Escreveu um tratado aparentemente pequeno intitulado Sobre a Natureza ou Da Natureza, em que tentava conciliar a existência do múltiplo frente à crítica de Parmênides e sua escola, conhecida como "Eleatas".
Anaxágoras também foi um dos primeiros a questionar a ideia de divindade do Sol e também da Lua tendo uma visão deles como sendo respectivamente: uma quente pedra vermelha e uma terra. E foi preso por isso em 450 a.C..[3][4][5] Uma citação interessante é a seguinte: Sócrates estando em julgamento, no momento sendo acusado por Meleto de não crer nos deuses cita Anaxágoras:
(Meleto) - Digo isto: que você não acredita nos deuses, absolutamente.
(Sócrates) - Que maravilha, Meleto! Como pode dizer isso? que eu, então, ao contrario de toda a humanidade, não acredito que o Sol e a Lua sejam deuses?
(Meleto) - Não, por Zeus, ó juízes, porque diz que o sol é uma rocha e que a lua é uma terra!
(Sócrates) - Então acusa Anaxágoras, meu caro Meleto, e o coloca como debil? Supõe que sejam tão iletrados que não sabem que os livros de Anaxágoras de Clazômena são cheios de tais afirmações.[5]
Sócrates, no diálogo platônico Crátilo, também pergunta a Hermógenes: "E quando você considera a natureza de todo o resto? Você não concorda com Anaxágoras que é ordenada e sustentada pela mente ou alma?".[6]
Anaxágoras propôs, assim como os pluralistas, um princípio que atendesse tanto às exigências teóricas do "ser" imutável, princípio de tudo, quanto à contestação da existência das múltiplas manifestações da realidade. Esse novo princípio, Anaxágoras chamou homeomerias. As homeomerias seriam as sementes que dão origem à realidade em sua pluralidade de manifestações. Afirmava que o universo se constitui pela ação do Nous (νοῦς), conceito que geralmente é traduzido por mente, intelecto ou inteligência. Segundo o filósofo, o Nous atua sobre uma mistura inicial formada pelas homeomerias, sementes que contém uma porção de cada coisa. Assim, o Nous, que é ilimitado, autônomo e não misturado com nada mais, age sobre estas sementes ordenando-as e constituindo o mundo sensível. Os fragmentos preservados versam sobre: cosmologia, biologia e percepção.
"Quando um homem chegou a dizer que na Natureza, como nos animais, há uma Inteligência, a causa da ordem e do arranjo universal, ele apareceu como o único em seu bom senso diante dos delírios de seus antecessores. Sabemos, sem dúvida, que Anaxágoras adotou esses pontos de vista, mas diz-se que ele fora antecipado por Hermótimo de Clazômenas."[7]
Esta noção de causa inteligente, que estabelece uma finalidade na evolução universal, irá repercutir em filósofos posteriores, como Platão e Aristóteles. Influência também exercerá em Leibniz, que aproveitará a ideia de homeomerias.
Alguns consideram o pensamento de Anaxágoras como presente no Papiro de Derveni (produzido por volta do século V a.C., mais antigo texto ocidental preservado).[8]
Não há provas documentais que referendem a acusação contra Anaxágoras e a prisão em decorrência de suposta prática do crime de "impiedade". Tucídides jamais a menciona, nem mesmo Xenofonte ou Platão. O suposto julgamento e exílio foi documentado apenas posteriormente Plutarco (século I) e Diógenes Laércio (século III), este último atribuindo citações perdidas aos relatos conflitantes de Sótion (século I a.C.) e Sátiro (século III a.C.);[9] ou de que ele teria sido apenas torturado, segundo Filodemo (século I a.C.).[10] Alguns historiadores modernos recebem isso com ceticismo e concluem que esta acusação é um "mito histórico".[11] Em Platão, Anaxágoras é discutido mais vezes do que qualquer outro filósofo, sem nunca ter mencionado essa acusação. Os livros dele eram vendidos livremente em Atenas (Sócrates, na Apologia).[12] Alguns outros historiadores apontam alusões mascaradas ao julgamento nas peças de AristófanesOs Acarnânios 703–712 e As Vespas 946–949,[9] e no Tântalo de Eurípides, como referência críptica ao fisiólogo na memória dos 20 anos de sua morte.[13]
↑Gershenson, Daniel E. Greenberg, Daniel A. (1964). Anaxagoras and the Birth of Physics. Citação: "o julgamento é um mito histórico"
↑STONE, I. F. (2005). O Julgamento de Sócrates. São Paulo: SCHWARCZ LTDA. p. 284
↑Lebedev, Andrei (8 de outubro de 2019). «The Authorship of the Derveni Papyrum». In: Vassallo, Christian. Presocratics and Papyrological Tradition: A Philosophical Reappraisal of the Sources. Proceedings of the International Workshop held at the University of Trier (22-24 September 2016) (em inglês). [S.l.]: Walter de Gruyter GmbH & Co KG