Formação do Brasil Contemporâneo

Formação do Brasil Contemporâneo
Autor(es) Caio Prado Júnior
Idioma Português
País Brasil
Assunto História do Brasil
Gênero Análise historiográfica
Editora Companhia das Letras
Lançamento 1942
Páginas 464
Malha ferroviária do Brasil em 1910. Seu desenho pode ser entendido como uma evidência de que o Brasil tinha sua economia voltada para o mercado externo. Nota-se que as ferrovias não integram o território do país, mas apenas ligam o interior aos portos. Além disso, essa disposição das ferrovias pode prejudicar o desenvolvimento do mercado interno.[1]

Formação do Brasil Contemporâneo é um livro do historiador Caio Prado Júnior. Lançado em 1942, o seu tema é em torno dos três séculos do Brasil colônia. Caio Prado pretendia escrever mais dois livros, um retratando o Brasil Império e outro sobre a história do Brasil pós-1889, completando assim uma trilogia acerca de sua interpretação sobre o país (assim como realizou Gilberto Freyre com Casa-Grande & Senzala, Sobrados e Mucambos e Ordem e Progresso).

A meta que o autor pretendia atingir com a sua obra era "uma síntese do Brasil que saía, já formado e constituído, dos três séculos de evolução colonial".

Nessa obra o autor[2] analisa o país a partir de uma óptica econômica, mostrando que o Brasil faz parte de um empreendimento maior - o contexto da expansão marítima portuguesa em busca dos mercados orientais. Em sua mais ilustre passagem da obra, na qual discute o sentido da colonização, mostra que o desenvolvimento da colônia (povoamento, atividades comerciais, agricultura) atendeu aos interesses da metrópole (Portugal). Caio Prado afirma que o Brasil só se constitui "para fornecer tabaco, açúcar, alguns outros gêneros; mais tarde, ouros e diamantes; depois, algodão, e em seguida café, para o comércio europeu".

Ao final, Caio Prado faz um balanço negativos dos três séculos da colonização, pois tratou-se somente de uma "exploração extensiva e simplesmente especuladora, instável no tempo e no espaço, dos recursos naturais do país".

Em sua obra, Caio Prado busca salientar a formação econômica do povo brasileiro, bem como o desenvolvimento do capitalismo. No seu conjunto, a colonização toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. E este é o verdadeiro sentido da colonização tropical, de que o Brasil é uma das resultantes; e ele explicará os elementos fundamentais, tanto no plano econômico como no social, da formação e evolução da formação da história dos trópicos americanos.

Se vamos à essência da nossa formação, veremos na realidade que nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde ouro e diamantes; depois, algodão e, em seguida, café, para o comércio europeu. Nada mais que isto. É com tal objetivo, exterior, voltado para fora do país e sem atenção a considerações que não fossem o interesse daquele comercio, que se organizarão a sociedade e a economia brasileiras.

O sentido da evolução ainda se afirma por aquele caráter inicial da colonização.

O conceito de "sentido" como ruptura dentro do pensamento social brasileiro

Caio Prado foi o primeiro a nacionalizar o marxismo. Mais do que um acadêmico ou pensador, o historiador Caio Prado Jr primou pela coerência. Preso, perseguido ou marginalizado dentro da própria organização política que militava, não se deixou seduzir por sua classe social de origem - a burguesia. Prado foi o primeiro a usar o método marxista do materialismo histórico para analisar a condição brasileira. Ele não vê o marxismo como um conjunto de fórmulas prontas com uma validade universal, mas o vê muito mais como uma abordagem. Ele lida com fatos em termos de relações, processos e estruturas, localiza e explica desigualdades, diversidades e contradições sociais. A partir dessa perspectiva, ele vai tentar entender a particularidade, a especificidade da experiência brasileira, numa referência claramente marxista (Ricupero). Sua "redescoberta do Brasil" foi mais radical do que a de Gilberto Freyre e a de Sérgio Buarque de Holanda. Ele representaria o "Bem", ao lado de S. B. de Holanda, contra o "Mal", representado por Gilberto Freyre, na análise comparativa feita pelos historiadores paulistas. "Redescobrir o Brasil" significa ver que ao lado da elite existe a grande massa da população brasileira e, nesta "face oculta", reside o verdadeiro Brasil.

Embora Caio Prado não tenha obtido muito sucesso com suas obras filosóficas, todas as suas grandes obras são de síntese e nelas ele se pergunta sobre "o sentido da história brasileira". Caio Prado entende como “sentido” a história de um povo analisada num processo de longa duração observando-se os elementos essenciais (aqueles que direcionam os acontecimentos gerais) existentes. Desta maneira, o autor visa pensar o específico sem perder de vista o movimento que lhe transcende. Ele percebe uma continuidade de sentido entre o passado colonial e o tempo contemporâneo. Por isso busca compreender o Brasil contemporâneo a partir de seu passado, de modo a perceber qual é o sentido histórico do Brasil. No caso, a produção de capital externo.

O esforço de síntese e a pergunta sobre o "sentido" caracterizam geralmente o temperamento filosófico: uma preocupação com a identidade, uma interrogação sobre o "ser brasileiro" e sobre o "tornar-se brasileiro". Ele parte do abstrato, buscando compreender o sentido da colonização, para o concreto, demonstrando os resultados práticos do processo de colonização.

Ter em vista o "sentido da colonização" do Brasil desde o seu início é compreender o essencial do Brasil. E desde o início, integrado à expansão mercantil, o Brasil é capitalista. Prado mostra como as modificações pelas quais o Brasil passara e estava passando eram superficiais, havendo sempre a presença incômoda, invencível e indissociável no processo de evolução nacional. O país sempre compartilhou do mesmo sistema e das mesmas relações econômicas que deram origem ao capitalismo. O escravismo que predominou aqui não é incompatível com o modo de produção capitalista. A abolição da escravidão será a culminação de um modo de produção já implantado desde o início. O trabalho escravo satisfaz às exigências do trabalho livre, exceto quanto à liberdade individual do trabalhador de ir e vir e ser contratado e distratar. Ambos, escravos e livres, recebem uma compensação pelos serviços prestados e ambos lutam por objetivos comuns: a melhoria desta remuneração.

Prado Júnior argumenta que a estruturação da sociedade brasileira está fortemente ligada à exploração econômica e ao modelo de colonização adotado desde os primórdios da história do Brasil. Ele enfatiza a influência do sistema de produção baseado na monocultura, como a produção açucareira e posteriormente a cafeicultura, na configuração das relações sociais, políticas e econômicas do país.

Além disso, o autor aborda as relações de trabalho, a formação das classes sociais, o papel do Estado e as dinâmicas de poder que caracterizam a realidade brasileira. Sua análise busca evidenciar como esses elementos se entrelaçaram ao longo do tempo para dar forma à sociedade brasileira contemporânea.

Em resumo, o conceito central do livro "Formação do Brasil Contemporâneo" é oferecer uma interpretação crítica e estrutural da formação histórica do Brasil, destacando o papel da economia e da colonização na configuração das bases sociais, políticas e econômicas do país.[3]

Nas palavras de Plínio Sampaio, o historiador deixa um legado para a esquerda mais amplo do que sua obra e ainda gera debates e contribuições. Entretanto, deve-se ressaltar que o autor é criticado por ser economicista e censurado por não utilizar fontes primárias.

Referências

  1. Galeano, Eduardo (29 de setembro de 2010). As veias abertas da América Latina. [S.l.]: L&PM Editores. p. 258 
  2. Prado Júnior, Caio; Novais, Fernando A.; Ricupero, Bernardo (2011). Formação do Brasil contemporâneo: colônia New ed. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras 
  3. Prado Júnior, Caio; Novais, Fernando A.; Ricupero, Bernardo (2011). Formação do Brasil contemporâneo: colônia New ed. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras 
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