Benjamin Flores (Rio Grande, 20 de dezembro de 1860 — Porto Alegre, 28 de setembro de 1922) foi um funcionário púbico, jornalista, literato e político brasileiro.
Biografia
Filho do coronel Francisco da Silva Flores e Joaquina Gonçalves, estudou no prestigiado Colégio União e começou a vida profissional como comerciante, mas logo abandonou o ramo, tornando-se secretário da Companhia Francesa da Estrada de Ferro de Rio Grande a Bagé. Desde cedo dedicou-se às letras e à imprensa, publicando crônicas. Prestou exames para advogado, exercendo a promotoria pública.[1][2] Foi 1º secretário e vice-presidente da Biblioteca Rio-Grandense,[3][4] e membro fundador e secretário do Asilo da Mendicidade.[5]
No fim da década de 1880 transferiu-se para Porto Alegre, onde desempenhou uma série de funções de relevo na imprensa, no mundo literário, na oficialidade e na sociedade.[1] Foi redator do importante jornal A Federação,[6] redator político do jornal O Conservador,[7] e secretário e redator de A Pátria.[8] Colaborou no Jornal do Comércio por muitos anos mantendo a coluna "Vigílias", e quando seu amigo Caldas Júnior deixou esta publicação para fundar o Correio do Povo, acompanhou-o, passando a ser um ativo colaborador até o falecimento do fundador, redigindo as seções "Bibliografia", Vultos Históricos", "Teatral" e outras.[1] Com José Bernardino dos Santos fundou O Estado do Sul, onde foi redator político.[1][7] Também colaborou no jornal O Mercantil,[7] n'O Paladino,[9] e na revista Máscara.[10] Atuou como correspondente dos jornais cariocas O País e Jornal do Comércio.[11][12]
Foi membro da Comissão de Estatutos da lendária Sociedade Partenon Literário,[13] um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul,[2] onde integrou sua Comissão Permanente de Admissão de Sócios,[7] e membro fundador da Academia Rio-Grandense de Letras e 1º secretário na primeira diretoria da instituição.[14] Escreveu um livro reunindo trabalhos literários e biografias de José Bernardino dos Santos, Padre Cacique e Caldas Júnior.[15] Foi membro da comissão de recepção e dos grandes festejos em homenagem a Olavo Bilac em sua visita em 1916, e proferiu na Câmara o discurso de saudação oficial em presença do poeta e das maiores autoridades do município.[16] Foi crítico de arte e diz o historiador Emílio de Souza Doca que se mostrava como "um fino espírito de crítica e de observação, a par de sólida cultura intelectual. Com sua pena muito concorreu para o bom êxito de diversas exposições de pintura aqui realizadas. Sua alma de esteta delicado não ficava nunca sem expansão diante de um quadro que louvores merecesse, e esse desabafo ele fazia pelas colunas dos jornais em artigo leve, delicado, a transbordar de emoção e cheio de simpatia". Também disse que "com todo o fervor de sua alma de liberal, pregou, pelas colunas dos jornais e da tribuna pública em prol da libertação do elemento servil".[2] Foi membro da Sociedade Acadêmica de História Internacional de Paris e membro correspondente da Sociedade Geográfica de Lisboa.[1]
Como funcionário público foi examinador de concursos da Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional,[17][18] inspetor de escolas,[19] membro do Conselho Escolar Municipal,[1] 2º e 1º oficial, chefe de seção interino e contador da administração dos Correios.[20][21][22][23] Ocupou a administração-geral interina várias vezes, aposentando-se nesta função em 1912.[1]
Foi um dos fundadores da Sociedade Beneficente Postal,[1] membro fundador, integrante da Comissão de Estatutos e um dos diretores da Caixa dos Funcionários Públicos,[24][25] um dos fundadores, relator da Comissão de Estatutos, vice-presidente provisório e presidente da Associação dos Funcionários Públicos do Estado,[26][27][28] coronel da Guarda Nacional,[6] relator da Comissão de Estatutos, bibliotecário e orador do Clube Militar dos Oficiais da Guarda Nacional,[29][30][31] membro fundador e 1º secretário do Tiro Nacional Porto-Alegrense,[32] conselheiro e secretário do Conselho Municipal de Porto Alegre,[33][34][35] membro da comissão revisora do alistamento eleitoral federal em Porto Alegre,[36] e conselheiro fiscal e delegado do Centro Republicano Júlio de Castilhos,[37][38] e como bibliotecário reorganizou a biblioteca e providenciou um catálogo.[1]
Também foi secretário da Comissão de Obras da Igreja das Dores,[39] secretário e prior da Ordem Terceira de Nossa Senhora das Dores,[40][41] membro fundador e tesoureiro do Centro Artístico,[42] vice-presidente do Clube do Menino Deus,[43] vice-presidente do Conselho Diretor da Sociedade Protetora dos Animais,[44] presidente da comissão de auxílio aos flagelados pela seca no Ceará,[45] destacado promotor da floricultura,[1] conselheiro da Sociedade Humanitária Padre Cacique,[46] e participou da Sociedade Carnavalesca Esmeralda como um dos seus fundadores, membro proeminente e secretário.[47]
Faleceu repentinamente quando ainda estava envolvido em múltiplas tarefas. A Federação publicou um extenso obituário carregado de elogios, enfatizando sua atividade incansável e sua prontidão em ajudar, sua bondade, seu gênio alegre e comunicativo. Seu sepultamento foi acompanhado por uma multidão, contando com dezenas de autoridades e representantes da sociedade civil, sendo proferidos vários discursos em sua homenagem.[1] Em sessão comemorativa do 3º aniversário do Instituto Histórico e Geográfico, o presidente Florêncio de Abreu lamentou a "perda irreparável" e comemorou sua memória louvando "esse boníssimo coração que foi Benjamin Flores, uma das figuras mais representativas de nosso meio social, curiosa organização que à maravilha combinava o gênio da formiga com o temperamento da cigarra, espírito infatigável, devotado aos nobres empreendimentos, cultor das letras, apreciador das artes e amante da flores".[48] Na mesma ocasião Souza Doca recuperou sua biografia, acrescentando:
"Era homem de ideias adiantadas e filantrópicas, [...] foi um dos fundadores de nosso Instituto e como sócio efetivo deixou traços indeléveis de sua passagem. [...] Benjamin Flores foi em nosso meio figura importante, de destaque, nele o Instituto não perdeu somente um sócio ilustre, perdeu mais alguma coisa — um amigo prestimoso, devotado, um espírito de eleição inteiramente consagrado ao seu bom nome. [...] Benjamin Flores foi sempre o mesmo homem: sorridente, comunicativo, loquaz, afável. [...] Foi um bom, e a prova disso temo-la na preocupação constante em minorar as necessidades dos desvalidos da fortuna. [...] Foi leal e sincero. Leal em todos os seus atos e sincero em todas as manifestações de seu pensamento; reside aí o maior elogio que se lhe pode fazer, pois quem tão elevado sentimento cultua sempre deixará de si memória honrada".[2]
A Sociedade Carnavalesca Esmeralda adotou como lema oficial a expressão "Fino, chique e educado", que descreve seu sócio benemérito.[49] Em 1929 a Associação Agrícola Pastoril de Porto Alegre batizou a exposição anual de flores com seu nome, lembrando a colaboração que ele sempre prestara na organização desses eventos.[50] Em 1937 a Câmara Municipal batizou uma rua com seu nome.[51]
↑"Sociedade Protectora dos Animaes". A Federação, 09/05/1913
↑"Pró-Flagelados do Ceará". A Federação, 27/03/1920
↑"Sociedade Humanitaria Padre Cacique". A Federação, 10/05/1922
↑Leal, Caroline Pereira. Festas carnavalescas da elite de Porto Alegre: Evas e Marias nas redes do poder (1906-1914). Doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2013, p. 54
↑"Instituto Historico e Geographico do Rio Grande do Sul". A Federação, 06/08/1923