Ecótonos (do grego: oikos: casa e tonus: tensão)[1] consistem em áreas de transição ambiental, onde comunidades ecológicas diferentes entram em contato.[2] Podem ser mudanças bruscas na vegetação em diferentes gradientes ecológicos, e assim são considerados potenciais indicadores de respostas a mudanças climáticas e reguladores de fluxos nos ambientes[3] e, por isso, possuem uma grande biodiversidade sendo encontrados organismos pertencentes aos ecossistemas em contato ou a espécies endêmicas do próprio ecótono.
Cronologia
Livington (1903) e Clements (1905) foram os pioneiros no estudo de ecótono ao se interessarem pelos limites de um ecossistema.[1][2] Leopold (1933) e outros biólogos continuaram com os estudos, considerando estas zonas como importantes hábitats.[1] Também, na década de 1930, os ecótonos foram estudados por cientistas de diversas áreas do conhecimento.[1] Odum (1953) sustentava a importância dos ecótonos ao afirmar que são áreas ricas e abundantes de espécies, ocorrendo inclusive espécies únicas.[2]
Por volta da década de 1970, houve um interesse considerável em ecótonos por parte da sociedade científica.[2] Mas, no meio da década de 1980, o interesse voltou-se para ecossistemas mais definidos e homogêneos.[2] Na transição de 80 e 90, cresceu a preocupação ambiental e o estudo de ecótonos tornou-se relevante.[2] De fato, ecótonos são sensíveis a mudanças climáticas, como já mencionado, e muitos cientistas apóiam o monitoramento dessas zonas para detectar mudanças globais.[1]
Atualmente, é amplamente aceito que o entendimento destas zonas de transição é importante para compreender os mecanismos que moldam a biogeografia dos organismos.[2]
Características
A principal característica de um ecótono é o facto de ser um ecossistema formado entre outros ecossistemas. Existe discussão sobre serem a união de áreas marginais ou o centro de regiões de transição.[2] Exemplos das duas ideias são encontrados sendo que a primeira, que defende a formação através da união de áreas marginais, possui maior relação com ações antropogênicas (com exceções). O tamanho (área), microclima, altura, recursos e as combinações genéticas dos organismos variam entre ecótonos e essas variações são influenciadas por fatores que afetam qualquer outro ambiente como o clima, altitude, latitude, longitude e solo.
Outro fator que influencia a formação de ecótonos é a dispersão de sementes, dependendo da quantidade e posição que cai[3] uma nova área pode ser observada. Vale lembrar que a expansão de um determinado ecossistema e seu contato com outro, levará a criação de um novo ecótono.
Por serem regiões com características presentes nos ecossistemas que a compõem ou características próprias, os organismos que as habitam sofrem uma seleção genética muito intensa,[2] aqueles que são especializados a um dos ecossistemas tendem a não serem encontrados em ecótonos, mas espécies menos especializadas tendem a sobreviver mais facilmente nesse “novo ecossistema”, se modificar sob efeito dessas novas condições e, com o passar do tempo, formar novas espécies.[2]
Uma mesma espécie encontrada em dois ecótonos diferentes provavelmente apresentará características morfológicas diferentes,[4] como exemplificado abaixo, assim como novos alelos e comportamentos,[2] esse é um dos grandes indicadores de que os ecótonos são regiões onde ocorre uma intensa pressão evolutiva e por isso devem ser realizados maiores estudados nessas áreas.[2]
Exemplos
Um exemplo de divergência morfológica intraespecífica em ecótonos acontece no continente africano, em Camarões, com a ave Andropadus virens Cassin.[4] Esta espécie vive tanto nas savanas africanas quanto em florestais tropicais e ainda na vasta área de ecótono (mais de 1000k de largura) entre estes dois hábitats.[4] Comparativamente às populações da floresta tropical, as populações do ecótono têm maior envergadura de asa.[4] Isto pode ser explicado porque A. virens necessita de uma eficiência aerodinâmica melhor em ambientes abertos para fuga de predadores.[4] A diferença significativa da profundidade do bico reflete nos recursos alimentícios locais.[4] Divergências só poderão ocorrer em ecótonos de grandes dimensões.[4]
Fragmentos da floresta tropical no ecótono apresentam menor precipitação anual do que a região florestal mais central.[4] Além disso, sofrem maior experiência de "flutuações anuais" em variáveis do ambiente.[4]
Existem várias combinações de ecossistemas que podem formar um ecótono, podemos citar, por exemplo: fazendas no encontro das áreas desmatadas com as naturais (campos com florestas ou mata), manguezais (água do mar e de rios), as combinações entre os cerrados sensu stricto, campo sujo, campo limpo, cerradão ou mata de galeria, ambientes aquáticos também possuem ecótonos como áreas onde as correntes marinhas quentes e frias se encontram, transições entre água e terra onde há formação de lama, caniçais, dentre outros.
Referências
↑ abcdeRose Graves; Deane Wang; C Michael Hogan. 2010. "Ecotone." In: Encyclopedia of Earth. Eds. Cutler J. Cleveland (Washington, D.C.: Environmental Information Coalition, National Council for Science and the Environment). [First published in the Encyclopedia of Earth May 22, 2010; Last revised May 24, 2010; Retrieved August 24, 2010]. <http://www.eoearth.org/article/Ecotone>.
↑ abcdefghijklKark, S. & Van Rensburg, B.J. 2006. Ecotones: Marginal or central areas of transition? Israel Journal of Ecology and Evolution 52, 29-53.
↑ abMalanson, GP (1997) Effects of feedbacks and seed rain on ecotone patterns. Landscape Ecology 12, pp. 27-38. 48.
↑ abcdefghiSmith, Thomas B., Robert K. Wayne, Derek J. Girman and Michael W. Bruford. 1997. A role for ecotones in generating rainforest biodiversity. Science, 276, 1855-1857.