As janeiras não se cantam

As janeiras não se cantam
Nem aos reis, nem aos coroados;
Mas nós vimo-las cantar
Por ser anos melhorados.

versão de Penafiel por Teófilo Braga, in Cancioneiro Popular (1867)[1]

"As janeiras não se cantam" é o incipit de uma quadra popular portuguesa incluída em várias cantigas de janeiras.

Versões

A quadra em questão encontra-se espalhada pelo território português, em diversas versões que partilham essencialmente os dois primeiros versos:

Penafiel (Douro Litoral)
1867
V. N. de Gaia (Douro Litoral)
1880
Vila Real (Trás-os-Montes)
1898-1901
Loulé (Algarve)
1905

As janeiras não se cantam
Nem aos reis, nem aos coroados;
Mas nós vimo-las cantar,
Por ser anos melhorados.[1]

As janeiras não se cantam
Nem aos reis, nem aos fidalgos;
Cantamos a vós, senhores,
Por ser ano melhorado;[2]

As janeiras não se cantam
Não se cantam aos fidalgos;
Cantam-se aos lavradores,
Que são homens mais honrados.[3]

As janeiras não se cantam
Mas nós vimo-las cantar,
Pedindo anos melhorados
E longa vida gozar.[4]

Interpretação

A Ceifa no Missal antigo de Lorvão. É possível que os versos reflitam antigos rituais realizados no início do ano em troca de boas colheitas.

Em 1862, na décima-quinta nota à tradução de Fastos de Ovídio por António Feliciano de Castilho, o escritor português Júlio César Machado comenta os versos:

Uma grande costumeira deste dia, nas províncias e nalguns arrabaldes de Lisboa mesmo, é o cantar as janeiras. Junta-se a gente ordinária da terra e mal chega o dia de Ano Bom rompem as vozes:

As janeiras não se cantam
Nem aos reis, nem aos fidalgos!

Este sentimento democrático da cantiga, não os impede, ainda assim, de ser justamente à porta dos fidalgos da terra, que eles vão cantar isto, para se lhe dar dinheiro para vinho![5]

Anos depois, em 1872, o autor retoma a discussão, concluindo que o facto de ser realizarem peditórios principalmente à fidalguia, seria a causa da crescente popularidade da versão de Penafiel[6]. Contudo, outros autores supõem que, já originalmente, a quadra favorecia a recolha de donativos à porta das casas dos nobres, talvez refletindo os antigos ritos pagãos realizados no início do ano em troca de boas colheitas[7].

Ver também

Referências

  1. Pedroso, Zófimo Consiglieri (1880). «Contribuições para um Romanceiro e Cancioneiro Popular Portuguez». Paris: F. Vieweg. Romania: recueil trimestriel consacré à l'étude des langues et des littératures romanes 
  2. Gomes Pereira, A. (1906). «Tradições Populares e Linguagem de Villa Real». Lisboa: Imprensa Nacional. Revista Lusitana. 9 (1 e 2). 229 páginas 
  3. Ataíde Oliveira, Francisco Xavier de (1905). Romanceiro e Cancioneiro do Algarve. Lição de Loulé 1 ed. Porto: Tipografia Universal (A Vapor) 
  4. Castilho, António Feliciano de; Júlio César Machado (1862). «Nota Decima Quinta». Os Fastos. de Publio Ovidio Nasão [...] seguidos de copiosas annotações por quasi todos os escriptores portuguezes contemporaneos (em latim). 1 ou 3 1 ed. Lisboa: Imprensa da Academia Real das Sciencias. p. 349 
  5. Machado, Júlio César (1872). «As Broas». Á Lareira 1 ed. Lisboa: Livraria de Campos Júnior, Editor. p. 37 
  6. Emissora Nacional (22 de janeiro de 1966). «Tempo de Poesía» (PDF). RTP. Consultado em 12 de novembro de 2015 

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