A seriema ou seriema-de-patas-vermelhas[4][5] (Cariama cristata) é uma ave predadora terrestre da família Cariamidae. A espécie foi classificada anteriormente dentro da ordem Gruiformes, mas dados moleculares sugerem que as seriemas fazem parte de uma ordem distinta, chamada Cariamiformes, que inclui outras três famílias extintas.[6] Também é conhecida como seriema-de-perna-vermelha, sariema, siriema, sariama e çariama.
É amplamente distribuída na América do Sul, ocorrendo no centro e leste do Brasil, passando pelo leste da Bolívia e Paraguai até o Uruguai e centro da Argentina (ao sul até La Pampa),[7] vivendo em pastagens, savanas, cerrados, bosques secos e florestas abertas.
Taxonomia
A seriema foi descrita em 1766 pelo naturalista sueco Carolus Linnaeus na 12ª edição de seu livro Systema Naturae. Ele cunhou a binomePalamedea cristata.[3] A seriema é hoje a única espécie incluída no gêneroCariama, que foi introduzido pelo zoólogo francês Mathurin Jacques Brisson em 1760.[2] O epíteto específicocristata é a palavra latina para "com crista", "emplumado" ou "tufado". O naturalista alemão George Marcgrave utilizou a palavra latina Cariama para a seriema em seu livro Historia naturalis Brasiliae publicado em 1648.[8]
O nome seriema é de origem tupi, correspondente à palavra çariama. O nome do gênero, Cariama, é resultado de uma leitura errônea. Por ser escrito com cedilha na obra de Marcgrave: çariama, surgiu a confusão.[9]
Anteriormente, a espécie foi incluída na ordem Gruiformes, no entanto, análises moleculares sugerem que as seriemas fazem parte da ordem Cariamiformes, juntamente com três famílias extintas. A ordem faz parte de um clado que inclui os falcões, papagaios e passeriformes,[6] bem como as extintas aves-do-terror (Phorusrhacidae).[10]
Descrição
A seriema tem cerca de 75 a 90 cm de comprimento, com um peso médio de 1,5 a 2,2 kg.[7] Seu pescoço, sua cauda e suas pernas são muito longas. Possui plumagem marrom-acinzentada, delicadamente barrada e marcada com um tom marrom-escuro e preto; marrom claro na cabeça, no pescoço e no peito e branca na barriga. A cauda tem uma faixa preta subterminal e uma ponta branca. Seu bico é avermelhado e suas longas pernas são de cor de salmão. Os olhos são amarelos.[7][11] Da base do bico emergem penas suaves que dão forma a um penacho distinto em forma de leque.[12]
É uma das únicas aves que possuem pestanas, exibindo cílios pretos nas pálpebras superiores. Muitas outras características são compartilhadas com Chunga burmeisteri, que é o único outro membro vivo de sua família. O juvenil de Cariama tem barras marrom-escuras na coroa, pescoço e manto; pernas e bico mais cinza, lembrando o padrão da menor e esguia seriema-de-perna-preta (Chunga burmeisteri) parcialmente simpátrica, mas que carece do penacho característico de C. cristata.[7] Não apresenta dimorfismo sexual.
O desmatamento contribui para a expansão de seu alcance na medida em que lhe proporciona novos habitats favoráveis; como no vale do rio Paraíba (Rio de Janeiro) e na Amazônia.[14]
Comportamento
Seriemas são aves cautelosas, territoriais e diurnas.[12][14] No geral, a seriema é sedentária e não apresenta um padrão migratório distinto, embora haja relatos de migrações relacionadas à temperatura.[15] É tipicamente vista sozinha ou em pares, mas ocasionalmente em grupos de até quatro indivíduos, aparentemente famílias. Raramente voam e passam a maior parte do tempo no solo, exceto quando empoleiram-se em árvores baixas ou arbustos. A seriema pode correr mais rápido que um humano, podendo alcançar velocidades de até 25 km/h antes de tomar voo.[16][17]
A defesa territorial pode envolver confronto agonístico entre indivíduos, inicialmente caracterizada por duetos de vocalização completa seguidos por corridas curtas e voos em direção a intrusos, alternado com ataques com as garras e bico.[18] Em um conflito entre duas aves, elas pularam um sobre o outro com os pés primeiro, mantendo o equilíbrio batendo as asas.[16]
Esta espécie tipicamente constrói seus ninhos em árvores baixas ou arbustos,[12] de forma que os adultos possam alcançar o ninho do chão por pulos curtos ou batendo as asas rapidamente e levemente ao invés de voar.[19]
Vocalização
A vocalização completa é feita especialmente ao amanhecer e, em menor grau, ao anoitecer. Também pode ocorrer irregularmente em outras horas do dia.[7] O canto é descrito como "um cruzamento entre o latido "serrilhado" de um cão jovem e o cacarejar de perus". Na parte mais alta da música, a ave dobra o pescoço, de modo que a cabeça toca as costas. Ambos os membros de um par e também filhotes de até duas semanas cantam; frequentemente, um membro da família começa uma música assim que outro termina, ou dois cantam simultaneamente. Seu canto pode ser ouvido a mais de um quilômetro de distância. No Parque Nacional das Emas, em 1981-1982, os observadores ouviam frequentemente grupos de quatro seriemas ou mais cantando ao mesmo tempo.[16]
A canção completa consiste em três seções:
Notas únicas repetidas em duração e altura constante (1.200 a 1.300 Hz), mas aumentando o tempo
Subfrases repetidas de duas ou três notas de afinação ligeiramente mais alta com andamento crescente
Subfrases de até 10 notas, as mais curtas aumentando em tom e as mais longas caindo, combinações de duas subfrases aumentando em número de notas e andamento e, em seguida, diminuindo em andamento.
Há outras vocalizações. Por exemplo, quando está irritada, deixa ouvir um rosnar. Durante o galanteio, e, às vezes, quando descansa, emite um rangido.[14]
Normalmente se alimenta sozinha ou em pares, sazonalmente em pequenos grupos familiares; forrageia caminhando firmemente, procurando comida no solo ou na vegetação rasteira.[7] Agarra pequenos vertebrados com o bico e os golpeia contra o solo antes de desmembrá-los com o bico e as garras.[16]
Reprodução
Seriemas são monogâmicas. Na natureza, a estação reprodutiva está correlacionada com os meses chuvosos de fevereiro a julho no nordeste do Brasil, setembro a janeiro no centro do Brasil e novembro a dezembro na Argentina.[20] Durante a época de reprodução, o macho, mais intimidante ou forçando-se sobre a fêmea, abre suas asas lateralmente, movendo-as para frente e exibindo o arranjo contrastante das penas de voo, padrão semelhante ao de certas aves de rapina, como a ave secretário (Sagittarius serpentarius) da savana africana.[14]
Comumente, põe 2 a 3 ovos brancos, ligeiramente manchados. O casal reveza-se no choco, que dura 26-29 dias. O filhote é coberto por longa penugem filiforme parda pálida com manchas pardas e tem o bico pardo-escuro, pés cinzento-escuros. Com cerca de 12 dias de idade, os filhotes podem até mesmo deixar o ninho. Já nesta época, o filhote é capaz de emitir um chamado semelhante ao canto dos adultos, embora seja muito fraco, para chamar sobre si a atenção dos pais.[14] A plumagem adulta é adquirida em 4-5 meses.[7]
Estado de conservação
Não ameaçada, embora incomum no extremo sul do Brasil; rara e possivelmente desaparecendo no Uruguai. Uma população no nordeste da Argentina aparenta estar pressionada pela caça e destruição do habitat. Começou a colonizar áreas desmatadas e gramíneas da Amazônia brasileira. É classificada como uma espécie "pouco preocupante" na Lista Vermelha da IUCN.[1]
↑ abMayr, Gerald (2009). «Cariamae (seriemas and allies)». Paleogene Fossil Birds. Berlin, Heidelberg: Springer. pp. 139–152. ISBN978-3-540-89627-2
↑ abcdefghGonzaga, Luiz P.; Kirwan, Guy M. (4 de março de 2020). «Red-legged Seriema (Cariama cristata)». In: Shawn M. Billerman, Brooke K. Keeney, Paul G. Rodewald, Thomas S. Schulenberg. Birds of the World. [S.l.]: Cornell Lab of Ornithology. Consultado em 15 de novembro de 2020 !CS1 manut: Nomes múltiplos: lista de editores (link)
↑Marcgrave, Georg (1648). Historia naturalis Brasiliae (em latim). Liber Quintus: Qui agit de Avibus. Lugdun and Batavorum (London and Leiden): Franciscum Hackium and Elzevirium. p. 203
↑Blake, Emmet Reid (1977). Manual of Neotropical Birds. [S.l.]: University of Chicago Press. ISBN978-0-226-05641-8
↑ abcHolyoak, D. T.; Heinsohn, R. (2003). «Seriemas». In: Perrins, C. Firefly Encyclopedia of Birds (em inglês). [S.l.]: Firefly Books. p. 222. ISBN1-55297-777-3
↑ abcdefSick, Helmut; Haffer, Jürgen; Alvarenga, Herculano F; Pacheco, José Fernando; Barruel, Paul (1997). Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira. ISBN978-85-209-0816-7
↑Hutchins, Michael; Jackson, Jerome A.; Bock, Walter J.; Olendorf, Donna, eds. (2003). Grzimek’s Animal Life Encyclopedia | Birds II. 9 2 ed. Farmington Hills, MI: Gale Group. pp. 88–89. ISBN0-7876-5785-9