É considerado um dos maiores vultos do cinema alemão, e o mais notável e proeminente diretor a emergir da escola do expressionismo alemão, juntamente com Friedrich Wilhelm Murnau,[2] muito embora Lang tenha sempre negado qualquer relação com o movimento expressionista.[3]
Fez numerosas viagens (África do Norte, Próximo Oriente, China, Japão…) que lhe desenvolveram o gosto pelos ambientes exóticos que magistralmente retratou nos seus filmes.[7] De regresso à Alemanha, participou na Primeira Guerra Mundial e foi gravemente ferido, tendo perdido um olho. No hospital, onde permaneceu longo tempo, começou a escrever roteiros para Joe May os quais eram dotados de um forte grafismo, no campo do fantástico e do demoníaco. O êxito desses argumentos levou a que fosse convidado para realizar filmes.
A fase expressionista
A efervescência cultural, política e social da Berlim do pós-guerra, se reflete nas suas primeiras obras. Em 1919 estreou na direção com um filme chamado Halbblut, que se encontra perdido, acerca do qual se sabe muito pouco. Alcançou o primeiro sucesso com Os Espiões, do mesmo ano de sua estreia.
Em 1921, casou-se com a roteirista Thea Von Harbou, que escreveu os argumentos de quase todos os filmes desta primeira fase da carreira. As películas que Lang dirigiu ainda na fase do cinema mudo ficariam para a história como alguns dos maiores expoentes do expressionismo alemão:
Der müde Tod (1921) - variação onírica sobre a morte e o amor, em que o exotismo se alia com a meditação sobre o sentido da vida e da morte. É considerada uma obra-chave para o primeiro período do expressionismo alemão;[8]
Die Nibelungen (1924) - um filme sobre o fantástico mitológico, com as suas estruturas admiravelmente equilibradas;
Metropolis (1927) - obra sobre a relação entre as máquinas e os trabalhadores nas grandes cidades, com ênfase pro sentimento de humanidade perdido no processo. Um de seus maiores trabalhos;
Spione (1928) - a luta contra uma organização misteriosa e implacável;
M (1931) - uma das obras mais lendárias e um dos expoentes máximos da sua carreira.[9][10]
O casal foi convidado por Adolf Hitler, por intermédio do Ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, para produzir filmes para o Partido Nazista. Hitler era fã de cinema, e conta a lenda que a sua decisão de convidar Lang surgiu após ter assistido Metropolis. Enquanto que Thea aceitou a função, Lang fugiu para Paris,[13] onde chegou a produzir filmes antinazistas. Em 1934, depois de se ter divorciado de Thea, emigrou para os Estados Unidos.
Eu deixei a Alemanha porque eu não podia compactuar com o regime e as ideias nazistas.
[13]
— Fritz Lang
A fase estadunidense
Começa então a sua fase mais incompreendida. A crítica que unanimemente tinha enaltecido os seus filmes alemães, era agora também quase unânime a subvalorizar as obras que realizava nos Estados Unidos, argumentando que Lang se teria subjugado aos produtores americanos, desperdiçando o seu talento em filmes comerciais. Só na década de 50 se percebeu a injustiça, quando uma boa parte dessa crítica começou a reconhecer a grande qualidade da maioria dos filmes dirigidos pelo cineasta alemão em Hollywood. Ele foi um dos primeiros cineastas a dirigir Marilyn Monroe - no filme Só a mulher peca, Clash by Night, de 1952.
You Only Live Once (1937) - que confere ao filme noir a dimensão das grandes tragédias e onde toma o partido dos culpados, vítimas dos erros da sociedade;
Man Hunt (1941), Hangmen Also Die (1943) e Ministry of Fear (1944) - constituem libelos antinazistas, onde o prazer de aniquilar se sobrepõe à instância sócio-política;
É irônico que este imigrante americano [Fritz Lang] seja mais admirado, nos Estados Unidos, pelo seu trabalho realizado na Alemanha, e, na Europa, pelos filmes que fez na América.
[15]
No final da década de 1950, retornou para Alemanha e ainda realizou três filmes antes de se aposentar. Dois deles retomavam a temática do exotismo. O último foi uma revisitação de Mabuse - Os Mil Olhos do Dr. Mabuse -, com o qual encerrou a sua carreira.
Atuou ainda no filme O Desprezo (1963) de Jean-Luc Godard. Logo, voltaria para os Estados Unidos, onde veio a falecer quase cego.
Um diretor é alguém que deve não apenas estudar as pessoas, mas de certo modo amá-las. E quando eu digo amá-las, eu quero dizer compreendê-las, compreender o porquê delas fazerem certas coisas.
[17]
↑ abJoão Bénard da Costa (1984). Catálogo do Ciclo de Cinema de Ficção Científica. Cinemateca Portuguesa e Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 514pp.
↑Henri Langlois (1956) Imagens do cinema alemão, in Catálogo do Ciclo de Cinma Alemão (1918-1933 / 1965-1980). Cinemateca Portuguesa, Fundação Calouste Gulbenkian e Instituto Alemão, Lisboa, 174pp.