Os crimes da Rua do Arvoredo ocorreram entre 1863 e 1864, na cidade de Porto Alegre, capital de estado brasileiro do Rio Grande do Sul. A prática insólita dos crimes era feita da seguinte forma: os acusados atraiam vítimas para matá-las e, provavelmente, se desfaziam de partes dos corpos produzindo linguiças de carne humana pra serem vendidas em um açougue da cidade. Três pessoas estariam envolvidas na execução dos crimes: o brasileiro José Ramos, sua esposa húngaraCatarina Palse e o açougueiro alemãoCarlos Claussner.[1] Apesar de ser um caso real, ele ainda está presente no imaginário popular local, tendo se tornado uma espécie de lenda urbana da cidade.[2]
Antecedentes
José Ramos
José Ramos foi o filho mais velho de Manoel Ramos e Maria da Conceição. Seu pai fez parte de cavalaria de Bento Gonçalves durante a Revolução Farroupilha, da qual desertou e se refugiou em Santa Catarina. Durante uma discussão familiar o seu pai agride sua mãe, em seguida José Ramos fere gravemente o pai com uma faca, levando-o à morte em poucos dias.[1]
Daí, José Ramos vai para o Rio Grande do Sul e torna-se um inspetor de polícia na cidade de Porto Alegre, onde teria comprado (ou alugado) uma casa na antiga Rua do Arvoredo (atual Rua Coronel Fernando Machado, 707), que pertencia ao açougueiroCarlos Claussner.[3][4]
Mais tarde José Ramos é expulso da polícia ao ser flagrado tentando degolar o preso Domingos José da Costa (bandido famoso, preso em Vacaria em 1862, conhecido como Campara, uma espécie de Robin Hood gaúcho, pois roubava dos ricos e distribuía o produto do roubo aos pobres[5][6]), argumentando de que esse tentava escapar. Ramos passa a servir, então, como informante da Polícia.[1]
Frequentava a mais alta classe de Porto Alegre. Apaixonado pela música lírica e pela poesia, assistia espetáculos do recém-inaugurado Theatro São Pedro, onde conheceu Catarina Palse, com quem passou a viver, e a praticar os tais crimes.[1]
Catarina Palse
Catarina foi cúmplice de José Ramos, por atrair as vítimas para sua residência e acobertando os crimes do marido.
De família pobre, Catarina, nasceu na parte húngara da Transilvânia, era etnicamente alemã e cresceu em uma pequena aldeia com seus pais e dois irmãos. Durante a Revolução húngara de 1848, foi estuprada por soldados e teve sua família assassinada. Posteriormente, aos 15 anos, se casa com Peter Palse por interesse para conseguir fugir do país já que passava por extrema pobreza, mas, durante a viagem seu recém casamento acaba, pois seu marido se suicida[1]
Chega em Porto Alegre em 1857, tendo 20 anos. Acaba se envolvendo com José Ramos em 1863 e vão morar juntos na então Rua do Arvoredo, perto do cemitério que ficava atrás da Catedral Metropolitana de Porto Alegre.[1]
Chegou ao Brasil em 1859 e abre o seu negócio conseguindo em pouco tempo sucesso financeiro, devido a localização de seu empreendimento. Solitário, Claussner cria laços de amizade com José Ramos e o transforma em seu ajudante no açougue, visto que Ramos falava alemão.[1]
Os crimes
Ao que tudo indica, a sequência de assassinatos começa em 1863. José Ramos e Catarina Palse se conheceram em locais públicos frequentados pela elite da cidade e analisavam quais seriam as potenciais vítimas. A preferência era por imigrantes alemães, visto que Catarina não dominava o idioma português.[7][8]
Após a escolha da vítima, Catarina Palse, as seduzia e marcava um encontro no Beco da Ópera (atual Rua Uruguai) e as levava para a casa do casal, onde as vítimas tinham seus pertences roubados e eram degoladas, esquartejadas e descarnadas. A carne era transformada em linguiça e vendida no açougue de Carlos Claussner. Segundo depoimentos da época, Claussner havia sugerido a Ramos a fabricação de linguiças com a carne dos assassinados, como uma forma de encobertar qualquer evidência dos crimes; já os ossos seriam dissolvidos em ácido ou incinerados no seu açougue. Embora o número exato permaneça um mistério, existem provas de que seis pessoas foram vítimas do casal.[7][8]
Em agosto de 1863, uma sequência de desaparecimentos começou a repercutir pela cidade. Ao mesmo tempo, isso começou a despertar a curiosidade da opinião pública local. As autoridades começaram a ser pressionadas. A repercussão dessa sequência de crimes começou a assustar Claussner, que decidiu ir para o Uruguai, pois alegava estar infeliz em Porto Alegre. Dessa forma, José Ramos, temendo perder seu parceiro nos crimes, o matou e escondeu o corpo no quintal de sua casa. O casal eventualmente assumiu as posses de Classner e ao ser perguntado pela ausência do açougueiro ele alegava, que a loja e a casa haviam sido vendidas para ele. Entretanto, o negócio desandou devido ao desconhecimento de Palse e Ramos na fabricação de embutidos.[8]
A elucidação dos crimes começou no ano seguinte, em 1864, com o desaparecimento do caixeiro-viajanteJosé Ignacio de Souza Ávila e do comercianteportuguêsJanuário Martins Ramos da Silva; que foram vistos no dia anterior na casa de José Ramos, na Rua do Arvoredo. Convocado a prestar esclarecimentos na delegacia, José disse que eles pernoitaram na casa e durante a manhã eles foram para São Sebastião do Caí. O delegado, não satisfeito com as explicações, no dia seguinte ao depoimento foi revistar a residência, encontrando evidências de diversos crimes.[1] Foram achados vários indícios dos assassinatos cometidos ali ao serem encontrados pertences pessoais das vítimas conservados por Ramos como uma espécie de souvenirs de acontecimentos macabros.[7]
Ainda, durante a revista, foram descobertos vários pedaços de um corpo humano em decomposição enterrados no porão da residência, sendo identificados como sendo os pedaços do alemão Carlos Claussner, dono de um açougue na Rua da Ponte. No poço da casa foram encontrados os corpos mutilados de Januário e José Ignácio e, também, de um cachorro com o ventre rasgado (o cão era de José Ignácio, que permaneceu na porta da casa de José Ramos latindo como se esperasse o dono por alguns dias, até que misteriosamente também desapareceu). Catarina, que havia sido presa por outros crimes e havia se tornado uma mucker, decidiu confessar que naquela casa foram cometidos seis assassinatos e que dos corpos das vítimas foram feitas linguiças pelo açougueiro Carlos Classner. O diário de Catarina foi o ponto de partida para a investigação das demais mortes.[7]
Conclusão
José Ramos e Catarina Palse mataram para se apossar dos bens de suas vítimas, com exceção do caixeiro José Ignacio, que foi morto por ser testemunha, que poderia denuncia-los. O delegado Dario Rafael Callado acumulava as funções de Chefe de Polícia e Juiz de Direito na época. Ramos era um de seus informantes e para lhe evitar constrangimentos, decidiu dar celeridade ao processo.[1] Dario já havia sido atacado publicamente pelo deputado Silveira Martins por ter feito uma série de prisões ilegais.[9]
A edição 107 do jornal "A Federação", noticiou na página 2 que Catarina foi libertada no dia 6 de Maio de 1891.[1][8][10]
O caso teve pouca repercussão na impressa de Porto Alegre da época, tendo mais destaque em jornais internacionais [2] mas ganhou registro oficial no Relatório dos Presidentes das Províncias Brasileiras na edição do ano de 1864 pelo então presidente da província do Rio Grande do Sul, o senhor Dr. Esperidião Elói de Barros Pimentel.
As linguiças fabricadas, vendidas no comércio de Porto Alegre, tinham "muito boa aceitação" e foi exatamente com a divulgação desta história nasceu a "lenda urbana" sobre o caso.[2][1] O processo dos crimes da Rua do Arvoredo está depositado no Arquivo Nacional, na cidade do Rio de Janeiro. Segundo o historiadorDécio Freitas, autor do livro O Maior Crime da Terra, "faltam diversas informações como diversas folhas no processo, os documentos estão todos em português arcaico e manuscritos". O fato é que o crime realmente existiu, porém, as provas sobre as linguiças fabricadas com carne humana foram inviabilizadas no decorrer do processo e o passar dos tempos. Portanto, nunca se saberá se a história é completamente verdadeira".[1][11]
Repercussão do caso
O caso foi relatado no Relatório do Presidente da Província do Rio Grande do Sul, na edição do ano de 1864 pelo então presidente da província, o senhor Dr. Esperidião Elói de Barros Pimentel, para o seu sucessor o sr. Vice-presidente Comendador Patricio Correa da Camara.
Na página 4 e parágrafo 4 deste relatório é descrito o fato:
"Continua inalterada a tranquilidade pública. Cumpre-me entretanto registrar aqui um fato, ocorrido nesta cidade, e que esteve prestes a pertubá-la.
Tendo desaparecido o taberneiro Januário Martins, e seu caixeiro, e procedendo a policia á minuciosas indagações, descobriu em um fosso do quintal da casa em que habitava José Ramos os cadáveres mutilados daqueles infelizes (Januário e o seu caixeiro); descobriu-se também na mesma ocasião os ossos completos de um esqueleto humano. As veementes presunções condenavam a Ramos e sua amasia Catharina Palse.
Os interrogatórios, que as 3 horas da tarde começaram na Secretaria de Policia, e que continuaram a noite, atraíram curiosos em grande número, e alguns deles ousaram exigir que os presos lhes fossem entregues para serem por suas mãos justiçados. Os crimes horrorosos, e acompanhados de circunstancias das mais graves: mas tal pretenção, em todo o caso inadmissível em pais civilizado, era tando mais desarrazoada quanto tinha sido pronta e eficaz a ação da justiça. Os presos foram recolhidos a cadeia, sendo porém de lamentar os ferimentos em pessoas que, surdas ás admoestações da autoridade, conservavão-se diante da força, atirando-lhe pedras, pedaços de garrafas, e apupando-a".
Na Europa, a repercussão do crime foi tão grande, que quando Charles Darwin teve conhecimento escreveu em seu caderno de anotações um curto comentário sobre o caso em Porto Alegre se questionando: "Se existe um chacal adormecido em cada homem?".[2]
Na Europa, a repercussão do crime foi tão grande, que quando Charles Darwin teve conhecimento escreveu em seu caderno de anotações um curto comentário sobre o caso em Porto Alegre se questionando: "Se existe um chacal adormecido em cada homem?".[2]
Na cultura
Em 1987, o caso inspirou a publicação do livro Cães da província, de Luiz Antônio de Assis Brasil. O livro conta a biografia do escritordramaturgo José Joaquim de Campos Leão, conhecido como Corpo Santo. Junto com esta narrativa, Assis Brasil também incluiu paralelamente em sua história os crimes da Rua do Arvoredo. O livro foi republicado em 2010 pela editora L&PM Editores.
Em 1996, o historiadorDécio Freitas publicou o livro O Maior Crime da Terra - O Açougue Humano da Rua do Arvoredo, pela Editora Sulina, após uma pesquisa aprofundada sobre o assunto.[7]
Posteriormente, em 2005, a história dos crimes da Rua do Arvoredo inspiraria também o romance do escritor David Coimbra, Canibais: Paixão e Morte na Rua do Arvoredo, publicado pela editora L&PM Editores.
No Rio Grande do Sul, o grupo RBS - afiliado da Rede Globo no estado - produziu um documentário sobre o caso. Um outro trabalho, feito de forma independente foi produzido.[12][13]
Em 28 de abril de 2006, a Rede Globo apresentou um episódio do programa Linha Direta Justiça, dramatizando o caso. Os atoresCarmo Dalla Vecchia e Natália Lage estavam no elenco do episódio do programa, como José Ramos e sua mulher Catarina. Como trilha sonora do episódio, foram incluídas algumas músicas do grupo inglês Radiohead. Para reconstituir o crime, os trabalhos de pesquisa da equipe do Linha Direta foram amplos. A produção buscou informações nos arquivos públicos do Rio de Janeiro e de Porto Alegre e verificou desde recibos da época e os passaportes de Pilse e Classner, até as autópsias dos corpos das vítimas.[12][13][11]
Catherine Palzer e os novíssimos dados descobertos
Em janeiro de 2025, mais de 160 anos depois dos crimes, foram encontrados novos dados sobre os fatos ocorridos na Porto Alegre de 1863/1864.
Existiam diversas narrativas sendo compartilhadas a muitas décadas sobre a morte de Catarina e muitas delas sem qualquer comprovação, contribuindo apenas para que a desinformação e o fortalecimento do mito em torno do caso fosse difundido no imaginário porto-alegrense.
Os pesquisadores independentes Luis Callado e Fabio Pellini, depois de muitas buscas em bibliotecas virtuais, arquivos públicos e hemerotecas, do Brasil e fora dele, se debruçaram no caso para investigar o mistério da morte da parceira de José Ramos, a então "húngara Catarina Palse". E acabaram encontrando dados vitais importantíssimos sobre ela: a sua nacionalidade, o seu nome correto, família, o motivo de migrar para o Brasil e sua data de morte, local e causa.
A verdadeira Catherine Palzer
Ao longo de todos esses anos, em muitos artigos, livros e textos produzidos sobre o caso, Catarina era apresentada como nascida na Hungria e seu nome escrito como Catarina Palse. Mas ao se deparar com uma lista de passageiros do vapor Commercio (escrito com a grafia da época) que partiu em 1/4/1858 do porto da cidade gaúcha de Rio Grande, com destino provável a cidade de Porto Alegre, descobriu-se a passageira de nome Catherine Palzer com idade aproximada de 20 anos. É sobre esses dados de nome, sobrenome e idade, muito parecidos com a húngara Catarina dos crimes, que as investigações tomaram um novo rumo.
O vapor Commercio nesta viagem especifica, levava migrantes contratados e importados pela empresa colonizadora Sociedade Montravel, Silveira e Cia, de propriedade de Montravel (mencionado como Conde algumas vezes), Israel Soares de Barcelos, Dionísio de Oliveira Silveiro e João Coelho Barreto. Esta cia recebeu a autorização do império brasileiro de colonizar a Colônia Santa Maria da Soledade com 16 léguas quadradas de terras devolutas entre o rio Caí e o arroio Maratá onde atualmente ficam parte dos municípios gaúchos de Carlos Barbosa, São Vendelino, Barão, Nova Milano e Farroupilha.
Sabe-se que, em um primeiro momento, a Cia Montravel buscou colonos lavradores da Suíça e de religião católica para a colonização no RS mas depois de muitas dificuldades em atrair interessados, abriu-se mão desses critérios e passou a buscar famílias sobretudo na região da Prússia (atual Alemanha) pois a situação de miséria desse povo na época era grande.
A lista de passageiros do vapor Commercio encontrada mostra uma quantidade considerável de colonos vindos da Prússia e de religião católica, estando entre estes uma jovem de nome Catherine Palzer com idade aproximada de 22 anos, registrada como solteira, sem filhos e sem nenhum parente a bordo. Há na lista uma anotação de que todos eles tinham vindo ao Brasil pelo navio Bertha e importados pela Cia Montravel.
Sua verdadeira nacionalidade e nome
Catherine nasceu em 20 de Março de 1836 na localidade de Dickweiler, atual Luxemburgo.
Filha mais velha de Hubert Palzer e Marguerithe Kohn, o casal teve um total de 7 filhos que são (em ordem de nascimento): Catherine, Angelique, Maria, Christian, Johann, Mathias e Mathias Mathew. É farta a documentação sobre a sua família, irmãos, pais e avós. Foi encontrado registros de nascimento, casamento, morte e de censo de quase todos eles. É provável que em virtude das condições difíceis da época em sua terra natal, todos os irmãos de Catherine tenham ido embora em busca de melhores condições de vida. Um de seus irmãos, o mais novo, Mathias Mathew Palzer, migrou para os EUA no estado de Illinois falecendo com 82 anos de idade em 1931.
Em algum momento após a chegada na colônia em 1858, houve algum fato que levou a se mudar para Porto Alegre e para lá se tornasse cúmplice de José Ramos no caso policial de 1863 e 1864. O motivo da sua mudança para a capital da província é mera especulação e não se sabe por enquanto. O que de sabe é que nas listas de proprietários dos lotes da colônia Santa Maria da Soledade que existem, não há nenhum deles com o nome de Catherine Palzer como proprietária (até o momento nada foi encontrado sobre isso...). Nas listas de passageiros nos navios contratados pela Cia Montravel, esta claro que a colonizadora preferia trazer famílias inteiras da Europa e mulheres solteiras eram raras. A ida para Porto Alegre pode ter sido em função de algum desacordo com a cia ou algum outro acontecimento ainda não descoberto. Talvez nunca seja.
Muitas narrativas sobre a sua morte e a data do acontecimento foram compartilhadas ao longo das décadas sem qualquer fonte comprobatória, formando um verdadeiro caldeirão de versões onde algumas não tem qualquer relação com os fatos e outras até se aproximam da realidade. A verdade é que esses dados (tipo de morte e data de falecimento) ficaram em aberto, sem qualquer prova ao longo de mais de 160 anos do caso, contribuindo apenas para fortalecer diversos mitos sobre os crimes da rua do Arvoredo. Mas uma dessas narrativas talvez seja a mais próxima do que aconteceu.
É sabido que Catarina dos crimes foi solta da cadeia civil de Porto Alegre em 6/5/1891, fato noticiado no jornal A Federação. O seu parceiro de crime José Ramos morreu doente na Santa Casa de Porto Alegre em 2/8/1893, ainda cumprindo sua pena perpétua. Estes fatos foram comprovados após pesquisas exaustivas em busca de documentação pelo pesquisador independente Fabio Pellini.
Em paralelo a essa investigação, o outro pesquisador independente Luis Callado, encontrou a lista de passageiros com o nome de Catherine Palzer em 1858 e também um registro de óbito de uma Catharina com data de registro de 14/3/1892, apenas 10 meses a soltura da sentenciada nos crimes.
Neste registro de óbito, de data de 14 de março de 1892, o escrivão registra o seguinte:
"Registro de número 402 - Aos quatorze de março de mil oitocentos e noventa e dois, nesta cidade de Porto Alegre e cartório do segundo distrito [xxxxxxx] compareceu João Maria Corrêa Marques, com atestado do doutor Dias de Castro, declarou: [xxxxxx] no Hospício de São Pedro, as três horas da tarde de ontem, faleceu de diarreia, Catharina de quarenta anos de idade, d'Allemanha, cor branca, solteira, seu [xxxxxxx] sepulta[xxx] no cemitério desta cidade. Do que lavrei este termo que assinam o declarante comigo Joaquim [xxxxxx] Pinto [xxxxxxxxxxxxx]."
Muitas ponderações foram feitas sobre esse registro e sobretudo sobre a idade desta Catharina mencionada nele ser diferente da idade da Catarina Palse dos crimes de 1863/1864. Na data do registro de falecimento em 1892, caso seja a criminosa, Catarina Palse deveria ter aproximadamente 55 anos e não 40. Mas ali esta registrado a nacionalidade dela (d'Allemanha), podendo ser um indicativo de que é a Catherine Palzer da viagem de 1858 ao RS. Junto destas e de todas as outras fontes analisadas, sobretudo a data de soltura e também o nome do seu pai, Hubert Palzer mencionado nos autos do processo, os pesquisadores Callado e Pellini chegaram a conclusão de que a Catharina descrita no óbito de 1892 é a mesma Catherine Palzer que chegou ao RS em 1858 e mais tarde se envolveu com José nos fatos da rua do Arvoredo. Essa divergência das idades pode ter ocorrido pela fato de que o comunicante do óbito não sabia a real idade da falecida e "chutou" a idade no momento do registro. Soma-se a isso o fato de não constar no registro o nome de qualquer parente.
Os arquivos no Hospício São Pedro
Os pesquisadores Pellini e Callado ainda continuam buscando exaustivamente mais informações sobre o caso, sobretudo os registros da paciente Catarina de 40 anos da Alemanha do Hospício São Pedro em Porto Alegre mencionada no óbito de 1892 e que faleceu de diarreia. Sabe-se que existem farta documentação dos pacientes do hospício arquivados no Arquivo Público do RGS. Quem sabe pode-se achar até uma foto da paciente.
O material probatório encontrado na sua viagem ao RS em 1858, o suposto registro de óbito e também a vasta documentação de sua origem em Luxemburgo nos dá condições de concluir que Catherine Palzer ao migrar para o Brasil sozinha, revelou o seu lado corajoso ao encarar o novo mundo mas jamais poderia imaginar que morreria de forma sozinha e trágica e de que seria lembrada até hoje pelos Crimes da Rua do Arvoredo.
↑PEREIRA ROCHA, Francisco de Assis (1863). Relatorio do presidente da província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: Typographia do Mercantil de Francisco Xavier da Cunha. p. 6
↑ abcdeFREITAS, Décio (1996). O maior crime da Terra - O açougue humano da Rua do Arvoredo (1863-1864). Porto Alegre: Editora Sulina/Meridional. ISBN8520501311