Antônio Fernandes de Matos (Moreira do Lima, 1640 - Recife, 1701) foi um mestre de obras, arquiteto e empresário português do Brasil Colônia. Foi um dos responsáveis pelo grande surto construtivo ocorrido no Recife no final do século XVII.
Vida e obra
Nascido provavelmente em Moreira do Lima, no norte de Portugal, a primeira notícia da presença de Matos na Capitania de Pernambuco data de 1671 e se refere à construção de umas casas na rua do Açougue no Recife.[1] Apesar de ser de origem humilde, Matos rapidamente transformou-se num rico "mascate" (alcunha dada aos comerciantes portugueses do Recife à época), controlando as matérias-primas que utilizava nas suas atividades construtivas. Era dono de uma mata em Camaragibe, de onde extraia madeira, e a partir de 1696 passou a receber com exclusividade as pedras usadas como lastro nos navios que chegavam ao Recife, graças a um acordo com a Câmara de Olinda.[2]
Como mestre de obras e empresário, Antônio Fernandes de Matos teve um papel muito importante na reconstrução do Recife após a expulsão dos holandeses, custeando do próprio bolso muitas obras. Em 1684-1685, com autorização do governador D. João de Sousa, financiou e levantou a Fortaleza da Madre de Deus e São Pedro num banco de areia localizado ao sul da Ilha do Recife.[3] Essa fortaleza, já desaparecida, foi o único empreendimento de Matos na arquitetura militar e valeu-lhe a patente de capitão e um soldo.[4] Outras obras levantadas por Matos incluem o Quartel da guarnição do Recife (1693)[5] e a nova molhe da cidade (1696-1699).[6]
Matos foi um personagem importante no movimento construtivo que povoou o Recife de grandiosas edificações religiosas na segunda metade do século XVII. Cerca de 1680-1683, levantou na antiga Porta da Terra (Lantpoort) da cidade fortificada da época holandesa o Arco e Capela do Bom Jesus da Cruz.[7][8] Construiu ainda vários conventos: a Igreja e Hospício da Madre de Deus (1679-1683), a Igreja e Convento do Carmo (c.1685-1701) e o Colégio de Jesus e Igreja de Nossa Senhora do Ó (começado em 1686).[7][8] O Convento da Madre de Deus, da Congregação de São Filipe Néri, foi fundado num terreno no istmo do Recife doado pelo próprio Matos e sua mulher, D. Paula Monteiro.[7] Toda essa atividade construtiva no campo religioso e militar valeu-lhe uma carta de recomendação do Padre Antônio Vieira, datada de 1691, para ser apresentada na corte de Lisboa.[9]
Em 1695, Matos entrou para a Ordem Terceira de São Francisco do Recife, uma das mais exclusivas confrarias coloniais, cujos membros eram em grande parte mascates abastados.[6][10] Foi escolhido como mestre de obras da capela dos terceiros, atualmente conhecida como Capela Dourada, e iniciou sua construção em 1696.[11][11][12] Já em 1697 a Capela foi inaugurada e iniciaram-se as obras de decoração interna, também coordenadas por Matos, que fariam desta uma das mais importantes obras de arte da época colonial brasileira.[13]
Para o historiador Evaldo Cabral de Mello, graças a sua atividade construtiva, Antônio Fernandes de Matos "deveria ter na história urbana do Recife um lugar quase tão eminente como o que se atribui ao Conde de Nassau ou, no século XIX, ao Conde da Boa Vista."[1] Após a morte de Matos, em 1701, discípulos como Manuel Ferreira Jácome passaram a ocupar o nicho deixado pelo mestre.[14]
Referências
Ver também
Bibliografia