Huracán vs. San Lorenzo de Almagro é um dos numerosos clássicos de bairro da cidade de Buenos Aires, o mais famoso e intenso deles. Como tal, a rivalidade surgiu por causa da proximidade entre os bairros identificados com os times: Parque Patricios (Huracán) e Boedo (San Lorenzo).[1] Também conhecido como Clásico de Barrio (Clássico de Bairro) e Clásico Porteño (Clássico Portenho), entre um dos Cinco grandes do futebol argentino e um dos postulantes a ser apontado como o sexto grande.[2][3][4]
Semelhanças
Elencos dos dois rivais em 1946. O Huracán (abaixo) usou azul nos calções, ficando com as mesmas três cores do San Lorenzo (campeão daquele ano).
Boedo e Parque Patricios são bairros vizinhos do sul da capital argentina, geralmente tidos como bairros operários, habitados principalmente por trabalhadores não-qualificados.[5] Outra similaridade nos rivais está nas cores: branco e vermelho (em tonalidade grená, no caso do San Lorenzo) se fazem presente em ambos, diferenciando na forma em que são dispostas no uniforme e no uso também do azul por parte do San Lorenzo - sendo que esta cor também já foi utilizada pelo Huracán, em seus calções.
Curiosamente, nenhum dos dois times foi fundado nestes respectivos bairros: o Huracán foi criado no de Nueva Pompeya e o San Lorenzo, como sugere seu nome, em Almagro. Os azulgranas chegaram, por sua vez, a ter campo em Nueva Pompeya; um realinhamento em 2007 desfez isso, deixando o Nuevo Gasómetro, estádio do clube, no bairro de Flores. Apesar da nova casa ser vizinha também ao bairro de Boedo, a mudança é uma das fontes de brincadeira da torcida do Huracán, que costuma satirizar o rival identificando-o como Carrefour - a rede de hipermercados que adquiriu o antigo Gasómetro, o estádio do San Lorenzo que ficava em Boedo.[6][7]
Outro ponto em comum nos dois clubes é o ano da fundação, assim como o dia: 1908, em 1 de abril o San Lorenzo e em 1 de novembro o Huracán.
Enfrentaram-se pela primeira vez sete anos depois (vitória de virada do San Lorenzo por 3 a 1, no Estádio Arquiteto Ricardo Etcheverry). A rivalidade cresceu mais no final dos anos 1920, com a unificação das ligas que promoviam os campeonatos argentinos; até então, cada um jogava em uma liga separada; na época, a rivalidade do Huracán era com o Boca Juniors, do bairro também próximo e igualmente humilde de La Boca e com quem disputava acirradamente os títulos de uma dessas ligas.[8] Há também rixa do Boca com o San Lorenzo, pelo fato de esta ser um das pouquíssimos clubes argentinos que levam vantagem nos confrontos contra os auriazuis.
Os rivais também estiveram juntos durante muito tempo nas gozações: o San Lorenzo era alvo de chacota por ser, até 2014, o único grande argentino que não havia vencido ainda a Copa Libertadores da América, competição que já havia sido vencida até por agremiações argentinas consideradas pequenas.[9] Já o Huracán sofre com as estatísticas de sua rivalidade, que lhe são bastante desfavoráveis, e após o título da Libertadores do San Lorenzo o de nem ao menos ter uma conquista de competição da Conmebol em seu cartel.[10]
Outro fator de curiosidade é o número de jogadores famosos que já vestiram as duas camisas, embora bem poucos tenham sido igualmente ídolos em ambas: Luis Monti, Omar Larrosa, Oscar Ortiz, Carlos Buttice, Héctor Veira e Narciso Doval (os quatro últimos, com passagens pelo futebol do Brasil) são alguns exemplos.[5]
Disparidades
O clássico é tido como dos mais desparelhos da Argentina, tendo um contexto amplamente favorável ao San Lorenzo: o Ciclón ("ciclone", apelido criado pelos torcedores do clube justamente por causa do Huracán, que significa "furacão") tem 77 vitórias contra 41 do Globo ("balão", como é conhecido o Huracán, em razão de seu emblema, que homenageia o famoso balão do aviador argentino Jorge Newbery). A maior goleada também pertence a Boedo: 5 a 0 em 1995, quebrando uma das poucas supremacias do Huracán, que vencera por 5 a 1 em 1944.[5] Além disso, o San Lorenzo tem mais vitórias mesmo como visitante do Huracán e também a maior sequência de vitórias nos clássicos: nove, entre 1957 e 1961, e de invencibilidade (treze jogos, com 11 vitórias e 2 empates entre 1957 e 1968), fora marcas menores como triunfos e invencibilidades como mandante e visitante.[11]
Mais do que os confrontos diretos, outro fator de peso que desiguala a rivalidade são os títulos de cada um: enquanto na era amadora o Huracán possuía 4 títulos argentinos contra 3 do rival, na era profissional a situação inverteu-se: o San Lorenzo foi campeão doze vezes, contra apenas uma do Huracán. Além disso, os azulgranas contabilizam três títulos internacionais oficiais contra nenhum do vizinho: a Copa Mercosul de 2001 a Copa Sul-Americana de 2002 e a Copa Libertadores da América 2014.
Mas já no início da era profissional havia desnível entre ambos: o San Lorenzo passou a ser considerado oficialmente um dos cinco grandes do futebol argentino. Tradicionalmente, o Huracán é visto como o "sexto grande", mas disputa tal posto com outros times de mais conquistas, como o Estudiantes de La Plata, o Vélez Sarsfield e os rosarinosNewell's Old Boys e Rosario Central. A torcida de los santos (outro apelido do San Lorenzo, fazendo referência ao santo) também gosta de lembrar as treze vitórias seguidas do time no Clausura de 2001, vencido pelo clube. A sequência ainda é um recorde no país.[12] O maior goleador do clássico também é azulgrana: José Sanfilippo, autor de 14 gols.
↑ abNota: houve um jogo que considerou-se como perdido para os dois lados em 1997, devido a distúrbios ocorridos no setor visitante do campo do San Lorenzo, que se iniciaram por causa da morte de um torcedor do Huracán nas imediações do estádio pouco antes da partida, válida pelo Apertura.