Benedito Amaro de Oliveira, mais conhecido como Dito Pituba (Santa Isabel, 15 de janeiro de 1848 — 1923) foi um artista brasileiro ativo no Vale do Paraíba, lembrado pela sua grande produção de arte sacra, em particular as estatuetas conhecidas como paulistinhas.
Carreira
Começou sua carreira aprendendo com o pai como lavrar escrituras para contratos de compra e venda. Trabalhou como oleiro fazendo telhas decoradas com desenhos, produziu ex-votos e foi pintor decorando oratórios e bandeiras processionais, mas se notabilizou principalmente como santeiro, trabalhando com o barro e a madeira. Não recebeu um preparo formal, desenvolvendo um estilo popular.[1]
Deixou obras de grandes dimensões para várias igrejas no Vale do Paraíba, mas é mais lembrado pela sua produção de paulistinhas, um gênero de estatuetas de pequenas dimensões em barro que foi muito popular no século XIX, desaparecendo depois com a competição das peças de gesso produzidas industrialmente.[1] Pituba foi o último santeiro conhecido a se dedicar a este gênero,[1][2] e para o historiador da arte Rafael Schunk, foi o seu principal expoente.[3] Ao contrário da prática comum entre os santeiros populares da época, deixou diversos trabalhos assinados.[4]
Segundo a pesquisadora Vera Toledo Piza, "foi um dos raríssimos exemplos de santeiros que se dedicaram integralmente à arte religiosa, fazendo desse métier seu único meio de subsistência. Foi ele, também, o responsável pela maior produção de peças sacras do Vale do Paraíba". Aproveitava todo tipo de material para criar detalhes diferenciados em suas estátuas, como pedaços de couro e papelão, pregos, bolinhas de vidro (para os olhos), tampas de garrafas.[5] Suas imagens em geral têm uma postura rígida, e muitas vezes trazem as mãos e pés desproporcionalmente grandes, o que para o historiador Eduardo Etzel faz uma referência "às características do caboclo descalço, andarilho incansável pelas morrarias de Santa Isabel e de suas mãos grosseiras, que na labuta agrícola lhe garantiam a subsistência".[6] O artista preparava as tintas e pintava suas estátuas com uma camada espessa, o que acentua seu aspecto rústico.[5] Etzel acrescenta:
"O estudo da obra de Dito Pituba nos deu o exemplo da interpretação popular da arte sacra. Vimos como se inspirou nas imagens e gravuras preexistentes e como aos poucos passou da cópia à afirmação da própria maneira de interpretar. Um artista sacro popular como Pituba é um produto do meio em que vive, daí ser até certo ponto polivalente. Tendo que satisfazer sua clientela, pinta ex-votos e faz oratórios que abrigarão as imagens criadas por ele mesmo".[7]
Tem obras no Museu de Antropologia do Vale do Paraíba,[1] no Museu de Arte Sacra de São Paulo, que possui uma coleção de cerca de 300 peças,[8] e em coleções privadas, que têm sido cedidas para exposições em museus.[9][10] Segundo o MASSP, Pituba destacou-se entre os santeiros de sua geração,[11] e de acordo com a Secretaria de Comunicação Social de Barueri, "é considerado um dos maiores santeiros populares do Brasil", com um trabalho que "representa a cultura caipira como desdobramento da sociedade bandeirista".[10]
Algumas exposições
Dito Pituba. Estação Tiradentes do metrô de São Paulo, organizada pelo Museu de Arte Sacra de São Paulo, 2004, individual.[12]
Arte e Cultura do Vale do Paraíba Paulista. Palácio Boa Vista de Campos de Jordão, 2011, coletiva.[13]
Paulistinhas: imagens de um vale histórico. Sesc São José dos Campos, 2016, coletiva.[2]
1º Salão Paulista de Arte Naïf. Museu de Arte Sacra de São Paulo, 2021, coletiva.[16][17]
3ª Bienal Internacional de Arte Naïf. Museu Municipal de Socorro, 2021, coletiva.[18]
Devoções Populares: arte sacra, naif, mística e religiosa. Museu de Arte Sacra e Diversidade Religiosa de Olímpia, 2022, coletiva.[9]
Homenagens
A Sala de Arte Sacra de Santa Isabel foi batizada com seu nome.[19] Foi homenageado em 2021 no espetáculo Santo de Casa, promovido pelo Centro de Estudos Teatrais de Santana, produzido pela Cia Cultural Bola de Meia e dirigido por Jacqueline Baumgratz.[20] Foi um dos homenageados no Projeto Santa Isabel 190 anos: Memórias, organizado pela Prefeitura de Santa Isabel para valorizar a memória coletiva e os diálogos do passado com a modernidade.[21]
↑ abPiza, Vera Toledo. "A Arte Religiosa do Vale do Paraíba criada pelos santeiros e preservada por colecionadores". O Lince, 20/10/2009, pp. 8-10 — Edição Comemorativa 40 anos
↑Etzel, Eduardo. Arte Sacra Popular Brasileira: Conceito–Exemplo–Evolução. Melhoramentos, 1975, p. 70