O Cemitério dos Náufragos e o Cemitério Monumento dos Náufragos são os únicos cemitérios brasileiros onde estão enterradas vítimas da Segunda Guerra Mundial.[1] Estão localizados, respectivamente, na Rodovia Presidente José Sarney e na Rodovia dos Náufragos, em Aracaju.[2] O Cemitério Monumento dos Náufragos foi considerado um Monumento Histórico Estadual pela Secretaria de Estado da Cultura de Sergipe através do Decreto nº 2.571, de 20 de junho de 1973.[3]
Criação
Em 15 de agosto de 1942, o submarino nazista U-507, liderado pela Kriegsmarine, afundou três navios brasileiros, Baependi, Araraquara e Aníbal Benévolo, a menos de 10 km da costa de Aracaju, deixando cerca de 600 mortos. Os corpos boiaram até a costa. Os corpos que não puderam ser identificados foram enterrados na própria praia, que futuramente se tornou o cemitério.[4]
O cemitério foi um projeto do governo estadual de Sergipe com a Capitania dos Portos, mas as origens do local não são claras. Há quem diga que o projeto foi criado pelo médico Carlos Moraes de Menezes, mas é possível que a estrutura já existisse, ainda que de forma precária, há mais de 100 anos,[5] sob o nome de Cemitério de Manguinhos ou de Campinho.[1][2][6] O cemitério é feito de maneira improvisada com corpos enterrados em cova rasa. O governo de Sergipe ordenou que todas as sepulturas deveriam ter a seguinte inscrição: "vítima do Nazismo".[7]
Originalmente, ele estava localizado na Rodovia Presidente José Sarney, perto da praia de Aruana, mas por causa da construção da rodovia, parte dos corpos foram deslocados em 1950 para o povoado do Mosqueiro, na Rodovia dos Náufragos. O local foi batizado de Cemitério Monumento dos Náufragos. No cemitério, foi construido um memorando de mármore. Nele, está escrito: “aí está o golpe mais traiçoeiro e terrível vibrado contra o coração da nacionalidade”. Em 1971, houve uma tentativa de tombamento pelo Departamento de Cultura e Patrimônio Histórico, mas o órgão foi informado sobre a mudança de cemitério durante o governo de Leandro Maciel. Mas não foi encontrada nenhuma documentação que comprove o fato. Em 1972, passou por uma restauração com recursos do Ministério da Marinha e do Governo Estadual, e pelo Decreto nº 2.571/1973, foi considerado um Monumento Histórico Estadual pelo Estado de Sergipe. O projeto foi de autoria de Núbia Marques, pedido ao secretário de educação Dr. Marcos Pinheiro do governo Paulo Barreto de Menezes.[1][2][6][7]
Negligência governamental
O cemitério original se encontra interditado por problemas ambientais ligados ao lençol freático da região praiana.[2] Em 2010, os moradores do Povoado Robalo protestaram com o fechamento do local pelo descaso da gestão pública.[5] Em 2020 continuou sendo usado pela população para enterrar os mortos pela Pandemia de COVID-19. A Secretaria de Estado por meio do Programa de Desenvolvimento do Turismo, planejava criar um memorial no segundo cemitério, mas a ação foi criticada por não incluir o cemitério a beira-mar e não dialogar com a população e pesquisadores acadêmicos.[2] Já o segundo cemitério era clandestino, e passou anos interditado até virar um Monumento Histórico Estadual.[6]
Na entrada do cemitério original há a seguinte inscrição: “Os ex combatentes da 2ª Guerra Mundial que lutaram na Itália em 1942 a 08 de julho de 1948. Que as autoridades não esqueçam dos heróis que lutaram pela nossa pátria”. Porém se trata de um erro histórico, pois a guerra acabou em 1945, e os combatentes em solo europeu não estão enterrados no local.[2]
Arqueologia histórica
Documentos primários como decretos governamentais, fotografias, plantas, projetos de urbanização e documentos referentes aos torpedeamentos existentes estão preservados no Arquivo Público do Estado de Sergipe, e processos envolvendo ações referentes aos locais estão preservados no Arquivo do Judiciário. Porém, ainda não foi realizado um trabalho arqueológico sobre o período, que torna os cemitérios importantes na área de arqueologia histórica.[5]
Referências