Etnopolítica

Etnopolítica ou política étnica pode ser entendida como uma atividade intencional do Estado, dos partidos políticos e das organizações governamentais voltada à regulação das relações entre grupos étnicos de um país, sendo que os processos etnopolíticos de um determinado grupo étnico ou etnográfico são de natureza sociopolítica e influenciam a sua identificação etno-nacional.[1]

Numa definição mais simples, a etnopolítica é a politização da identidade étnica.[2] Da mesma forma, Petr V. Oskolkov define a etnopolítica como interação entre etnicidade e processo político. Assim o autor entende etnopolítica como um conjunto de medidas específicas aplicadas

(a) pelo Estado em cooperação com grupos étnicos
(b) por grupos étnicos em interação uns com os outros

a fim de redistribuir o poder e evitar situações de conflito. Nesse sentido, o estudo da etnopolítica implica o estudo de modelos de gestão etnopolítica e da dinâmica das interações etnopolíticas, bem como das características da gestão de conflitos étnicos e de liderança étnica. Oskolkov considera que muitos fenômenos políticos são etnicizados, ou seja, adquirem (natural ou artificialmente) conteúdo semântico étnico; pode ocorrer também um processo inverso, a saber, a politização da etnia. Em artigo de 2022, ele formula a hipótese segundo a qual, atualmente, os fenômenos políticos mais propensos à etnização são o populismo, o nacionalismo e o regionalismo (como um caso especial do último).[3]

A mobilização política baseada no apelo à identidade étnica visa obter apoio a líderes identificados com determinada grupo, comprometidos com o fortalecimento da etnicidade desse grupo e com políticas que o favoreçam. Todavia, quando diferentes grupos étnicos se enxergam como politicamente concorrentes, acreditando ter prejuízos em seus direitos ou ser excluídos de benefícios e da proteção do Estado, no caso de "um dos seus" não estar no poder, então a disputa em torno de políticas étnicas pode criar ou acirrar tensões e mesmo provocar violência interétnica. Por essa razão, tais políticas podem ser objetos de controvérsia quanto à sua real eficácia, de um ponto de vista institucional. [4]

Nos estados africanos pós-coloniais, por exemplo, as experiências cotidianas de nepotismo, preconceito étnico e corrupção produzem um círculo vicioso que reforça a dependência da solidariedade étnica e das redes de patronos-clientes que dominam os processos burocráticos. A politização da etnicidade pode então ser instrumental e eventualmente oportunística mas, ao mesmo tempo, terá suas raízes em semelhanças linguísticas, culturais, etnográficas e em experiências comunitárias de marginalização, negligência, injustiça, luta e conquista,[5] experiências em que frequentemente a violência se faz presente.

Ver também

Referências

  1. Zhernokleiev, Oleh. Ethnopolitical Processes in the Hutsul and Boykos Regions in the 1920s (on the documents of local authorities of Stanisławów Voivodeship. Journal of Vasyl Stefanyk Precarpathian National University. Vol. 8, Nº 2 (2021), 34-44.
  2. Holland, Curtis. Ethnopolitics. In Ritzerand, George; Rojek, Chris (eds.). The Blackwell Encyclopedia of Sociology. John Wiley & Sons, Ltd., 2020 doi:10.1002/9781405165518.wbeos1647
  3. Oskolkov, P.V. Ethnicity an Politics: terminological debates and nodal points of intersection. Herald of the Russian Academy of Sciences, 92 (Suppl. 2), S155–S160 (2022). doi:10.1134/S1019331622080081
  4. Lynch, Gabrielle. Ethnic Politics. The Wiley Blackwell Encyclopedia of Race, Ethnicity, and Nationalism, 2015, doi:10.1002/9781118663202.wberen453
  5. Lynch, Gabrielle. The Politics of Ethnicity, in Routledge Handbook of African Politics. Routledge, Taylor & Francis Group, Abingdon, Oxon, 2015; eBook ISBN 9781315088563

Ligações externas


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