em condições miseráveis e a acompanhá-los em algumas expedições militares.[16] Depois de em várias ocasiões em vão ter pedido perdão, acabou por morrer em 983, possivelmente evenenado por ordem de Almançor.[16][26]
Notas
A maior parte do texto foi inicialmente baseado na tradução do artigo «Yaáfar al-Mushafi» na Wikipédia em castelhano (acessado nesta versão).
↑Nome mais completo: جعفر بن عثمان بن نصر بن قوي بن عبد الله بن كسيلة; romaniz.: Jaafar bin Othman bin Nasr bin Qawi bin Abdullah bin Kusayla
↑Há divergências sobre a data de destituição de Almuxafi. Alguns historiadores, alegadamente a maioria, aponta finais de 977,[27] mas há outros que referem março de 978, poucos dias depois do casamento de Almançor com a filha de Galibe,[28][26]
Kennedy, Hugh (1996), Muslim Spain and Portugal: a political history of al-Andalus, ISBN9780582495159 (em inglês), Longman
Lévi Provençal, Évariste (1957), Menéndez Pidal, Ramón; Torres Balbás, Leopoldo, eds., Historia de España: España musulmana hasta la caída del califato de Córdoba: 711-1031 de J.C., ISBN9788423948000 (em espanhol), Tomo IV, traduzido por García Gómez, Emilio, Espasa-Calpe