Campanha parta de Marco Antônio ou Guerra romano-parta de 40-33 a.C. foi um grande conflito entre a República Romana, representada no oriente pelo triúnviroMarco Antônio, e o Império Parta. Embora a campanha tenha terminado numa desastrosa derrota para Antônio, a guerra transformou-se num empate estratégico depois da negociação de Otaviano.
Campanha de Ventídio Basso
Júlio César, depois de ter assegurado a vitória em sua guerra civil, planejou uma campanha contra o Império Parta em 44 a.C. para se vingar de uma derrota anterior de uma força liderada por Marco Licínio Crasso na Batalha de Carras (53 a.C.). O plano de César era, depois de uma rápida pacificação da Dácia, continuar avançando para o oriente invadindo o território parta[1]. Depois de seu assassinato, o Segundo Triunvirato, composto por Marco Antônio, Marco Lépido e Otaviano (o futuro imperador Augusto) foi formado. Depois da derrota dos assassinos de César na Batalha de Filipos, o comando cesariano sobre a República foi assegurado. Logo depois, porém, os triúnviros se ocuparam da revolta na Sicília liderada por Sexto Pompeu, o que permitiu que os partas atacassem a Síria romana e o reino cliente da Judeia. O sumo-sacerdote e marionete romana, Hircano II, foi derrubado e enviado como prisioneiro a Selêucia depois que o pró-parta Antîgono II Matatias foi instalado em seu lugar. Antígono era o último filho do antigo rei Aristóbulo II, que havia sido deposto pelos romanos, que colocaram em seu lugar o sumo-sacerdote (e não um "rei") em 63 a.C. Depois de capturarem Hircano II, Antígono arrancou-lhe as orelhas para impedir que ele se qualificasse novamente ao posto de sumo-sacerdote[2].
Depois da vitória, Basso cercou Samósata, a principal fortaleza no Eufrates do Reino de Comagena, que havia apoiado os partas. Conforme o cerco foi se prolongando, rumores de uma possível negociação estava em curso. Neste ponto, Marco Antônio finalmente resolveu assumir o comando do exército romano[3]. Basso, depois de ceder o comando oficialmente, foi enviado imediatamente para Roma; Plutarco afirma que Antônio, com ciúme do prestígio de seu subordinado, preferiu removê-lo do teatro de operações[4]. Os autores modernos duvidam desta interpretação tradicional das fontes antigas e afirmam que, na verdade, Ventídio Basso retornou rapidamente a Roma principalmente por que queria celebrar logo um triunfo por suas vitórias[5][6].
Marco Antônio preferiu não prolongar mais o cerco de Samósata, que terminou em setembro de 38 a.C. depois que o rei de Comagena aceitou pagar um tributo de 300 talentos de prata[3][4].
Com a ajuda de Marco Antônio, triúnviro e amante da rainha ptolemaica do Egito, Cleópatra VII, o genro de Hircano, Herodes, o Grande, retornou para Judeia e retomou Jerusalém em 37 a.C. Antônio em seguida atacou o próprio Império Parta, marchando contra Atropatene (a moderna região do Azerbaijão iraniano) com cerca de 100 000 legionários, apoiados por reis clientes romanos na Armênia, Galácia, Capadócia e o Ponto. A campanha em si foi um desastre, principalmente depois da derrota em Fraaspa, a capital de Atropatene, na qual milhares de romanos e auxiliares foram mortos durante a retirada por causa do inclemente inverno. Antônio perdeu mais de um quarto de sua força nesta campanha.
Mais uma vez com dinheiro egípcio, Antônio invadiu a Armênia, desta vez com sucesso. Para celebrar, um falso triunfo romano foi realizado nas ruas de Alexandria. A parada através da cidade foi um pastiche das mais importantes celebrações militares romanas. Em seu grandioso final, a cidade toda foi convocada para ouvir uma declaração política. Em 34 a.C., Antônio, apoiado por Cleópatra e o seu herdeiro, rompeu com Otaviano, o herdeiro de César.
Antônio anexou a Armênia temendo uma retaliação parta, mas a guerra só terminou formalmente em 20 a.C, uma paz firmada por Augusto que assegurou o retorno das recém-capturadas águias legionárias de Crasso e dos exércitos de Saxa, a principal justificativa Antônio para a invasão.
Marco Antônio deixou a Armênia ocupada em 34 a.C. e retornou a Alexandria levando consigo o rico butim amealhado em sua rápida campanha e também o rei Artavasdes com sua família. Em paralelo, continuou negociando com Artavasdes I da Média para consolidar sua colaboração numa futura campanha contra os partas através de um acordo matrimonial[7]. Antônio prometeu em casamento o seu filho com Cleópatra, Alexandre Hélio, para a filha de Artavasdes, Iotapa[8]. De volta em Alexandria, Marco Antônio se ligou definitivamente e irremediavelmente a Cleópatra: ele celebrou seu triunfo sobre os armênios em Alexandria com uma espetacular coreografia oriental[9]. Contudo, muito mais grave, no outono de 34 a.C., numa luxuosa cerimônia, Marco Antônio oficializou as famosas "Doações de Alexandria", através das quais, além de proclamar Cleópatra "rainha dos reis" e Cesarião "filho e herdeiro legítimo de Júlio César", agraciou o Egito com os territórios de Chipre e da Celessíria; além disto, ele reorganizou, em tese, a administração dos territórios orientais de Roma doando-os de forma programada para os três filhos pequenos que ele tinha com Cleópatra[10].
Estes eventos escandalosos deram a Otaviano todos os motivos que ele precisava para reforçar sua posição em Roma e para organizar uma coalização para combater Antônio evocando o perigo do domínio oriental sobre o "Império de Roma", insinuando que Marco Antônio estava completamente dominado por Cleópatra, o "fatale monstrum"[11]. Marco Antônio aparentemente não compreendeu de imediato a crescente desaprovação em Roma em relação às suas políticas, especialmente a opinião pública em relação às suas políticas no oriente e ao seu comportamento extravagante; sua missão era levar adiante seus planos de invasão do Império Parta, para a qual ele planejava reunir não menos do que trinta legiões romanas[12]. Na primavera de 33 a.C., ele deu ordens para reunir as primeiras dezesseis e deixou Alexandria para se juntar às tropas na Armênia[13].
Porém, rapidamente chegaram as notícias vindas de Roma sobre a crescente hostilidade de Otaviano, o que mudou completamente o cenário e obrigou Marco Antônio a mudar seus planos; em março de 33 a.C., Antônio soube das manobras de Otaviano e que suas provisões sobre as províncias do oriente não haviam sido aprovadas[13]. Sua resposta foi enviar cartas ameaçadoras e sarcásticas a Otaviano, o que não resultou em nada. Finalmente, no verão de 33 a.C., Marco Antônio finalmente decidiu enfrentar seu rival e abandonou, temporariamente segundo seus planos, a nova campanha parta[14]. A situação em Roma já havia se deteriorado demais e um confronto decisivo contra Otaviano parecia inevitável. Para consolidar a situação e proteger as fronteiras da República no oriente, Marco Antônio seguiu para a Armênia e dali para Média Atropatena, onde se encontrou com o rei Artavasdes, com o qual firmou um acordo de colaboração defensiva contra uma possível ameaça parta. Dali, Antônio seguiu para Éfeso e enviou ordens para que Públio Canídio começasse a enviar suas legiões para lá para uma possível nova guerra civil[15][16].
Os planos para uma segunda campanha parta foram completamente abandonados; Marco Antônio chegou em Éfeso e se reuniu com as legiões da Canídio; nas semanas seguintes, chegaram Cleópatra com seu séquito, os reis e dignitários dos reinos clientes no oriente aliados do triúnviro e, sobretudo, os dois cônsules designados para 32 a.C., Caio Sósio e Cneu Domício Enobarbo, com cerca de 300 senadores que haviam abandonado Roma para se juntar a Marco Antônio[17]. Porém, rapidamente a discórdia tomou conta da heterogênea coalização antoniana, o que resultou na devastadora vitória otaviana na Batalha de Ácio, em 31 a.C.[18].
Referências
↑Freeman, Philip. Julius Caesar. Simon and Schuster (2008) ISBN 978-0743289542, p.347-349