A Coroa da Princesa Branca, também conhecida como Coroa Palatina ou Coroa Boêmia é a coroa mais antiga sobrevivente que sabe-se que já esteve na Inglaterra, datando de 1370 a 1380.[1] A coroa é posse da Casa de Wittelsbach desde 1402, quando a princesa Branca de Inglaterra levou-a consigo, como parte de seu dote, para se casar com o eleitor Luís III do Palatinado. Originalmente, contudo, pode ter pertencido à Ana da Boêmia, a primeira consorte do rei Ricardo II de Inglaterra.
A coroa é formada por doze rosetas na base, cada uma sustentando um caule dourado encimado por uma flor-de-lis. As flores de lis cobertas por joias eram um tema popular em coroas medievais.[2] Os caules e as flores variam em tamanho e altura. No meio dos hexágonos, os quais possuem flores brancas esmaltadas sobrepostas num pano de fundo vermelho ou azul, há uma safira azul pálida, onze das quais são ovais, e uma é hexagonal. Cada ponta é decorada com rubis que se alternam, e conjuntos de quatro pérolas que têm um pequeno diamante no centro. Além dos diamantes, pérolas e safiras, as flores de lis também são decoradas com esmeraldas.
Algumas das pérolas originais foram substituídas quando a coroa passou por uma restauração em 1925.[1] Os caules das flores de lis são removíveis, e, é possível dobrar a base da coroa para facilitar o seu transporte. Cada roseta recebeu o número de 1 a 12, para garantir que as flores sejam colocadas novamente da forma correta.[3] A coroa mede 18 centímetros, tanto na altura quanto no diâmetro.[4]
A primeira menção à coroa é feita em 1399, quando aparece numa lista de joias e bandejas de ouro e prata entregues da Tesouraria à Câmara do Rei Henrique IV, os quais anteriormente pertenceram ao rei Eduardo III, Ricardo II, à rainha Ana da Boêmia, a duquesa de Iorque, o duque de Iorque, e ao Sir João Golafre.[2] Ela é documentada como tendo doze flores, mas com uma roseta faltando. Na época, era decorada com 91 pérolas, 63 espinelas, 47 safiras, 33 diamantes e 5 esmeraldas. Além disso, mais sete pérolas e uma esmeralda tinham sido removidas das flores. A coroa pesava 5 marcos, ou seja, menos de 1 quilograma, e valia £246.[5]
No inventório em que aparece, redigido em 1399, a coroa fazia parte de peças as quais estavam sendo levadas pela cidade de Londres, que eram propriedade do rei Ricardo II, que havia sido deposto pelo seu primo, o agora rei Henrique IV. Portanto, a coroa provavelmente pertencia à rainha anterior, Ana da Boêmia, esposa de Ricardo, com quem se casou em 1382. A peça refinada pode ter sido produzida na Boêmia, porém, elementos tais como a ornamentação nos caules sugerem que foi em Paris, embora o fabricante possa ter sido um ourives francês ou um ourives com treinamento em ourivesaria francesa, que trabalhava na cidade de Praga.[2] Outro possível local de origem da coroa é Veneza, na Itália.[6]
A coroa passou a fazer parte das joias da Casa de Wittelsbach a partir do casamento da princesa Branca, com o eleitor Luís III. Ela era filha do rei Henrique IV e de Maria de Bohun. Após a sua ascensão ao trono, Henrique desejava consolidar alianças importantes com o propósito de manter e legitimar o seu governo. Um aliado cujo apoio ele pretendia ganhar era o rei Roberto da Germânia, um Wittelsbach, que também tomou o trono após a deposição Venceslau IV da Boêmia. Assim, logo foi arranjado o casamento entre Branca, e o filho mais velho do rei alemão, Luís.
No dia 7 de março de 1401, o contrato de casamento foi assinado em Londres, e o dote da noiva foi fixado em 40.000 nobres (uma moeda de ouro inglesa). No ano de 1402, antes do casamento, a coroa foi restaurada por um ourives londrino, que adicionou uma décima segunda roseta, e substituiu a esmeralda e pérolas que faltavam nas flores.[5] A nova roseta continha 12 pérolas, 3 diamantes, 3 espinelas, e 1 safira. Ao todo, foram adicionados 50 gramas de ouro à coroa. Branca usou a coroa na cerimônia de casamento, que ocorreu em 6 de julho de 1402 na Catedral de Colônia.
Após o casamento, a coroa passou para o Tesouro Palatino em Heidelberg, como parte do dote. Em 2 de agosto de 1421, a coroa foi penhorada para o Mosteiro de Maulbronn, hoje no estado alemão de Baden-Württemberg. Nessa altura, porém, várias pedras preciosas e pérolas tinham sido removidas.[1]
Em 1782, a coroa foi transferida para o Tesouro de Munique, junto com outras joias pertencentes ao ramo do Palatinado da Casa de Wittelsbach.[4]
A coroa retornou apenas uma vez para a Inglaterra desde a sua partida no século XV, quando apareceu na exibição Age of Chivalry na Academia Real Inglesa em Londres, em 1988.[3][4]