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Com feições antropomórficas ou zoomorfas e "expressão leonina", a ela se atribui a propriedade de, com três gemidos, avisar o barqueiro de que a nau irá naufragar. Autores aventam possíveis influências das antigas culturas do Egito, Assíria e Babilônia, pela influência africana dos barqueiros do Congo e da Guiné.[1]
História
As primeiras referências às carrancas datam de 1888 em livros de Antônio Alves Câmara[2][3] e Durval Vieira de Aguiar.[4] As carrancas eram construídas a princípio com um objetivo comercial, pois a população ribeirinha dependia do transporte de mercadorias pelo rio, e os barqueiros utilizavam as carrancas para chamar a atenção para sua embarcação. Em certo momento, a população ribeirinha passou a atribuir características místicas de afugentar maus espíritos às carrancas. Esta atribuição colocava em segundo plano o aspecto artístico da produção das carrancas, ou seja, como forma de manifestação cultural popular de uma região brasileira.[5][6][1]
Figura, figura de proa e leão de barca também eram termos utilizados pelos remeiros para designar as carrancas.[7]
Os primeiros registros de carrancas no Brasil, mas precisamente no Vale do rio São Francisco, datam da segunda metade do século XIX, com indícios desses ornamentos em embarcações que circulavam pelo São Francisco, rio que corta os Estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Amuleto original do Brasil, é utilizado em barcos do Vale do São Francisco com a pretensão espantar maus espíritos das águas como a mãe d’água, o nego d'água e o surubim-rei que são lendas populares da região. Embarcações tradicionais do São Francisco figuram como as únicas embarcações a apresentar, em culturas ocidentais, carrancas na proa. Não há definição sobre ser sua origem ameríndia ou negra.[8]
Uma corrente vai ao encontro da lenda do Nego D'água, também conhecido como Caboclo D"água, espírito maligno que afunda embarcações. A carranca então passou a ser colocada na frente das embarcações como forma de repelir o Nego D'água. Com o passar do tempo o ornamento passou a constituir uma expressão de arte popular.[9]
A carranca também é encontrada em algumas religiões africanas e de origem africana como o Candomblé e a Umbanda. Na Umbanda está ligada a Exu que afasta energias negativas e mau olhado. Podendo significar tanto o orixá Exu quanto um amuleto contra mau olhado.[10]
A palavras carranca e carrancudo/carrancuda também pode significar mau humor, feição fechada de uma pessoa. "Ela está com a carranca hoje!". "Que carrancudo!"[11]
O Padre e a Moça
Mais uma lenda que remete à carranca é a história de amor entre um padre e uma mulher. Não prosseguindo com o romance e consumido pelo amor, ódio, ciúmes e sede de vingança o padre transformou-se em uma carranca.[12]
Outros Tipos de Carrancas
Drakkar
As famosas embarcações de guerra dos vikings, chamadas drakkar, exibiam cabeças de dragão esculpidas na proa da embarcação para aterrorizar os inimigos.[13]
Hannya
Em geral relacionadas ao teatro profissional japonês, os hannyas são máscaras de cores e formas variadas e sempre com expressões exageradas. Segundo uma das interpretações, originaram-se no teatro tradicional de estilo Nô. O hannya é um dos diversos tipos de máscaras usados pelos atores do Nô, representando especificamente, uma mulher vingativa e ciumenta.[14]
A palavras carranca e carrancudo/carrancuda também pode significar mau humor, feição fechada de uma pessoa. "Ela está com a carranca hoje!". "Que carrancudo!"[11][15]
↑ abCâmara Cascudo (2010). «Cabeça de proa (verbete)». Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro. p. 203-205. 930 páginas. ISBN8500800070
↑CAMARA, Antonio Alves. Ensaio Sobre as Construções Navais Indígenas do Brasil. 1 ed. 1888. 209 p.
↑CAMARA, Antonio Alves. Ensaio sobre as construcções navaes indígenas do Brasil. 2 ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1937. 261 p. (Brasiliana, v. 92).
↑AGUIAR, Durval Vieira de. Descrições Práticas da Província da Bahia. Rio de Janeiro: Livraria Editora Cátedra, 1979.