Enter - Antologia Digital é uma antologia digital de poemas que reuniu o trabalho textual e audiovisual de 37 autores que, em comum, usaram a internet para divulgar seus trabalhos literários, lançada em agosto de 2009.[1]
Organizada pela escritora e crítica literária Heloísa Teixeira, notabilizada por estar à frente de outras antologias como 26 Poetas Hoje (que, publicada em 1976, reuniu poemas de escritores da chamada Geração Mimeógrafo)[2] e As 29 Poetas Hoje (de 2021, reunindo versos de 29 jovens poetas brasileiras)[3], a Enter se destacou por, nas palavras do jornalista Thiago Corrêa Ramos, ser "uma das primeiras iniciativas formais de registrar e problematizar as práticas da escrita sob a influência da informática e da internet no Brasil"[4].
Em seu texto de apresentação da antologia[5], Heloísa falou sobre uma das premissas do projeto Enter:
Ainda que respeitando e admirando a literatura em seu sentido mais tradicional, não pude ficar imune à evidente expansão da palavra e da multiplicidade de usos e experimentações com a palavra que crescem hoje em proporção geométrica. Considerei então como matéria de exame, todas as formas de literatura praticada na web, muitas vezes excessiva e desigual, mas sempre a expressão de uma geração comprometida com a criação compartilhada, com a velocidade dos posts e com a expansão das fronteiras da palavra. Considerei a palavra escrita, a palavra contemplada, a palavra de ouvido, a palavra cantada.
Em coluna publicada no site do periódico português Público, a jornalista Isabel Coutinho destaca os textos e vídeos de alguns dos autores da antologia, como João Paulo Cuenca, Índigo e Marcelino Freire. Depois, cita um depoimento significativo de Heloísa, concedido a Ramon Mello, em que ela responde se existe uma literatura específica de internet. Heloísa diz que não, e explica: "Antes o poeta colocava o poema na gaveta e agora o texto vai ao público, sendo testado a todo instante."[9]
Já Luiz Felipe Reis, do Jornal do Brasil, comentou: "A autoironia é enorme. A escrita dos blogs é muito encenada. Quem escreve sabe que está assumindo um personagem. E isso desliza. Uma cultura online que migra para a offline e vice-versa. É uma duplicidade. As pessoas vivem nesse limite, que é uma nova forma. Nem lá, nem cá. A encenação do narrador no blog contaminou a escrita. O narrador, literalmente, perdeu a inocência. Anos atrás, ele era um deus. Hoje, ele sabe que é uma versão dele mesmo."[10]