Nota: Este artigo é sobre a arma branca. Para o cantor moçambicano, veja Azagaia (cantor).
Azagaia ou zagaia, é uma lança curta e delgada e usada como arma de arremesso[1] por povos ou indivíduos caçadores.Também pode ser usada como ferramenta de pesca.
Feitio
Trata-se duma lança de arremesso que tem cerca de um metro e meio a 170 centímetros de comprimento, dos quais, a ponta mede 30 centímetros.[2]
Além da pértiga, que é a vara estreita que compõe a haste ou fusta da azagaia, conta com uma ponta de chifre de animal ou em ferro, que tanto pode resumir-se a um simples esporão perfurante ou espigar-se com farpas ou apresentar uma ponta cortante.[3]
Etimologia e uso do termo
O termo azagaia,[4] também grafado zagaia,[5] chega ao português por via do árabe (az-zagaia) e este, por seu turno, do bérbere (zaġāya).[6]
Isto fica-se a dever a motivos históricos, a azagaia clássica bérbere foi posteriormente empregue pelos arábes. Mais tarde, tê-la-ão trazido para a Península Ibérica, por ocasião das invasões muçulmanas da Península Ibérica.[7][8] Com efeito, os almogávares tinham como panóplia típica duas azagaias e uma espada curta.[9]
O termo azagaia, em sentido amplo, acabou por empregar-se para caracterizar um ror de lanças de arremesso rudimentares, usadas quer por culturas pré-históricas europeias, quer por povos africanos, como sendo as tribos xosa[10] e nguni[10] da África do Sul, que têm as suas próprias variedades características de azagaia.[11]
História
Os primeiros registos relativos à produção de azagaias datam da fase final do Paleolítico e correspondem às azagaias do tipo "Magdaleniano".[12] Naquela altura a parte perfurante da azagaia era constituída por uma ponta de osso ou de chifre de animal. Tal como outros tipos de projécteis pré-históricos, a azagaia era utilizada em combinação com mecanismos arremessadores ou propulsores que permitiam a quem a lançasse maximizar a potência e o alcance.[13]
A riqueza destes registos permitiu aos arqueólogos identificar diversos tipos desta arma primitiva, com base nos diferentes trabalhos e feitios da ponta, que foram surgindo ao longo dos diferentes períodos históricos.[14][15]
Aurignaciano: azagaias de ponta fendida ou losangular;
Solutriano: azagaias com a zona central aplanada (também as havendo biseladas e fusiformes);
Magdaleniano: a par das já referidas, aparecem ainda as azagaias com ranhuras (provavelmente para incrustar micrólitos), azagaias de ponta bifurcada e azagaias profusamente decoradas.
Este tipo de arma praticamente desapareceu da Europa durante a Idade do Bronze, quando as armas de combate à queima-roupa, neste caso concreto, a lança propriamente dita se começou a distanciar e diferenciar da lança de arremesso. Um exemplo de azagaia europeia tardia poderá ser a frama germânica, descrita por César na obra De Bello Gallico.[16]
Em África, por seu turno, a azagaia sobreviveu à Idade do Ferro, adquirindo uma ponta metálica, de folha relativamente pronunciada, continuando em uso em populações saarianas e subsaarianas.[10][17]
Botânica
É também o nome de uma árvore sul-africana (Curtisia dentata) cuja madeira era apropriada para a construção dessas armas.
↑M. C. Costa, António Luiz (2015). Armas Brancas- Lanças, Espadas, Maças e Flechas: Como Lutar Sem Pólvora Da Pré-História ao século XXI. São Paulo: Draco. p. 111. 176 páginas
↑San Juan-Foucher, Cristina [e] Vercoutere, Carole (2003), Transformation et utilisation préhistoriques des matières osseuses : Les "sagaies d'Isturitz" des niveaux gravettiens de Gargas (Hautes-Pyrénées) et de Pataud (Dordogne) : Un exemple d'approche pluridisciplinaire et complémentaire de l'industrie osseuse, in Préhistoire et anthropologie méditerranéennes, a. 2003, v. XII, pp. 75-94.
↑Delporte, Henri (1988). Fiches typologiques de l'industrie osseuse préhistorique, Cahier I, Sagaies. Aix-en-Provence: Université de Provence. 930 páginas
↑Anne, Bertrand (1999). Les armatures de sagaies magdaléniennes en matière dure animale dans les Pyrénées. Paris: Hadrian Books. 138 páginas
↑Brown, Robert (2004). Virtus Consili Expers: An Interpretation of the Centurions' Contest in Caesar, De Bello Gallico 5, 44. New Castle, Pennsylvania, USA: Hermes. pp. 292–308
↑Ricard, Alain (1998). Le bœuf chez les Zoulous, c'est la sagaie: des armes et des chants en Afrique australe. Paris: Musée Dapper. pp. 211–241, 248