Álvaro Borges dos Reis (Paramirim, 31 de julho de 1880 – Salvador, 6 de julho de 1932) foi um poeta, escritor, editor e médico-legista brasileiro.[1]
De entre suas obras destaca-se a publicação da coletânea Musa Francesa, em 1917, que colige noventa e nove poemas simbolistas franceses, os quais traduziu[1], sendo esta talvez a primeira edição de uma obra do gênero no país.[2]
Infância e juventude
Álvaro era o filho mais velho do professor Antônio Alexandre Borges dos Reis (literato e historiador, foi sócio-fundador da Academia de Letras da Bahia e do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia) e de D. Adelina Neves Borges. Seu pai lecionou em diversas cidades do interior baiano, razão pela qual o nascimento de Álvaro na sertaneja Paramirim: com isto granjeara experiência e fama que o habilitaram a fundar na capital do estado o Colégio Spencer, bastante acreditado.[1]
Além dele, o casal teve mais sete filhos: Eurico, Antônio, Celso, Raul, Anna, Maria Adelina e Maria Alexandrina. Vindo para Salvador ainda criança junto com sua família, todos passaram a morar na chácara da Boa Vista, no bairro de Brotas - onde hoje é o bairro da Boa Vista de Brotas. Desde pequeno, estimulado pelo pai e pela vasta produção literária da litografia da família, ele adquiriu o gosto pela leitura.
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:"Ao meu pai, o modesto historiógrafo Professor Antônio Alexandre Borges dos Reis, em cujos livros aprendi a cultuar os grandes vultos e as gloriosas datas de minha terra".
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Aos 19 anos, matriculou-se na Escola Naval do Rio de Janeiro, onde ficou apenas por um ano.[1]
Vida médica
De volta a capital, passou a cursar Farmácia e Medicina na Faculdade de Medicina da Bahia, onde doutorou-se respectivamente em 1902 e em 1904,[1] na última defendendo tese sobre a importância da educação física para o desenvolvimento da sociedade brasileira (num dos trechos ele afirma: "É fato incontestável hoje a predominância em tudo dos anglo-saxões sobre os latinos e mais povos, não na boa constituição e fortaleza física, na ótima cultura e desenvolvimento intelectual como também na excelência moral, nas virtudes cívicas, no bom senso prático, na coragem, altivez e impassibilidade relativa com que lutam pela vida.", apontando como causa a falta de preparo físico, sobretudo na Bahia onde as mulheres eram especialmente sedentárias).[3]
Em 1905, começou a trabalhar no Instituto Médico-Legal Nina Rodrigues, onde só saiu na época de sua aposentadoria, 25 anos depois. Álvaro viajava por todo o Estado para realizar autópsias. Fora isso, atendia gratuitamente as pessoas humildes do bairro.
Dentre os estudos que realizou está a catalogação dos tipos de hímens existentes na Bahia, publicado em 1917.[4]
Vida intelectual
Data de 1901 a sua primeira produção literária, com o lançamento da Nova Revista, onde era diretor.[1] Nessa mesma revista, figuraram alguns nomes que viriam a ser expoentes na literatura, educação e etc, como Artur de Sales, Roberto Correia, Muniz Sodré, entre outros. Uma das poesias de Álvaro, publicadas na Nova Revista, assinada com o pseudônimo de Fabius, rendeu a ele elogios feitos pelo poeta Petion de Vilar (Egas Moniz Barreto de Aragão) e marca o início de uma grande amizade:
- "Ao Fabius - apesar de não conhecer o colega que tão modestamente se esconde atrás do pseudônimo de Fabius, tenho a satisfação de abraçá-lo pela formosa poesia Num Baile (Nova Revista, pág. 17), que revela cabal conhecimento da música do decassílabo e do colorido adequado dos epítetos unido ao pitoresco da ideia. - Aceite Fabius, portanto, os meus cordiais e sinceros parabéns pelo seu humoresco, augurando-lhe brilhante sucesso no gênero celebrado por W. Irving, J. P. Richter, Quincey e Heine - Vorwarts! Em nome da poesia - 26 de novembro de 1902".[5]
Na mesma época, Álvaro iniciou seu trabalho de tradução de poesias, especialmente as francesas. Logo, passou a colaborar com uma das principais agremiações literárias da época, a Revista Grêmio Literário, como redator-secretário (1904-1905). Seu pai, Antônio Alexandre, também colaborava com a revista como tesoureiro.
Em 1904 publicou seu primeiro livro, "Estudantinas". Tendo como principais influências B. Lopes e Cruz e Souza, o livro revela uma unidade lírica, mesmo que algumas extravagâncias possam ser encontradas. O livro mereceu aplausos de Petion de Vilar e do Dr. Adriano Xavier Cordeiro, no Anuário de 1906, de Lisboa:
- "O Sr. Álvaro Reis faz com que este volume a sua estréia poética. Afirma-se, entretanto, não um principiante, mas um destro manejador da rima e do metro, sem hesitações, com um vocabulário rico, adjetivando com muita propriedade, usando das imagens com generosidade e esplendor, mas ao mesmo tempo com uma sobriedade e um perfeito equilíbrio de espírito superior e de fino trato (…)"[6]
Em 1911, participou da revista "Os Anais" no cargo de Presidente. Em seu livro seguinte, "Pátria"(1914), Álvaro apresenta uma série de sonetos inspirados por um forte sentimento patriótico, falando desde a Invasão Holandesa até a Guerra do Paraguai. Com isso, ele deixou de explorar diversos filões presentes em "Estudantinas", deixando de lado o romantismo e o simbolismo para dedicar-se ao parnasianismo - fato que não foi tão bem aceito pela crítica.
Tendo em Louise, sua esposa nascida na França, sua inspiração, ele lança em 1917 o livro que viria a ser considerado sua maior contribuição literária e que é, até hoje, estudado por aqueles interessados em poesias francesas: MUSA FRANCESA (1917). O livro é uma tradução de 99 poesias francesas e uma versão para o francês de um poema do amigo Petion de Vilar (que prefaciou o livro). Entre os poetas escolhidos, estão Charles Baudelaire (com celebradas traduções dos poemas Uma Carniça, O albatroz e Tonel de Ódio), Victor Hugo, Heredia, Theóphile Gautier, Sully Prudhome, entre outros.
Entusiasmado por uma conferência de Coelho Neto, em 1923, Álvaro escreve e lança no mesmo ano o livro "Beijo das Raças". Nesta obra, o autor conta suas impressões ao visitar Porto Seguro em 1900.
Editor
Álvaro ainda encontrava tempo para trabalhar na litografia da família, a Lito-Tipografia Reis & C, estabelecida na Rua Manuel Victorino, nº 23 e 25, que funcionava como editora e livraria. Lá foram impressos livros de importantes autores da época, como L'animisme fétichiste des negres de Bahia e o Manual de autópsia médico-legal, de Nina Rodrigues; o Atlas Geográfico, de Teodoro Sampaio; a Nova Seleta Inglesa, de Guilherme Rebelo; Estudos de sociologia e psicologia criminal, de Aurelino Leal; Folhas, de Roberto Correia, além de seus próprios livros e as revistas Nova Cruzada e Grêmio Literário.
Últimos anos
Álvaro teve diversos problemas de saúde, como polinefrite, e veio a falecer em 6 de julho de 1932, aos 51 anos, deixando esposa - Louise Charlotte Picard Borges dos Reis - e uma filha - Yvonne, com 20 anos na época.
Álvaro Borges dos Reis foi homenageado com o nome em rua da cidade de São Paulo.
Obras literárias
Livros e publicações de Álvaro Reis:[1]
- Estudantinas (1904)
- Pátria (1914)
- Musa Francesa (1917)
- Lusitânia (1922)
- Beijo das Raças (1923)
Outros textos: - Horas Vagas, Cantos Militares, Estudos e Impressões, Sonho do Canhão, A Virgem, Yvonne, Num Baile
Colaborou com:
- Nova Revista – 1901 – Fundador – Presidente de 1905 a 1912
- Revista Os Anais – 1911 – Presidente
- Revista Nova Cruzada
- Jornal do Povo
- Diário da Bahia
- Revista Grêmio Literário
- Revista Bahia Ilustrada
Referências
Ligações externas