A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, também conhecida como Igreja Matriz de Vila do Bispo ou Igreja de Nossa Senhora da Conceição, é o principal monumento religioso na localidade da Vila do Bispo, na região do Algarve, em Portugal. A igreja integra-se no estilo barroco, destacando-se a fachada principal setecentista, a torre sineira, os azulejos, e o retábulo da capela-mor com talha dourada também do século XVIII.[1]
Descrição
A igreja é dedicada a Nossa Senhora da Conceição.[2] Situa-se na Praça da República, na localidade de Vila do Bispo.[3] É considerada como um dos melhores exemplos do estilo barroco no Barlavento Algarvio, e o mais importante monumento religioso da época moderna naquela região.[4] A traça do imóvel já não é a original, devido às várias obras que foram feitas ao longo da sua história, embora ainda mantenha alguns elementos seiscentistas e setecentistas.[4]
A fachada principal apresenta uma traça típica do século XVIII,[5] sendo de pano único ladeado por pilares-cunhais, rematados por pináculos.[4] O portal principal, de verga recta, tem uma moldura com frontão no topo, encimado por um óculo quadrilobado.[4] A fachada termina num frontão de forma circular, com um grande cornijamento, e um entablamento decorado com volutas em contracurva, sendo o conjunto encimado por uma cruz axial.[4] Adossados à igreja estão dois anexos, sendo o Sul correspondente à sacristia, enquanto no Norte foi instalado um pólo museológico.[3] No lado Sul do edifício encontra-se a torre sineira, de secção quadrangular, com dois registos divididos na fachada por frisos, e arcarias sineiras em volta perfeita.[4] Os cunhais em cantaria são rematados por pináculos, sendo a torre encimada por uma pirâmide central.[4]
O interior da igreja destaca-se pela sua riqueza decorativa, no estilo barroco do século XVIII.[4] É composto por uma só nave longitudinal,[4] com baptistério, duas capelas consagradas ao Senhor dos Passos e a Nossa Senhora do Monte do Carmo, e um altar dedicado a São Vicente.[6] Também existe um retábulo dedicado a São José, onde foi utilizada uma fórmula semelhante à do retábulo principal.[7] As paredes da nave são cobertas por azulejos em tons azuis, com desenhos de jarros e golfinhos.[5] A cobertura é composta por caixotões de madeira em três lanços, pintados com motivos vegetalistas,[4] em brutesco acântico,[8] e espirituais, tendo originalmente um brasão de armas de Portugal no centro.[2] A capela-mor é de planta rectangular e tem cobertura em abóbada de berço,[4] pintada igualmente com motivos de acantos,[8] e com uma representação da santa padroeira.[2] Está separada da nave por um arco triunfal, a pleno centro.[4] O retábulo está decorado com talha dourada setencentista, e possui uma estátua quinhentista de Nossa Senhora da Conceição.[5] É composto por banco, sotobanco e corpo único, e tem só um tramo, ladeado por colunas pseudo-salomónicas e pilastras, suportando um ático composto por dois arcos plenos no estilo salomónico e duas arquivoltas, todos com sete raios, e com uma cartela no centro.[9] A tribuna é de grandes dimensões, com um trono em degraus, de forma piramidal.[9] A sua abóbada está decorada de forma semelhante à da capela-mor.[4] As três capelas no interior são todas rematadas por arco de volta perfeita, e possuem retábulos com talha dourada joanina.[4]
O retábulo da Capela de Nossa Senhora do Carmo apresenta uma planta plana, de corpo único dividido em três tramos, com quatro colunas no estilo pseudo-salomónico.[9] No centro encontra-se a tribuna com sacrário, e nos espaços laterais entre as colunas situam-se nichos com imagens de vulto perfeito, suportadas por mísulas.[9] O ático é circunscrito por dois arcos plenos, de traça salomónica, divididos por dois raios, e com uma cartela central.[9] A decoração em talha dourada continua ao longo do intradorso e abrange igualmente a entrada da capela, com pedestais, duas pilastras, e um arco de volta perfeita marcado por uma carteia central, ostentando o brasão carmelita.[9] O retábulo da outra capela lateral também é de planta plana, e possui um banco e corpo único, estando igualmente organizado em três tramos com quatro colunas no estilo pseudo-salomónico, tendo no centro um nicho para uma imagem de vulto perfeito.[9] O ático é delimitado por dois arcos plenos, também de feição salomónica, com dois raios e uma carteia no centro.[9] O revestimento em talha dourada continua igualmente pelo intradorso até à entrada da capela, que possui quatro pilastras e um arco de volta perfeita, sendo este conjunto encimado por um entablamento.[9]
Na sacristia encontra-se um arcaz seiscentista, coroado por um calvário,[2] várias imagens do século XVIII, e dois painéis quinhentistas com retratos dos apóstolos São Pedro e São Paulo.[5] O museu expôe várias alfaias religiosas, paramentos e diversos vestígios arqueológicos,[2] sendo de especial interesse duas imagens quinhentistas de Nossa Senhora.[5]
História
Não se conhece ao certo qual foi a data de construção da igreja, embora nos inícios do período quinhentista já existam referências à sua presença,[4] tendo provavelmente sido construída entre os finais do século XV e os princípios do XVI.[4] Em 1534 foram feitas grandes obras no edifício,[3] e nos princípios do século foi elaborada a estátua de Nossa Senhora da Conceição, no altar-mor.[5] A igreja terá sido totalmente reconstruída no século XVII, na sequência da elevação da localidade à categoria de vila, por uma carta régia de 6 de Agosto de 1663, de D. Afonso VI.[3] O edifício conheceu depois algumas intervenções no século XVIII, tendo os azulejos na nave sido instalados na primeira metade daquela centúria,[5] enquanto que a fachada principal também poderá ter sido concluída durante aquele período, embora o coroamento só foi provavelmente terminado após o Sismo de 1755.[4] A torre sineira também poderá ser da época setecentista.[4] Segundo os registos paroquiais, as talhas douradas foram executadas em 1726.[3]
Na obra Corografia do Reino do Algarve, publicada em 1841 por João Baptista da Silva Lopes, a igreja é descrita como «em bom estado; tem huma custodia preciosa, e ricas alfaias».[10] Na obra Portugal antigo e moderno, de 1873, Pinho Leal refere que «As festas principaes que n'ella se celebram são a da padroeira, N. S. da Conceição, no dia 8 de dezembro, e a de S. Vicente no dia 22 de janeiro».[11] O edifício foi classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto n.º 42:007, de 6 de Dezembro de 1958, com o nome de Igreja Matriz de Vila do Bispo.[12] Nesse ano o altar desta igreja foi colocado na Capela de Santo António, em Budens.[3] Por volta de 1960, foi alvo de obras de restauro por parte da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.[1] A igreja foi danificada pelo Sismo de 1969.[4]
↑PORTUGAL. Decreto n.º 42:007, de 6 de Dezembro de 1958. Ministério da Educação Nacional - Direcção-Geral do Ensino Superior e das Belas-Artes. Publicado no Diário do Governo n.º 265, Série I, de 6 de Dezembro de 1958.
LAMEIRA, Francisco Ildefonso da Claudina (1999). A talha no Algarve durante o Antigo Regime (Tese de Doutoramento). Universidade do Algarve. Consultado em 5 de Dezembro de 2021