Adufe[1], também chamado pandeiro quadrado[2], instrumento musical de percussão português, que consiste numa espécie de pandeiro membranofone, com pele retesa dos dois lados, assente num caixilho de madeira quadrangular.[3]
Etimologia
O substantivo «adufe» entra na língua portuguesa por via do árabe medieval, ad-duff[4], hodiernamente designado daf, correspondendo a uma variedade de pandeiro tradicional do Médio Oriente.[2]
Descrição
No seu interior são depositadas sementes ou pequenas soalhas a fim de enriquecer a sonoridade.[4] Os lados do caixilho medem aproximadamente 45 centímetros.[2]
Costuma ser enfeitado com fitas nos cantos e nas arestas exteriores do caixilho.[2]
Formas de percussão e ritmos
O adufe é segurado pelos polegares de ambas as mãos e pelo indicador da mão direita, deixando deste modo os outros dedos livres para percutir o instrumento.[2] Toca-se com dois tipos de batidas: a de palma aberta, com o pomo da mão, que rebate depressa e serve para criar tons mais graves; e tamborilar com os dedos, que embatem no topo do pandeiro, aí permanecendo ao fim de cada toque, por molde a criar sons mais agudos.[2]
A forma tradicional de tocar o adufe serve-se de dois importantes tipos de ritmos: o ritmo de passo e o ritmo de roda.[2]
O ritmo de passo conta com 4 a 8 batidas, que se traduzem numa sequência de batidas «grave, grave, aguda, aguda». O ritmo de roda, por seu turno, conta com 3 a 6 batidas, que se traduzem numa sequência de batidas «grave, grave, agudo».[2] Os ritmos podem ser tocados mais depressa ou mais devagar, consoante a melodia que se está a acompanhar.[2]
História e uso folclórico
Foi introduzido pelos árabes na Península Ibérica entre os séculos VIII e XII.[2] Hoje, encontra-se essencialmente concentrado no centro-leste de Portugal (distrito de Castelo Branco, em especial Proença-a-Nova), onde é tocado exclusivamente por mulheres, acompanhando o canto, sobretudo por ocasião das festas e romarias.[3] Pode ser tocado, ocasionalmente, por homens, mas fora de festas e romarias religiosas.[2]
Em todo o caso, este instrumento também marca presença, embora não tão demarcada, noutras zonas de cariz pastoril do interior do país, designadamente em Trás-os-Montes, onde é feito com pele de cabra[2], e no Baixo-Alentejo, onde é feito com o coiro curtido da bexiga do porco.[2][3]
Na tradição oral, nomeadamente nos versos de algumas canções que são acompanhadas pelo adufe, é referida a madeira do instrumento como sendo de "pau de laranjeira".[5] Esta referência, de certo simbólica pela ligação entre a flor de laranjeira e o matrimónio, é reforçada por outra particularidade da construção do instrumento que refere ser a pele de uma das membranas de um animal macho e a outra de um animal fêmea. Dizem as tocadoras de adufe que a razão de ser desta diversidade se traduz na harmonia do instrumento e na maneira como ele soa. Este testemunho dá pistas para a iconografia mágica ligada ao instrumento, à sua construção e mesmo à sua utilização, que tradicionalmente era reservada a executantes femininos.
Também a sua forma quadrada, ao tornar mais difícil a manutenção da pele esticada, levanta questões sobre o carácter simbólico do instrumento e acentua a sua particularidade face ao "bendir" árabe ou ao "bodrum", seu congénere céltico.
Adufeiras notáveis
Catarina Chitas foi uma adufeira e cantadeira de renome, que viveu na Beira Baixa, tendo sido homenageada em 2005, pelos seus contributos para a arte e para a manutenção da cultura e tradições portuguesas.[6][7][8]
↑ abcBigotte de Carvalho, Maria Irene (1997). Nova Enciclopédia Larousse vol. 1. Lisboa: Círculo de Leitores. p. 106. 314 páginas. ISBN972-42-1477-X. OCLC959016748