O ducado de Camerino, em italianoducato di Camerino, foi um pequeno estado independente, localizado no centro de Itália e encravado nos Estados Pontifícios.
Foi governado, durante quase 300 anos, pela família Varano, com origens Lombardas e proveniente do ducado de Spoleto.
Foi, inicialmente, constituído como um Senhorio (ca.1259 - 1515) mas, em 1515, o último Senhor, João Maria de Varano[1], foi feito duque pelo Papa Leão X. A nova dignidade só se manteve até 1539, altura em que o ducado voltou a ser reintegrado nos Estados da Igreja.[2]
A sua posição era estratégica entre os Estados da Igreja e o ducado de Urbino e ambos tinham ambições de anexação sobre Camerino. Por isso, o sistema defensivo do senhorio, governado pela família Varano, era sólido e extenso, sendo parcialmente visível ainda hoje. Salienta-se a rocca[4] Varano[5]; as fortalezas de Spinoli e de Santa Lucia, a rocca d'Ajello.[6]
Em 1240 era um legado do Papa que ali exercia as funções governativas. Dezanove anos depois a cidade foi devastada pelo exército do rei Manfredo da Sicília, filho natural do imperador Frederico II. Muitos habitantes foram trucidados e quem se salvou regressou em 1262: entre estes, Gentile I de Varano, primeiro senhor com a anuência do Papa Alexandre IV.
A partir do século XIII, o poder político-administrativo foi sendo transferido do campo para Camerino, onde Júlio César de Varano (1444-1502), um dos mais significativos membros da família, mandara construir o Palácio Ducal, o templo da Anunciada (mausoléu da dinastia Varano), e o mosteiro dos beneditinos onde a sua filha, a futura santa Camilla Battista, viria a professar. Doou à sua esposa, Joana Malatesta[7] (pertencente à família Malatesta, senhores de Rimini), o castelo de Lanciano, localizado perto de Castelraimondo, residência de Verão, no qual se alojou a marquesa de Mântua, Isabel d'Este que, em 1494, visitou os Varano na sua viagem a Roma e a Urbino (onde reinava a cunhada Isabel Gonzaga).[8]
Sob a administração de Júlio César e de João Maria de Varano (1502-1527), nomeado duque pelo Papa Leão X (um Médici, tio materno da mulher Catarina Cybo), o pequeno estado expande-se, os habitantes aumentaram e a atividade comercial prospera. Passou a ser cobiçado e, em 1502, César Bórgia (filho natural do Papa Alexandre VI) apoderou-se do senhorio mandando assassinar Júlio César e três dos seus filhos.
João Maria de Varano (neto de Júlio César), escapou ao massacre, regressando a Camerino após a morte do Papa Alexandre VI. No entanto, a sua própria morte, em 1527, pré-anunciou o fim do ramo dinástico e a extinção do ducado. Como também viria a acontecer no Ducado de Urbino, a disposição papal previa a reabsorção do feudo em caso de não haver herdeiro masculino: ao contrário do que viria a acontecer com Vitória Della Rovere, Grã-duquesa consorte da Toscana e última dos Della Rovere[9], a jovem filha do duque de Camerino, Júlia de Varano, sob a regência da mãe Catarina Cybo, conseguiu suceder ao pai, com o apoio do marido Guidobaldo II Della Rovere, duque de Urbino (com quem casara numa sumptuosa cerimónia), contrariando as pretensões da linha de Ferrara dos Varano.
Virgínia Della Rovere (1544-1571), filha do casal ducal e herdeira dos bens deixados pela sua avó, a duquesa-mãe Catarina Cybo, tentou recuperar Camerino com o apoio do consorte, Frederico Borromeo, conde de Arona, mas não conseguiu. Uma segunda tentativa, desta vez com o apoio do segundo marido Ferdinando Orsini, duque de Gravina, também falhou. Virgínia morre em Nápoles sem descendência.[10][11]