Os Safra são uma proeminente família de ascendência judaico-libanesa com origem mais remotas na Síria. Ela está fortemente associada ao setor bancário, mais especificamente ao Banco Safra.[1][2][3][4][5] Os principais membros do clã são oriundos do banqueiro Jacob Safra, responsável pela imigração e estabelecimento da família no Brasil.[6] Em seu primeiro casamento, com Esther Teira,[7] Jacob teve nove filhos. Da segunda união, com Marie Dwek,[8] não houve descendentes.[9][10][11] Em 2023, os Safra tornaram-se a família mais rica do Brasil e a centésima mais rica do mundo.[12]
Os Safra são conhecidos por sua discrição, e mantém seus registros em árabe antigo, língua conhecida apenas por parte da comunidade sefardita, no Oriente Médio.[13]
História
Império Otomano e Líbano
A família Safra enriqueceu durante o século XIX quando em 1800, em Alepo a família atuava trocando dinheiro vindo da África, Ásia e Europa. Depois, em 1840, a família cria o banco Safra Frères et Cie. passa a financiar caravanas de camelo de comerciantes que atuavam no Oriente Médio. O banco fez tanto sucesso que eles passaram a operar em Alexandria e Istambul.[13][14][15][16] Em 1914, a pedido de seu tio, Erza, Jacob Safra fundou uma filial do banco em Beirute, no Líbano.[13] A família se tornou muito proeminente na região, mas com a queda do Império Otomano, o comércio em Alepo caiu drasticamente, e a família se mudou para Beirute. Em 1929, Jacob rompeu com sua família e criou o Banco Jacob E. Safra. O banco se tornou o mais usado entre os comerciantes sefarditas, que negociavam na área que se estende da Síria ao Iraque. Seu sucesso se deu principalmente por usar o árabe antigo nos registros formais bancários, que era falada apenas entre sefarditas de classe alta. Assim, o seu banco possuía uma camada extra de proteção, já que se os registros fossem roubados, eles não poderiam ser entendidos.[13][14]
Mudança para o Brasil
Após a criação do estado de Israel em 1948, os judeus passaram a ser perseguidos na região. Em 1949, a família se mudou para Milão, na Itália, e Jacob deixou seu banco nas mãos de Nassim Eliau Sassoon.[14] Em 1952 Jacob se mudou para São Paulo, no Brasil. Lá, em 1955, criou o Banco Safra SA, que administrava o dinheiro de outros judeus. Em 1956, Edmond Safra saiu do Banco Safra e criou o Trade Development Bank, em Genebra, na Suíça.[16] A comunidade judaica no Brasil temia que o governo pudesse se voltar contra eles, assim como aconteceu na Alemanha e no Oriente Médio. Por isso, com a criação do banco na Suíça, o dinheiro de seus clientes estaria a salvo.[14]
Saída de Edmond Safra
Em 1963, após a morte de Jacob, Edmond, Joseph e Moise passaram a ter divergências sobre como gerir o patrimônio da família. Jacob e Moise queriam expandir o Safra SA para o mercado privado e corporativo, enquanto Edmond queria criar outro banco. Em 1964, Edmond vendeu suas ações do Safra SA para seus irmãos, 50% para cada.[14]
Em 1966, Edmond criou o Republic National Bank of New York, que em 1980 já era o terceiro maior banco de Nova Iorque. O banco fez tanto sucesso que expandiu para o Canadá, Londres, Luxemburgo e Mônaco. Porém, nos anos 80, Edmond foi forçado a vender o Trade Development Bank para o American Express por US$ 650 milhões devido à Crise da dívida externa latino-americana. Anos depois, o American Express se recusou a revender o banco para Edmond, que criou um banco concorrente ao Trade Development Bank. O American Express criou uma campanha de difamação contra os Safra, mas acabou pedindo desculpas e pagando US$ 8 milhões para uma instituição de caridade da escolha de Edmond.[13][14] Em 1999, Edmond vendeu o Republic National Bank of New York para HSBC Holdings Plc por US$ 10 bilhões.[16]
Crescimento do Grupo Safra
Em 1998, o Grupo Safra, junto com a BellSouth e o Grupo Oesp, criaram a BCP, que deveria servir como uma empresa-espelho para concorrer com as grandes empresas de telecomunicação durante o processo de privatização da Telebrás. Ela foi uma das primeiras empresas de telecomunicação privadas do Brasil, mas faliu em 2003 e foi vendida para a Telmex.[17]
Em 2006, Moise vendeu sua parte do Banco Safra para Joseph. Em 2009, o Grupo Safra foi afetado pelo escândalo financeiro de Bernie Madoff. Em 2011, o grupo adquiriu o Banco Sarasin por US$ 2,1 bilhões. Assim, a família Safra passou a controlar US$ 196 bilhões. Em 2019, Alberto Safra se desligou da família para criar o ASA Investments.[16] Em 2014, o Grupo Cutrale e o Grupo Safra adquiriram a Chiquita Brands International Inc por US$ 682 milhões.[18]
Em 2020, quando Joseph morreu, ele já era o segundo homem mais rico do Brasil.[16][19] Vicky Safra e seus filhos herdaram o Banco Safra e outras posses, e em 2023 a família se tornou a mais rica do Brasil e a centésima mais rica do mundo.[12][20] Porém, ainda em 2023, Alberto Safra abriu uma ação na Superma Corte do Estado de Nova Iorque contra sua mãe e dois irmãos, acusando-os de ter diminuido sua participação na holding Safra National Bank, com o objetivo de expulsá-lo do império da família.[21] A família alega que Alberto "atentou contra o pai em vida" e agora "em memória". Ele teria recebido a herança de Joseph e, entre outras coisas, criado um banco concorrente do Safra, contratando vários executivos do grupo.[22] Em julho de 2024, a família anunciou a resolução do conflito, onde Alberto “se desinvestirá de seus interesses no Grupo J. Safra e perseguirá seus interesses empresariais através da ASA”. A família anunciou estar satisfeita com o resultado.[23]
Filantropia
A família Safra é conhecida por sua filantropia. Atualmente, ela é gerida por Vicky Safra, pela Fundação Filantrópica de Vicky e Joseph Safra.[24] A família é uma das principais doadoras para os hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês, construiram diversas sinagogas em São Paulo e contribuíram para a causa judia e doaram esculturas de Auguste Rodin para museus brasileiros.[16]
Descendentes
Descendentes oriundos do primeiro casamento de Jacob Safra[25]:
JACOB |
Cônjuge |
FILHOS |
Cônjuge |
NETOS |
Cônjuge
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Jacob Safra (1891-1963) |
Esther Teira (1900-1943) |
Elie Safra (1922-1993) |
Yvette Dabbah (1927-2006) |
Jacqui Safra Diane Safra Stela Safra Patricia Safra |
Jean Doumanian Oded Henin Joe Kattan —
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Paulette Safra
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— |
— |
—
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Cecilia Cinel Safra
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Rahmo Hendricks (?—2003) |
Jacques Cinel Safra Hendricks Camille Cinel Safra Hendricks Pedro Henrique L. Cinel Safra Hendricks Paul Cinel Safra Hendricks
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Edmond Safra (1932-1999) |
Lily Watkins |
Arthur Safra Duscov
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Arlette Safra |
David Hazan |
Sheila Hazan Jacqueline Hazan
Breno Reinnert Hazan Safra
Guilherme Reinnert Hazan Safra
Rafaela Reinnert Hazan Safra Stella Hazan
Carolina Schimidt Hazan
Michael Schimidt Hazan
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Sony Jamouss Jacques Diwan Roger Elimelech
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Moise Safra (1935-2014) |
Chella Cohen Safra |
Jacob Safra Ezra Safra Esther Safra Edmond Safra Olga Safra |
Shari Finkelstein Alesandra Deweik Claudio Szajman Marielle Nahmad Mauricio Levitin
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Hugette Safra |
Ralph Michaan |
Charles Michaan Jacques Michaan Isaac Michaan Mauricio Michaan Alberto Michaan Edmondo Michaan |
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Gaby Safra |
Elliot Safra |
Joseph Richard Safra Jacques Safra |
Sarah Maslaton Mara Schubert
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Joseph Safra (1938-2020) |
Vicky Sarfati |
Jacob Safra Esther Safra Alberto Safra David Safra |
Michele Kamkhaji Carlos Moshe Dayan Maggy Candi Tammy Kattan
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Referências
Famílias banqueiras |
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Europa | |
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Brasil | |
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Estados Unidos | |
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Japão | |
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