Os búridas foram uma dinastiaturca[1] que governou o Emirado de Damasco no início do século XII. O primeiro governante búrida, Toguetequim,[2] começou por ser um subordinado de Ducaque, o governador seljúcida de Damasco que após a morte do amo se apoderou do emirado, que governou entre desde 1104 até à sua morte em 1128.
A dinastia tomou o nome do filho de Toguetequim, Buri Taje Almoluque(r. 1128–1132). Os búridas foram reconhecidos como emires pelo Califado Abássida, que em troca de presentes consideráveis, não interferiam nos assuntos do emirado.[1] Governaram a cidade até 1154, quando a perderam para o governante zênguida de Alepo, Noradine.[3]
Os búridas foram derrotados pelos cruzados em 1126 na batalha de Marje Alçafar, mas conseguiram impedir a tomada de Damasco pelas tropas cristãs.
História
Ao serviço de emir de Damasco
O fundador da dinastia, Toguetequim, era um soldado do exército dos sultões seljúcidas, nascido provavelmente em meados do século XI, visto que o seu filho já tinha um cargo de comando em 1100.[4] Foi subindo na hierarquia e integrou o estado-maior de Tutuxe I, um príncipe seljúcida que conquistou Damasco em 1078 e seguidamente o norte da Síria, derrotando o seu primo, o sultão seljúcida de RumSolimão ibne Cutalmiche. Não obstante Maleque Xá I, o irmão mais velho de Tutuxe, lhe ter retirado uma parte das suas conquistas, este proclama-se sultão da Síria e retoma a Síria do norte tirando partido da anarquia que se seguiu à morte de Solimão. Tutuxe foi morto em 1095 quando tentava conquistar uma parte da Mesopotâmia ao seu sobrinho Barquiaruque, o novo grão-sultão seljúcida.[5]
Raduano, sultão de Alepo e filho primogénito de Tutuxe mandou matar todos os seus irmãos, a fim de ficar com toda a herança do pai, mas alguns servos conseguiram fazer com que dois irmãos, Ducaque e Irtaxe fujam para Damasco, onde são acolhidos por Sautiquim, o governador da cidade que também manda vir para a Damasco Toguetequim e Iagui Siã, emir de Antioquia, os quais proclama Ducaque emir de Damasco. É então que Toguetequim se casa com a mãe de Ducaque e se torna o atabegue de Damasco, ou seja, o pai adotivo e protetor de Ducaque.[6]
Toguetequim deixa o poder nas mãos de Ducaque, que governa o seu principado, intervindo nos assuntos da Síria, e tentando de aí assegurar a sua hegemonia, disputada pelo seu irmão e inimigo Raduano. Os dois irmãos entram em guerra frequentemente e nem sequer a chegada da Primeira Cruzada e a instalação dos francos na costa sírio-palestiniana os faz reconciliar, sendo mais frequente vê-los combater os francos cada um por si. Toguetequim ocupa o lugar de conselheiro ao mais alto nível e homem de confiança de Ducaque. Em 1099, quando o cádi de Jabala, rebelado contra Trípoli, constata que não consegue fazer frente ao mesmo tempo contra o cádi de Trípoli e contra os cruzados, entrega a sua cidade a Ducaque em troca de territórios mais fáceis de defender, é a Buri, o filho de Toguetequim, que Ducaque confia o governo de Jabala.[4] Em 1103, Janá Daulá, emir de Homs, é assassinado por Raduano e os habitantes daquela cidade apelam ajuda a Ducaque, que envia Toguetequim para tomar posse da cidade.[7][8]
Toguetequim e Buri
Ducaque morre em junho de 1104 e Toguetequim faz proclamar emir o seu filho mais novo, Tutuxe II, então com um ano de idade, a fim de garantir uma longa regência para si. Depois muda de ideias e coloca no trono Irtaxe, o irmão mais novo de Ducaque, então com 12 anos de idade. Mas posteriormente retira-lhe o poder e o jovem príncipe refugiou-se em Balbeque e tenta retomar o poder, com o apoio de Aitequim, saíbe (senhor) de Bostra. Toguetequim recusa-se a recebê-lo de volta e Irtaxe acaba por se refugiar na corte do rei Balduíno I de Jerusalém. Este último assegura o seu apoio, mas Toguetequim alia-se aos fatímidas do Egito para invadir o Reino de Jerusalém, o que impede Balduíno de repor Irtaxe no poder em Damasco.[9]
Durante grande parte do seu reinado, Toguetequim ataca as posições cristãs, mas não confia no sultão seljúcida nem nos seus enviados, como Maudade, atabegue de Moçul, que é assassinado em Damasco (provavelmente instigado por Toguetequim) ou Aque Suncur Bursuqui, atabegue de Moçul e Alepo. Toguetequim e outros emires da Síria chegam a aliar-se aos francos contra Aque Suncur Bursuqui, atabegue de Moçul, em 1115, por preferirem a presença dos francos ao risco de dominação da Síria por Moçul.[10][11][12] Em 1114, Toguetequim tenta fazer uma aliança com Alparslano de Alepo, que a concretizar-se poderia assegurar uma Síria muçulmana suficientemente forte para fazer face tanto aos francos como a Moçul e Baguedade, mas o emir de Alepo foi assassinado, impossibilitando a coligação à nascença.[13]
Toguetequim morre em 12 de fevereiro de 1128 e o seu filho Buri Taje Almoluque, então com cerca de 50 anos de idade, sucede-lhe sem grandes dificuldades.[14][15]
Em novembro de 1129, os nizaritas organizam uma conspiração para expulsarem os francos da cidade. Ao saber da conspiração, Buri manda prender e executar os conjurados. Balduíno II de Jerusalém, que estava ao corrente da conspiração, cerca Damasco, mas sem sucesso e levanta o cerco em 5 de dezembro de 1129.[16] Em maio de 1131, Buri é ferido por dois nizaritas. É tratado, mas a ferida reabre-se e Buri morre em junho de 1132.[17]
Fim da dinastia
No ano em que Buri ascendeu ao trono foi igualmente o ano em que se assistiu à entronização de Zengui, que já era senhor de Moçul e tomou o controlo de Alepo. Zengui era temido e odiado pelas gentes de Damasco, pois tinha atraído um destacamento búrida para uma cilada e seguidamente usou os reféns contra Damasco. A política do fim da dinastia búrida esteve sempre condicionada pela ameaça e desconfiança em relação a Zengui.
O filho mais velho de Buri, Xamece Almulque Ismail, que tinha 19 anos quando assumiu o poder, continuou a política do pai e toma aos francos a fortaleza de Banias em dezembro de 1132, mas escapa por pouco aos golpes dos assassinos (ḥashāshīn). Convencido de que está rodeado de conspiradores, começa a prender e depois executar os seu colaboradores, até ser assassinado pela sua mãe Zamarrude Catum em 2 de fevereiro de 1135.[18]
Zengui tentou então conquistar Damasco, aproveitando os tumultos, mas o irmão de Xamece, Xiabadim Mamude, estava já solidamente instalado no trono, apoiado pelo ministro Muinadim Unur. Nos anos seguintes, é sobretudo Mu'in quem dirige o Emirado de Damasco, em nome do príncipe Xiabadim Mamude e depois em nome do irmão deste, Jamaladim Maomé e do filho, Mujiradim Abaque. Muinadim governa com mão de ferro e leva a cabo uma política de equilíbrio entre os francos e Zengui, que controla Alepo e Moçul, e consegue manter a sua independência e prestígio. Mas o cerco a Damasco pela Segunda Cruzada compromete essa política de aliança parcial com os francos. Muinadim Unur morre em 1149 e Mujiradim Abaque assume o poder no emirado. No entanto, este jovem príncipe, deixa que os francos instaurem o seu protetorado sobre Damasco, não obstante o desagrado da população, perdendo todo o seu prestígio. O sucessor de Zengui, Noradine, aproveita este descontentamento para tomar o controlo de Damasco e depor o último búrida em 25 de abril de 1154.[19]