Doutor em Letras e professor emérito de psicopatologia na Universidade de Paris VII, membro titular da Association Psychanalytique de France, amigo do psicanalista e escritor Jean-Bertrand Pontalis, François Gantheret foi um dos redatores da Nouvelle Revue de Psychanalyse, (NRP), entre 1978 e 1994. O que uniu os dois analistas foi, antes de tudo, o interesse que têm pela psicanálise e pela escritura. Contudo, mesmo se várias vezes ele evoca em seu ensaio aspectos do pensamento de Pontalis, a posição que ele adota não é a de um discípulo com relação ao mestre . Assim, François Gantheret escreveu « Não , J.-B. Pontalis não construiu ‘’uma obra’’. Se não construiu uma obra, também não teve ‘’discípulos’’, uma correlação muitas vezes constatada (…) Nada disso com Pontalis, e entretanto uma indiscutivel presença em tantas pessoas aqui reunidas. Porém, não sob a forma de uma figura, de fórmulas ou de dogmas, mar por uma maneira livre de ser e pensar [1].
A propósito, ele escreveu « Naturalmente, tudo começou com minha análise pessoal, inseparável da minha experiência na Nouvelle Revue de Psychanalyse(NRP), onde cheguei atendendo a um convite feito por J.-B. Pontalis, a quem serei eternemante grato . Como comunicar alguma coisa da ‘’experiência analítica’’, de seu movimento sem desnaturá-la? Esta era minha principal preocupação » [2].
Ao se tornar um dos membros da redação da NRP, François Gantheret voltou-se para uma forma de escritura literária que lhe pareceu a mais adequada para dar conta da experiência do trabalho do analista. Ele explicou sua decisão e a surpresa que a nova revista suscitou em certos leitores « Isto levou-nos a ser acusados por alguns defensores do cientismo em psicanálise como sendo uma revista mais literária do que analítica» [3].
Transmitir a experiência pela ficção
Assim, convencido de que a descrição de uma cura psicanalítica, mesmo feita de maneira minuciosa, a narração de caso ou a famosa ilustração clínica não podem dizer a verdade sobre este singular encontro entre o analista e o analisando, François Gantheret enveredou por uma forma de escritura psicanalítica ficcional : « Fui bem mais longe nesta direção, o que foi percebido como uma provocação, o que era realmente. Na presença de numerosos analistas, defendi a ideia de que a ficção era a única maneira de se transmitir a experiência psicanalítica » [4]. Ele havia convencido os participantes do colóquio que sua conferência havia sido feita baseando-se num fragmento de uma verdadeira análise. E quando “revelou, ao fim de sua conferência, a natureza ficcional de sua narração , foi alvo de críticas de uma parte do público que o escutava. Disseram que eu os tinha enganado e a palavra impostura foi até pronunciada » [5].
Continuando nessa direção, François Gantheret escreveu novelas de ficção(…) ‘’de divã (…) guardando ao mesmo tempo o rumo da psicanálise ’’ (Ibid page 22). Ele pode começar seu trabalho a partir do detalhe de um sonho, de uma imagem, de uma palavra que ouviu durante um sessão de psicanálise, de um lapso, de uma associação de ideia que lhe chega ao espírito na sequência de uma frase, de uma palavra que o afeta … Mas ele também quer encontrar o modo de funcionamento, a forma, o estilo mais apropriado à comunicação : ‘‘Redijo meu trabalho de manhã bem cedo, e, durante as horas que passo escrevendo, acho que o meu espírito funciona da mesma maneira que vai funcionar mais tarde, durante meu trabalho de analista’’ [6].
Escritura automática
Seu trabalho de escritura é próximo do que os surrealistas chamaram a escrituraautomática : «Passiva, a pessoa que escreve se limita a registrar: em suma, trata-se de escrever num estado segundo(…) o que nos dita o inconsciente (…) sem nenhuma intervenção do espírito crítico. Deixamo-nos levar pela vontade das associações de ideias, pelo fluxo das imagens, sem nenhuma preocupação de ordem estética » [7].
A implantação da psicanálise na França deve muito a André Breton e seus amigos, entre eles os pintores surrealistas André Masson e Salvador Dali. E, após a guerra, deve se este enraizamento e escritores como Georges Bataille e Michel Leiris. Neste contexto, « chegou Jacques Lacan, que, de uma certa maneira, prosseguiu na mesma direção. Amigo de Bataille e de Massonele, frequenteu também os surrealistas, reconhecendo sua dívida para com eles numa passagem dos Écrits : ‘'A poesia moderna e a escola surrealista nos levaram a dar aqui um grande passo (…)’’ » [8].
Libido Omnibus et autres nouvelles du divan( Libido Omnibus e outras novelas do divã) , Gallimard, 2001, ISBN978-2070420377, 207042037X
Résistances, avec Catherine Chabert et Michel Gribinski( Resistências, com Catherine Chabert et Michel Gribinski), Editor : Associação Psicanalítica da França, 2002
La nostalgie du présent Psychanalyse et écriture(Nostalgia do presente, psicanálise e escritura), Éditions de l’Olivier, Editor Gallimard, ‘’Collection Blanche’’, 2007, ISBN978-2-87929-693-7
Artigos
« Le pouvoir des racines », in « Pouvoirs », Nouvelle Revue de Psychanalyse n.8, pages 95-113, Gallimard, Paris, 1973.
« Trois mémoires », in « Mémoires », Nouvelle Revue de Psychanalyse n°15, pages 81-91, Gallimard, Paris, 1977.
« Une parole qui libère », in Le Signifiant pour quoi dire ?, ouvrage collectif auquel ont participé les psychanalystes André Beetschen, Catherine Chabert, Dominique Clerc-Maugendre, Michel Gribinski, Jean-Claude Lavie, Danielle Margueritat, J.-B. Pontalis, Jean-Claude Rolland et Guy Rosolato. Ce live a été edité par l’Association Psychanalytique de France, février 1998.
D’un nécessaire naufrage du moi, Le Monde des livres du 24 mai 2007, à l’occasion des Assises internationales du roman, Lyon, mai-juin 2007.
Avant-propos de François Gantheret et Jean-Michel Delacomptée dans ‘’Le royaume intermédiaire’’, Psychanalyse, littérature, autour de J.-B.Pontalis, Folio, essais, 2007, ISBN978-2-07-034775-9
« Quelques éléments de recherche sur la place du biologique dans la théorie psychanalytique », in Psychanalyse à l’Université (revue fondée par Jean Laplanche), Editions Rèplique, T.1, N°1, Déc.1975, pages 97-104,
« Etude d’un modèle perspectif en psychanalyse » (suite et fin), in Psychanalyse à l’Université (revue fondée par Jean Laplanche), Editions Rèplique, T.1, N°1, janvier 1986, pages 5-18, ISSN 0238-2397
Fontes
Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em francês cujo título é «François Gantheret», especificamente desta versão.
Referências
↑Avant-propos du livre « Le Royaume intermédiaire. Psychanalyse, littérature, autour de J.-B. Pontalis », Folio essais, Gallimard, 2007, p.14.
↑ François Gantheret, « La nostalgie du présent, psychanalyse et écriture » , Éditions de l’Olivier, 2010, p. 10.
↑ François Gantheret , « La nostalgie du présent, psychanalyse et écriture » , Éditions de l’Olivier, 2010, p. 17.
↑ François Gantheret, « La nostalgie du présent, psychanalyse et écriture », Éditions de l’Olivier, 2010, p. 17et 18.
↑ François Gantheret , « La nostalgie du présent, psychanalyse et écriture » , Éditions de l’Olivier, 2010, p. 19.
↑ François Gantheret , « La nostalgie du présent, psychanalyse et écriture » , Éditions de l’Olivier, 2010, p. 22.
↑ La Littérature française de A à Z, sous la direction de Claude ETERSTEIN, Hatier, p. 149, ISBN 2-218-72086-8.
↑Bernard Pingaud, « Les contrabandiers de l’écriture »,in « Regards sur la psychanalyse en France »,Nouvelle Revue de Psychanalyse, N° 20,Gallimard, 1979, pages 141-162.