O canto moçárabe é uma das mais importantes facetas do rito hispânico. Este rito cristão surgiu após a queda do Império Romano e a concomitante invasão bárbara da Península Ibérica. Foi no seio deste confronto de culturas – hispano-romana e visigótica – que foi desenvolvido este tipo de canto monódico. Após a invasão muçulmana o mundo cristão visigótico foi fragmentado, surgindo o fenómeno das comunidades moçárabes (grupos minoritários de cristãos que continuaram a viver nos territórios controlados pelos mouros), que preservaram as tradições do rito hispânico.[1]
O rito e canto moçárabes foram predominantes até ao século XI. Foram substituídos pelo rito romano e canto gregoriano, por imposição papal, numa tentativa de uniformizar o mundo católico.[1] Curiosamente, o canto gregoriano tinha recebido, durante a sua formação, influências do canto moçárabe, preservando algumas das suas características.[2]
Grande parte da produção musical moçárabe sobreviveu até à atualidade, transmitida em diversos manuscritos. Contudo, a notação que era então utilizada, em “campo aberto”, não permite uma reconstrução da melodia em notação musical moderna e impossibilita a sua interpretação. Restam apenas cerca de 30 peças, transmitidas usando a notação aquitana e por isso legíveis.[1]