Apulcro de Castro, Júlio Vasconcelos, Manuel Teodorico Pimentel
Corsário (na primeira fase) ou O Corsário (na segunda), foi um jornal brasileiro fundado em 1880 no Rio de Janeiro por Apulcro de Castro que ao longo dos anos sofreu diversos ataques e empastelamento, culminando com o linchamento de seu editor; na primeira fase trazia por subtítulo "periódico critico, satyrico e chistoso", passando mais tarde a ser "periódico e literário" e na segunda "órgão devotado ao povo e seus interesses", além de lema como "Dizer a verdade para o bem da sociedade".[1]
Foi um dos muitos pequenos jornais (comumente chamados "pasquins") que surgiram no Brasil desde o Primeiro Reinado, caracterizados por poucas páginas e curta duração; Corsário foi, no dizer de Nelson Werneck Sodré, um "repositório de escândalos", atacando em suas páginas desde os prostíbulos até a família real.[1]
Contexto
Vivia então o Brasil uma época de total liberdade de imprensa, para a qual contribuíra especialmente o próprio Imperador, D. Pedro II; isto permitiu o surgimento de uma segunda "leva" de pasquins, que prosperaram, sem encontrar obstáculos quanto ao seu conteúdo, o que provocou reações contrárias na defesa de limites ao que se era impresso.[2]
Muitos jornais, então, adotaram a figura do "homem de palha", que servia como "testa-de-ferro", cujo nome era exibido no lugar dos verdadeiros autores das ofensas publicadas.[2] O episódio do Corsário foi um divisor de águas, fazendo com que vários setores defendessem a censura prévia dos jornais, a fim de coibir os abusos então verificados.[2]
Hermeto Lima fez, em 1924, um breve histórico do jornal que, segundo ele, "era, sob todos os títulos, um jornal abominável mas todo o mundo o comprava para ver-lhe as chagas do corpo"; e que sua linguagem ferina atacava a vida particular sem poupar a ninguém, observando que a polícia não dispunha de meios para execer sobre ele alguma censura.[4][nota 1] Aventa Daniele Cabral, da Biblioteca Nacional, que talvez por conta dessa linha editorial mordaz somente a 10 de janeiro o nome de seu proprietário e editor, Apulco de Castro, tenha aparecido publicado a primeira vez.[1]
Assim, já em 17 de janeiro de 1881, policiais e populares atacaram os meninos que vendiam o periódico pelas ruas e, tomando-lhes os jornais, rasgaram-nos todos; isto fez com que a redação aumentasse os ataques de forma que, no dia 27, um delegado com os seus subordinados invadiu a redação do jornal, situada à rua São José, 52, e ameaçou seus redatores.[4]
Continuando o Corsário a publicar suas críticas, em 20 de outubro de 1881 Trigo Loureiro, chefe de polícia, ordenou que o jornal fosse empastelado, assumindo pessoalmente a responsabilidade pelo seu ato; no dia 13 de dezembro o próprio governo agiu, enviando ao exílio os redatores Júlio Vasconcelos e Manuel Teodorico Pimentel.[4]
Ainda assim os redatores remanescentes continuam seu trabalho que tanto incomodava as autoridades e a 20 de janeiro as autoridades policiais intimam-lhes os redatores a moderarem a linguagem, sob pena de mais deportações em oito dias; no dia 14 de março deste ano um dos redatores foi espancado na rua.[4]
O clima de ameaças chega ao seu clímax no mês de outubro de 1883, após a publicação de uma matéria alusiva a um oficial do 1º Regimento de Cavalaria, fazendo com que oficiais do próprio exército passassem a ameaçar seu proprietário, Apulcro de Castro que, a fim de proteger a própria vida, se socorre da própria chefatura de polícia da então capital do país; quando saía dali, sob a guarda do capitão Ávila, ajudante-de-ordem do comandante do exército Visconde da Gávea e que atendera ao apelo do ameaçado ante a ausência do titular, Apulcro foi atacado e linchado por militares (dentre os quais Antônio Moreira César), num crime que chocou a população que nos dias seguintes atacou postos policiais.[4] O fato foi de tal monta que Capistrano de Abreu registra ter sido o primeiro de três momentos que levaram à derrubada da Monarquia pelos militares: "O assassinato de Apulcro de Castro, redator do Corsário, em outubro de 83, às barbas da polícia, por militares que ostentavam esse caráter, deixou claro que a monarquia contava seus dias pela paciência da guarnição"[5][nota 2]