Caetano Veloso (álbum de 1971)

Caetano Veloso
Caetano Veloso (álbum de 1971)
Álbum de estúdio de Caetano Veloso
Lançamento Junho de 1971 (Inglaterra)
Segundo semestre[1] ou junho de 1971[2] (Brasil)
Gravação 1970[2]
Estúdio(s) Chappell's Studios, Londres
Gênero(s) Folk
Duração 35:52
Gravadora(s) Famous/GW (Inglaterra) / Philips Records (Brasil)[1]
Produção Lou Reizner e Ralph Mace
Cronologia de Caetano Veloso
Caetano Veloso (1969)
Transa (1972)

Caetano Veloso é o terceiro álbum a solo de Caetano Veloso, editado em 1971 pela Philips. Composto durante o exílio político de Veloso em Londres, reflete essa experiência numa toada melancólica nos antípodas do fulgor dos seus álbuns anteriores. A maioria das canções deste álbum são cantadas em inglês.

Contexto

Entre 1969 e 1971, Caetano morou em Chelsea, centro de Londres, por força do exílio a que fora submetido pela vigente ditadura militar brasileira.[1] O músico dividiu a casa com seu amigo Gilberto Gil, também exilado; suas respectivas esposas; e o gerente deles, que chegara na Europa antes para buscar um novo lar para o grupo. Lisboa e Madrid foram descartadas logo de cara por conta das ditaduras a que ambos os países de que são capitais (Portugal e Espanha, respectivamente) estavam submetidos. Paris, capital francesa, também foi rejeitada por ter uma cena musical "entediante", segundo Gilberto. Londres foi considerada por eles a melhor cidade para um músico viver.[3]

Caetano passou o primeiro ano de seu exílio desanimado e com saudades do Brasil, apesar de ter circulado muito pelo mundo musical com Gil, o que se traduziu em shows assistidos dos The Rolling Stones, ensaios realizados com músicos diversos e o primeiro contato deles com o reggae.[3]

Um dia, ele foi abordado pelo produtor local Ralph Mace, que acabara de deixar a Philips Records (ex-gravadora de Caetano no Brasil), e recebeu a proposta de fazer um disco em inglês. Logo, o colega estadunidense Lou Reizner se juntou a Ralph, mas acabaria deixando o projeto perto do fim por conta de um desentendimento. Seu nome foi mantido nos créditos do disco, contudo.[1]

Gravação

O disco foi gravado em 1970.[2] Foi a primeira vez que Caetano tocou violão num disco seu, por incentivo de Ralph;[4] nos lançamentos anteriores, os produtores não o autorizavam a executar o instrumento. Caetano diria mais tarde que "se eu não tivesse sido preso e exilado, talvez nunca tocasse violão num disco."[5] Caetano sugerira que Gil tocasse o violão no disco após mostrar a faixa "London London" a Ralph, mas este achava que se outra pessoa tocasse o violão, a canção "perderia a graça".[5] Caetano era inseguro quanto às próprias habilidades, mas Ralph e Lou o convenceram de que as lacunas em suas habilidades eram, na verdade, "o charme da música".[3]

A faixa "Maria Bethânia" é dedicada à sua irmã homônima à canção, e em sua letra o cantor pede que ela envie notícias do Brasil.[1][5] Ao longo dos versos, Caetano transforma a palavra anglófona "better" (melhor) no segundo nome da irmã.[5] Na parte instrumental, Caetano faz algumas improvisações acompanhado pelo mesmo quarteto de cordas que gravou "Eleanor Rigby", dos The Beatles.[6]

Legado

A faixa de abertura "A Little More Blue" foi parcialmente censurada pela ditadura então vigente no Brasil; os militares pensaram que a menção à atriz Libertad Lamarque na letra fosse uma alusão à liberdade do opositor do regime Carlos Lamarca.[1]

"London, London" foi regravada pela banda brasileira de rock RPM em 1986 no disco Rádio Pirata ao Vivo. O jornalista Mauro Ferreira afirma que o sucesso "Che Sarà", de Jimmy Fontana, é um plágio desta música, que ele teria conhecido por meio de Gal Costa durante uma passagem pelo Brasil (a cantora lançara a música um ano antes).[1]

Em 2010, Caetano descreveria o disco com "um documento da depressão" e diria que somente então ele realmente apreciava a música que fizera no exílio que, segundo ele, o ajudou a se tornar um músico mais criativo e uma pessoa mais forte.[3]

Em 7 de março de 2021, em comemoração aos 50 anos do disco, Caetano tocou "London, London", "If You Hold a Stone", "Nine out of Ten" e "It's a Long Way" (estas últimas do álbum seguinte, Transa, também gravado durante exílio em Londres) ao vivo em uma live no Festival Cultura Inglesa.[4]

Faixas

Autoria das faixas conforme fonte.[1]

Lado A

  1. "A Little More Blue" (Caetano Veloso) – 4:44
  2. "London, London" (Caetano Veloso) – 4:11
  3. "Maria Bethânia" (Caetano Veloso) – 6:57

Lado B

  1. "If You Hold a Stone"* (Caetano Veloso) – 6:02
  2. "Shoot Me Dead" (Caetano Veloso) – 3:19
  3. "In the Hot Sun of a Christmas Day" (Gilberto Gil, Caetano Veloso) – 3:13
  4. "Asa Branca" (Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira) – 7:26

Recepção da crítica

Críticas profissionais
Avaliações da crítica
Fonte Avaliação
Allmusic 5 de 5 estrelas.[7]

Numa análise lançada aos 50 anos do disco, o jornalista Mauro Ferreira chamou o álbum de "a mais perfeita tradução da alma triste do artista no período do exílio".[1]

Créditos

Conforme fonte.[1]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l Ferreira, Mauro (20 de fevereiro de 2021). «Álbum de Caetano Veloso em 1971 faz 50 anos como retrato ainda tocante da tristeza do artista no exílio em Londres». G1. Grupo Globo. Consultado em 15 de julho de 2021 
  2. a b c Molinero, Bruno (7 de junho de 2021). «Ouça 10 versões de 'Asa Branca', 50 anos após Caetano Veloso cantá-la contra a ditadura». Guia da Folha. Grupo Folha. Consultado em 17 de julho de 2021 
  3. a b c d Lewis, John (15 de julho de 2010). «Gilberto Gil and Caetano Veloso in London». The Guardian (em inglês). The Scott Trust Limited. Consultado em 17 de julho de 2021 
  4. a b Consiglio, Marina (7 de março de 2021). «'O Brasil deve salvar o mundo', diz Caetano em live com canções de seu exílio». Folha de S.Paulo. Grupo Folha. Consultado em 17 de julho de 2021 
  5. a b c d e Brêda, Lucas (6 de março de 2021). «Caetano Veloso resgata período no exílio em live do festival Cultura Inglesa». Folha de S.Paulo. Grupo Folha. Consultado em 17 de julho de 2021 
  6. Osias, Sílvio (7 de agosto de 2017). «Caetano Veloso (por ele mesmo) e seus discos». Jornal da Paraíba. Grupo São Braz. Consultado em 17 de julho de 2021 
  7. Crítica no allmusic

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