Cama de Gato é um filme de drama e suspensebrasileiro de 2002 dirigido e escrito por Alexandre Stockler. Estrelado por Caio Blat, Rodrigo Bolzan e Cainan Baladez como um trio de amigos de classe média que, na ânsia de se divertir a juventude a "qualquer custo", acabam se envolvendo num crime violento. Renata Airoldi, Luiz Araújo, Bárbara Paz, Lavínia Pannunzio e Nany People interpretam papéis coadjuvantes.
Cama de Gato teve sua estreia mundial em 14 de outubro de 2002 no Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata, na Argentina, e foi lançado nos cinemas do Brasil em edições especiais em 17 de setembro de 2004. O filme recebeu críticas geralmente negativas e mistas dos críticos, que elogiaram as atuações espontâneas e naturais, mas foi considerado chocante e polêmico pelas cenas de abuso sexuais explícitas. O filme recebeu diversas premiações, incluindo a Melhor Ator Coadjuvante para Rodrigo Bolzan no Festival de Cinema de Brasília.
Sinopse
Cristiano (Caio Blat), Francisco (Rodrigo Bolzan) e Gabriel (Cainan Baladez) são três jovens de classe média que moram em São Paulo, com a típica alienação juvenil dos dias de hoje. Todos com muitas frases feitas na cabeça e nenhum senso de realidade. Assim que terminam o ensino médio, saem pela noite paulistana em busca de diversão. Faz um retrato dos dilemas de uma juventude dos anos 90 e focaliza uma geração diante de um dilema: de um lado uma necessidade quase fisiológica de se divertir; de outro, uma preocupação contínua de se estabelecer em uma sociedade que oferece cada vez menos oportunidades. Na noite de horrores na qual os garotos mergulham, o entretenimento confunde-se com a violência, assim como a preocupação de se estabelecer na sociedade confunde-se com a tragédia humana. Na tentativa de se divertirem a "qualquer custo", acabam estuprando e matando uma adolescente. A partir daí, eles passam a tentar encobrir os crimes e, quanto mais eles tentam resolver os problemas, mais eles se complicam.
O filme marca a estreia do "Trauma" (Tentativa de Realizar Algo Urgente e Minimamente Audacioso), manifesto criado por Alexandre Stockler em 1999 em resposta ao famoso "Dogma Dinamarquês" de 1995.[1] No Trauma, o foco é produzir filmes de qualidade com um orçamento mínimo. A filosofia do manifesto destaca: "Estamos mais preocupados em fazer filmes do que em discutir as razões das dificuldades em produzi-los", desafiando a mentalidade tradicional brasileira.[2]
Com um orçamento inicial de aproximadamente US$ 100 mil, Stockler afirma não ter certeza do montante total investido no filme. As filmagens foram realizadas em vídeo digital no primeiro semestre de 2000.[1] Todos os profissionais envolvidos, desde atores até a equipe técnica e de produção, trabalharam com custos reduzidos. Nos créditos finais, é possível encontrar muitos nomes listados como PTO, significando "pau pra toda obra", destacando a versatilidade e o comprometimento da equipe.[2]
De acordo com dados da Ancine, em seu lançamento em São Paulo, o filme ocupou apenas uma sala de cinema. Durante sua exibição oficial, Cama de Gato foi assistido por 25.315 espectadores, gerando uma receita de R$ 186.823,00.[4]
Resposta da crítica
A crítica da Reuters, publicada na Folha de S.Paulo, evidenciou que o filme choca por suas cenas de sexo. Segundo o texto, assim como os cineastas dinamarqueses liderados por Lars von Trier, Stockler opta por filmar em condições naturais de luz. Isso resulta em uma imagem granulada e escura em ambientes internos, com a câmera apresentando tremores.[3] Os atores são incentivados a atuar de forma espontânea e natural, dando a impressão de que não seguiram um roteiro pré-determinado. A história, em alguns momentos, parece até cômica devido à sua inverossimilhança. Embora o filme tenha a intenção de criticar a situação atual do país, acaba não cumprindo completamente esse objetivo, ficando pelo meio do caminho e se perdendo em discursos.[3]
Eduardo Viveiros, do website Omelete, deu ao filme a nota 2 de 5 (), que o classifica como "Regular". Viveiros destacou que o filme não segue a ortodoxia cinematográfica. Filmado em digital, apresenta granulação e falta de luz, com uso variado de close-ups e planos abertos. Stockler usa a câmera portátil para refletir a perspectiva dos personagens. Os atores, em especial Caio Blat, interpretam jovens inconsequentes de forma eloquente, misturando limitações adolescentes com eloquência teatral.[2]
Ainda de acordo com Viveiros, o roteiro, que já é metalinguístico, incorpora entrevistas de adolescentes das ruas, influenciando o filme com suas opiniões. Esses depoimentos, às vezes, são mais perturbadores que o enredo principal, destacando o pensamento superficial de alguns entrevistados. A expressão "cama-de-gato" é usada como metáfora para a juventude retratada, que vive em constante confusão sem buscar soluções. O filme, ao menos, tenta provocar e incomodar em meio à produção cinematográfica nacional atual.[2]