Amalrico de Bena e seus discípulos. Iluminura das Grandes Chroniques de France de Charles V, por volta de 1370-1379. BnF, departamento de manuscritos, ms. francês 2813, f. 248 v.
Amalrico de Bena (em francês: Amaury de Bène ou Amaury de Chartres; em latim: Almaricus, Amalricus, Amauricus; morto c. 1204–1207) foi um teólogofrancês, cujos seguidores são chamados de amalricanos.
Em 1204, suas doutrinas foram condenadas pela universidade e, em um apelo pessoal ao Papa Inocêncio III, a sentença foi ratificada, com Amalrico sendo ordenado a retornar a Paris e retratar seus erros.[1]
Sua morte foi causada, diz-se, pela dor da humilhação a que foi submetido.[1]
Em 1209, dez de seus seguidores foram queimados diante dos portões de Paris, e o próprio corpo de Amalrico foi exumado e queimado e as cinzas dadas ao vento.[1] As doutrinas de seus seguidores, conhecido como os amalricanos, foram formalmente condenadas, em 1215, pelo Quarto Concílio de Latrão.[1]
Proposições
Amalrico parece ter derivado seu sistema filosófico de Erígena, cujos princípios ele desenvolveu em uma forma unilateral e fortemente panteísta.[1]
Apenas três proposições que podem com certeza ser atribuídas a ele:[1]
de que Deus é tudo (omnia sunt deus) e, assim, todas as coisas são uma, porque o que quer que seja, é Deus (omnia unum, quia quidquid est, est Deus);
de que cada cristão é obrigado a acreditar que ele é um membro do corpo de Cristo, e que essa crença é necessária para a salvação;
de que quem permanece no amor de Deus não pode cometer nenhum pecado.
Por causa da primeira proposição, o próprio Deus é pensado como invisível e só é reconhecível na sua criação.[1]
Estas três proposições foram desenvolvidas por seus seguidores, que sustentavam que Deus se revelou em uma revelação tríplice, a primeira no patriarca bíblico Abraão, sinalizando a época do Pai; a segunda em Jesus Cristo, que deu início à época do Filho; e a terceira em Amalrico e seus discípulos, que inaugurou a era do Espírito Santo.[1] Sob o pretexto de que um verdadeiro crente não poderia cometer nenhum pecado, os amalricianos se entregaram a todo excesso.[1]
O Inferno é a ignorância, portanto, o Inferno está dentro de todos os homens, "como um dente ruim na boca";
Deus é idêntico em tudo que existe, mesmo o mal pertence a Deus e prova a onipotência de Deus;
Um homem que sabe que Deus atua através de tudo não pode pecar, porque todo ato humano é, então, o ato de Deus;
Um homem que reconhece a verdade de que Deus age através de tudo já está no Céu e esta é a única ressurreição. Não há outra vida; a realização do homem está apenas nesta vida.
Devido às perseguições, esta seita parece não ter sobrevivido por muito tempo logo após à morte de seu fundador. Pouco tempo depois da queima de dez dos seus membros (1210), a seita perdeu sua importância, enquanto alguns dos sobreviventes amalricanos se tornaram Irmãos do Livre Espírito.[3]