A desterritorialização e reterritorialização são conceitos filosóficos teorizados por Gilles Deleuze e Félix Guattari, no campo da esquizoanálise, em sua obra conjunta "Capitalismo e esquizofrenia (O anti-Édipo, de 1972; e Mil Platôs, de 1980)".[1] A desterritorialização determina que qualquer processo de troca que se dá em meio às interações sociais permite que, através do processo de desterritorialização e reterritorialização, sejam transformados em termos de contexto, significado e aplicação psicossocial.
De acordo com Deleuze e Guattari, a verdadeira política da antipsiquiatria consiste em desfazer todas reterritorializações que transformam a loucura em patologia; e em desterritorializar o esquizoide para libertá-lo em todos os fluxos.
Capitalismo e esquizofrenia
Em O anti-Édipo (1972), Deleuze e Guattari tecem críticas positivas acerca do desenvolvimento do conceito de psiquismo por Freud que, de acordo com a interpretação esquizoanalítica, tratou-se da desterritorialização do conceito da libido. Por outro lado, eles reterritorializam este conceito e tecem também críticas negativas, tratando a libido como a base da edipianização, que acaba por castrar a psique dos indivíduos, transformando-os numa massa indistinta — não há mais uma univocidade do ser e todos se tornam Édipo.[3]
Já em Mil Platôs (1980), a desterritorialização é utilizada para caracterizar o corpo sem órgãos (CsO), de modo que o desejo não estaria limitado às afeições de um indivíduo, nem ao estado material deste, pois corpos sem órgãos não podem ser forçados ou desejados à existência, já que Deleuze e Guattari interpretam-no como o produto essencial de uma condição de intensidade-zero, a qual estaria vinculada à esquizofrenia catatônica que, por sua vez, emprega seu modelo à morte.[4]
Uso antropológico e geográfico
Aplicada à geografia cultural, a desterritorialização significa a quebra do vínculo de territorialidade entre um povo e o território que este ocupa. Neste uso, a expulsão dos acadianos pelos britânicos, no contexto da Guerra dos Sete Anos (1756–1763), é um exemplo de desterritorialização antropológica e geográfica.
Meios de comunicação de massa
Desde a introdução da mídia de massa, a requalificação tornou-se mais prevalente. A mídia de massa acelerou o processo de desterritorialização e requalificação e permitiu que ocorresse em nível global.
Referências
- ↑ Bruce, Rogério Haesbaert e Glauco (2002). «A Desterritorialização na Obra de Deleuze e Guattari». GEOgraphia (7): 7–22. ISSN 2674-8126. doi:10.22409/GEOgraphia2002.v4i7.a13419. Consultado em 27 de fevereiro de 2021
- ↑ Deleuze, Gilles; Guattari, Felix (2010) [1972]. «Capítulo II: Psicanálise e familismo: a santa família». O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia 1. Col: (Coleção TRANS). Tradução por Luiz B. L. Orlandi. 1ª ed. ed. São Paulo: Editora 34. p. 78. 560 páginas. ISBN 978-85-7326-446-3
- ↑ Cf. «O anti-Édipo». pp. 435–437.
O corpo sem órgãos é o modelo da morte. Como bem compreenderam os autores da literatura de terror, não é a morte que serve de modelo à catatonia; é a esquizofrenia catatônica que dá seu modelo à morte. Intensidade-zero. O modelo da morte aparece quando o corpo sem órgãos repele e depõe os órgãos — nem boca, nem língua, nem dentes... até à automutilação, até ao suicídio [...] Mas parece que a obscuridade se acumula, pois o que é a experiência da morte e o que a distingue do modelo? Tratar-se-ia de um desejo de morte? Um ser para a morte? Ou então um investimento da morte, ainda que especulativo? Nada disso. A experiência da morte é a coisa mais ordinária do inconsciente, precisamente porque ela se faz na vida e para a vida, ela se faz em toda passagem ou todo devir, em toda intensidade como passagem e devir.
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Conceitos e teorias | |
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Obras por Deleuze e Guattari | |
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Obras por Gilles Deleuze | Instintos e instituições (1953) • Empirismo e subjetividade (1957) • Nietzsche e a filosofia (1961) • Nietzsche (1965) • Proust e os signos (1964) • Bergsonismo (1966) • Apresentação de Sacher-Masoch (1967) • Diferença e repetição (1968) • A filosofia crítica de Kant (1976) • Espinoza e o problema da expressão (1968) • Lógica do Sentido (1969) • Espinoza e os signos (1970) • Diálogos (com Claire Parnet) (1970) • Superpositions (1979) • Espinosa: filosofia prática (1981) • Francis Bacon: lógica da sensação (1982) Cinema 1: a imagem-movimento (1983) • Cinema 2: a imagem-tempo (1985) • Foucault (1986) • A dobra: Leibniz e o barroco (1988) • Péricles e Verdi: a filosofia de François Châtelet (1988) • Conversações (1972-1990) (1990) • L'Epuisé (1992) • Crítica e clínica (1993) • A ilha deserta e outros textos (1953-1974) (2002) • Dois regimes loucos: textos e entrevistas (1975-1995) (2003) |
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Obras por Félix Guattari | Psicanálise e Transversalidade (1972) • Revolução molecular: pulsações políticas do desejo 1977) • Félix Guattari entrevista Lula (1982) • Les Nouveaux espaces de liberté (1985) • Micropolítica: cartografias do desejo (com Suely Rolnik) (1985) • Os anos de inverno: 1980-1985 1986) • Cartographies schizoanalytiques (1989) • As três ecologias (1990) • Caosmose: um novo paradigma estético (1992) • Ritournelle(s) (1999) • La Philosophie est essentielle à l’existence humaine (2002) • Écrits pour L’Anti-Œdipe (2004) • 65 rêves de Franz Kafka (2006) |
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