Educomunicação é um campo teórico-prático que propõe uma intervenção a partir de algumas linhas básicas como: educação para a mídia; uso das mídias na educação; produção de conteúdos educativos; gestão democrática das mídias; e prática epistemológica e experimental do conceito. Há quem defenda a educomunicação como uma metodologia pedagógica e em sua finalidade ela propõe a construção de ecossistemas comunicativos, abertos e criativos[1] com relação horizontalizada entre os participantes e produção colaborativa de conteúdos utilizando diversas linguagens e instrumentos de expressão, arte e comunicação. Como se entende pelo nome, é o encontro da educação com a comunicação, multimídia, colaborativa e interdisciplinar. Pode ser desenvolvida em qualquer ambiente de formação, não está reduzida ao âmbito da educação formal, embora muitas experiências no Brasil venham acontecendo em escolas, especialmente com crianças e adolescentes. O termo também é conhecido abreviadamente como educom. Exemplos de educomunicação são o uso de rádio escola, web rádio virtual, jornal comunitário, videogames, softwares de aprendizagem on-line, podcasts, blogs, fotografia, produção de notícias para veiculação em mídias livres e etc.[2]
Desde a década de 1970, instituições supra-estatais, como a UNESCO, reivindicaram a importância da formação em Educomunicação, que, sendo transversal, requer tratamento específico em programas escolares, na formação de professores, na educação de famílias e mesmo em adultos, idosos, donas de casa, desempregados.[3] No Brasil várias organizações, movimentos sociais e alguns projetos governamentais desenvolvem programas de educomunicação que possuem em comum a promoção ao protagonismo infantojuvenil, como também a horizontalidade da comunicação, tentando diminuir as diferenças hierárquicas entre educadores e educandos, ampliando o acesso à cultura e à informação de maneira crítica e autônoma.
Método e conceito
Educomunicação é tanto uma prática quanto um conceito na interface entre Educação e Comunicação.[2][4] Como prática, propõe novos tipos de aprendizagem, utilizando recursos tecnológicos e novas perspectivas na comunicação, de forma mais democrática, visando a autonomia e a participação social, além da horinzontalidade das relações.
O conceito de Educomunicação entendido pelo professor Ismar de Oliveira Soares[5] é "o conjunto das ações inerentes ao planejamento,[5] implementação e avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos presenciais ou virtuais,[6] tais como escolas, centros culturais, emissoras de TV e rádios educativos", e outros espaços formais ou informais de ensino e aprendizagem.[7]
Com a Educomunicação, estuda-se e trabalha-se em cima de atitudes, comportamentos, valores e decisões considerando as relações com o mundo e com os fatores sociais, políticos, culturais e econômicos. Nesse sentido, o desafio é como inserir na escola e na educação, conteúdos comunicativos que contemplem experiências culturais heterogêneas, através das novas tecnologias da informação e da comunicação.[7] Embora a educação midiática esteja envolvida na concepção de programas escolares em muitos países, existem agora muitas propostas relacionadas à unificação de um quadro comum para avaliar e criar estratégias unificadas para o desenvolvimento deste tipo de competência nos cidadãos.[8]
Possivelmente, o primeiro a utilizar o termo "Educomunicador" foi o jornalista argentino Mário Kaplun, referindo-se ao voluntário ou profissional capaz de mediar processos de jornalismo alternativo e projetos de rádio comunitária - O nome inspirou o conceito "Educomunicação", utilizado por Jesus Martin Barbero e pela ONU; Porém o conceito tem sido ampliado, atualizado e reformulado, com grande contribuição do NCE: Núcleo de Comunicação e Educação da ECA/USP.
Paulo Freire é outra referência para o estudo da Educomunicação, Freire entende a educação como uma atividade que depende do ato comunicativo para a construção do conhecimento. Sua forma de pensar a educação, consolidada ao longo dos anos 1960, encontra paralelo na obra do linguista russo Mikhail Bakhtin. As obras de Bakhtin, dão grande ênfase às características culturais da comunicação, reconhecendo a diversidade linguística e a diferença entre os interlocutores. Dessa forma, a Educomunicação, área que propõe um olhar diferenciado sobre as relações entre educação e comunicação, também utilizam-se das principais ideias de Freire e Bakhtin.
Paulo Freire enfatiza a importância da comunicação na educação popular e amplia o conceito buscando a ideia de horizontalidade nessas relações. Em tese de mestrado Walberto Barbosa Silva cita Freire : "Nivelar, ou se adequar à comunicação de determinado grupo requer uma série de procedimentos, dos quais alguns se encontram no método de alfabetização em questão." [9]
Apesar de estar falando especificamente de alfabetização nesse caso, fica claro a importância para Freire de uma comunicação que abranja os valores e a cultura de todos participantes do processo para ampliar as vias de acesso aos saberes e ampliar os canais de conhecimento. A educomunicação passa pela construção coletiva de novos saberes e novas formas de se comunicar.
Descrição
Segundo pesquisa realizada pelo NCE, são alguns pilares da educomunicação:[10]
- Educação para recepção crítica.
- Expressão comunicativa através da arte.
- Pedagogia da Comunicação.
- Produção de mídia educativa.
- Mediações tecnológicas no espaço educativo.
- Gestão dos processos comunicativos.
- Reflexão epistemológica sobre a inter-relação Comunicação/Educação.
No Brasil os estudos sobre educomunicação estão muito avançados, havendo faculdades com cursos de graduação e especialização e até um programa de mestrado acadêmico. No entanto, entende-se que o educomunicador não é formado na e pela academia, mas sim no prática educomunicativa, que pode acontecer dentro ou fora da escola, em ambientes formais ou informais de aprendizagem. O educomunicador pode ser formado também na produção de mídias, quando preocupada com a pluralidade cultural, participação popular, a consciência crítica e demandas que não costumam interessar à mídia comercial. O educomunicador não é um mero profissional da mídia, nem do mundo educacional, nem pode ser considerado a soma de ambos. É uma nova figura profissional que, a partir de ambas as profissões, oferece um perfil profissional diferenciado e específico que combina sua bagagem comunicativa com suas competências formativas, dado que seu principal alvo é a "audiência" de uma sociedade mediada em seus mais diversos cantos.[11]
Educomunicação x TIC
A Educomunicação é epistemologicamente diferente das Tecnologia de Informações e Comunicação (TIC). Quando falamos em TIC ou simplesmente Informática Educativa, na realidade, estamos falando de ações pedagógicas que colocam a ênfase nos conteúdos e efeitos produzidos, isto é, em uma estratégia para tornar o conteúdo mais atraente para o aluno, utilizando os meios de comunicação. Sendo assim, a TIC substitui o quadro negro enquanto ferramenta. Já a Educomunicação, coloca a sua ênfase no processo, ou seja, apesar de o conteúdo e o efeito fazerem parte de toda ação pedagógica, o processo educomunicativo não estabelece um "teto de desenvolvimento do conhecimento".
Segundo Juán Diáz Bordenave e Mário Kaplún, quanto aos modelos de educação, existem o modelo exógeno - que põe sua ênfase, na mídia, para produção de conhecimento. Já o modelo endógeno - a ênfase está sobre o sujeito e o processo de produção, isto é, uma relação dialogal entre educador e educando. Mario Kaplún afirma que este último modelo, que poderiamos chamar educomunicativo, propõe um relacionamento horizontal entre aluno e professor.
A educomunicação tem como protagonista o criador, através do texto publicado pelo site educador.brasilescola,[12] percebesse que a pratica da educomunicação, favorece a nosso educando um aprendizado rico e desafiador, visando fortalecer seu conhecimento de forma construtiva e inovadora.
A escola pode ser um local privilegiado para que os alunos desenvolvam habilidades e se tornem receptores mais preparados frente às mensagens divulgadas pelos veículos midiáticos[13]. Os estudo de Martín-Barbero, filósofo espanhol que se radicou na América Latina têm deixado contribuições para o entendimento da recepção midiática. O pensador propôs o estudo da comunicação a partir da cultura. Para ele, mais importante que estudar as intencionalidades dos meios, era entender a produção de sentidos por parte dos receptores: "o eixo do debate deve se deslocar dos meios para as mediações, isto é, para as articulações entre práticas de comunicação e movimentos sociais, para as diferentes temporalidades e para a pluralidade das matrizes culturais (MARTÍN-BARBERO, 1997, p.258)[14].
Martín-Barbero propõe explorar as “mediações”, o “espaço” onde acontecem as interações entre a produção e a recepção midiática. Ele aponta três instâncias fundamentais de mediação: a cotidianidade familiar, a temporalidade social e a competência cultural. As contribuições de Martín-Barbero foram utilizadas especialmente pelo pesquisador mexicano Guilherme Orozco Gomez[15], que volta seus estudos para a recepção infantil das mensagens televisivas. Orozco desenvolveu o conceito de “multimediações” para caracterizar as mediações das mais variadas naturezas utilizadas pelo receptor, de caráter psicológico, cognitivo, estrutural. Para o pensador, instituições como a família, a escola, a igreja, os partidos, também influenciam o receptor.
Educomunicação Socioambiental
A Educomunicação Socioambiental é formada na interface entre as áreas da Educação Ambiental e da Educomunicação. O conceito foi propagado pela primeira vez na gestão de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente[16], por iniciativa da Diretoria de Educação Ambiental, pelo programa de Educomunicação Socioambiental deste ministério, com o objetivo de estimular a produção e difusão de conteúdos na área de comunicação ambiental e educação ambiental. É um campo teórico-prático que se dispõe a trabalhar questões voltadas à educação para as mídias pelo olhar das questões socioambientais.
Desde então diversos trabalhos foram publicados sobre o tema, que adquire cada vez mais relevância diante da crise climática global e outros problemas ambientais. O Universo Educom, Blog criado para promover a educomunicação entre adolescentes, jovens, educadores(as) e pesquisadores(as), tem uma área em seu portal dedicada para matérias com o tema da Educomunicação Socioambiental.[17]
Segundo o Guia Prático em Educomunicação Socioambiental,[18] o elo de intersecção da Educomunicação com a Educação Ambiental[19] está no fato de ambas possuírem um caráter interdisciplinar e transdisciplinar, e se entende como o conjunto de ações e valores correspondentes à dimensão pedagógica dos processos comunicativos ambientais, marcados pela abertura ao diálogo, à participação e ao trabalho colaborativo.
Princípios da Educomunicação Socioambiental
Os princípios da Educomunicação Socioambiental são comuns aos princípios do Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA)[20], programa iniciado pelo governo federal brasileiro em 1996 com o objetivo fomentar a Educação Ambiental e conscientização em todos os níveis de ensino para a promoção do meio ambiente ecologicamente equilibrado.[21] A Lei Federal 9.795, de 1999[22], instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental, e por meio do Decreto nº 4.281/2002[23], regulamentou que a gestão desta política será competência do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Educação. Uma das linhas de atuação do ProNEA é a “Comunicação para a Educação Ambiental” descrita como: “produzir, gerir e disponibilizar, de forma interativa e dinâmica, as informações relativas à Educação Ambiental”. No Art. 4o desta lei consta que são princípios básicos da educação ambiental:
I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo;
II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade;
III - o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade;
IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;
V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;
VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo;
VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais;
VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural.
Graduação em Educomunicação
No Brasil, a Universidade de São Paulo (USP)[24] e a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)[25] são instituições que oferecem o curso de graduação em Educomunicação.
Na Universidade de São Paulo (USP), o curso de graduação em Educomunicação é oferecido na modalidade de Licenciatura dentro da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP)[26]. Criada em 2011, a Licenciatura em Educomunicação na Universidade de São Paulo busca formar um profissional capaz de atuar como gestor de processos comunicacionais no espaço educativo, por meio de um aprofundamento teórico e prático nas áreas de Educação e Comunicação Social[26].
Já na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), a graduação em Educomunicação é ofertada na modalidade de Bacharelado. Onde o egresso em Educomunicação, na perspectiva de um bacharelado em Comunicação Social, faz pressupor uma formação que inter-relaciona os campos múltiplos de saber da comunicação e da educação, com ênfase na constituição de sujeitos sociais que, mediadores e protagonistas nas relações dialógicas entre mídias e sociedade[25].
Pós-Graduação em Educomunicação
O Programa de Pós-Graduação em Educomunicação e Linguagens na Amazônia (PPGEL-Amazônia) é atualmente o único programa de pós-graduação em Educomunicação do Brasil. Ele está vinculado à Universidade Federal do Amazonas (UFAM), no Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (ICSEZ), em Parintins,AM, e oferece curso de mestrado stricto sensu. Segundo informações do site do Programa, "o objetivo do curso é formar pesquisadores capazes de trabalhar com as diferentes mídias, tecnologias de comunicação e linguagens digitais, tanto para a educação como para a formação cidadã no contexto amazônico. Nesse sentido, o egresso do curso será capaz de trabalhar em pelo menos três diferentes frentes relacionadas às populações da Amazônia: desenvolvendo projetos e trabalhos que visem processos educativos (formais e/ou informais); ressignificando a ideia de comunicação no contexto amazônico; pensando, construindo, utilizando e transmitindo, sempre de forma crítica, as diferentes linguagens digitais e midiáticas"[27].
Referências
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Ligações externas